|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRIME ORGANIZADO
Outros seis policiais são citados em gravação de conversa entre traficante e a Polícia Federal
Delegado do RJ é afastado por extorsão
ELVIRA LOBATO
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio
Uma conversa telefônica em que o
traficante Luiz Fernando da Costa, o
Fernandinho Beira-Mar, relata ao delegado federal Aldeir Bório as extorsões que teria sofrido provocou o afastamento, pelo governo
do Rio, de seis policiais e do delegado Cláudio Góes, da cúpula da
Polícia Civil.
A Corregedoria de Polícia Civil
abriu inquérito para apurar o suposto envolvimento de Góes e da
equipe que ele comandava na
DRE (Delegacia de Repressão a
Entorpecentes) da Polícia Civil
em extorsões contra Beira-Mar. O
dossiê entregue ontem à CPI do
Narcotráfico pelo governador do
Rio, Anthony Garotinho (PDT),
transcreve a conversa entre Beira-Mar e o delegado Bório, chefe da
DRE da Polícia Federal no Rio.
No telefonema, grampeado
com ordem da Justiça Federal,
Beira-Mar detalha as extorsões,
supostamente praticadas por policiais da DRE da Polícia Civil, comandada por Góes em 98.
Relatório
Baseada na fala de Beira-Mar e
em investigações sobre o tráfico
no Estado, a Superintendência da
Polícia Federal no Rio preparou
relatório em que acusa policiais
civis de montarem um esquema
milionário de extorsão contra traficantes de drogas.
O relatório integra o dossiê entregue por Garotinho aos deputados da CPI do Narcotráfico.
A conversa de cerca de 20 minutos entre Beira-Mar e Bório ocorreu em outubro.
Segundo a Folha apurou, Bório
foi procurado por um advogado
do traficante. O advogado disse
que o traficante Beira-Mar gostaria de relatar o envolvimento de
policiais nas extorsões.
O delegado aceitou falar com o
traficante, mas, para se prevenir,
obteve autorização judicial para
gravar a conversa.
Nela, Beira-Mar afirma que era
constantemente extorquido por
policiais da DRE, citando seis deles. O traficante também admitiu
depor na CPI do Narcotráfico, o
que foi comunicado pelo delegado ao deputado Wanderlei Martins, sub-relator da comissão e
também delegado federal.
O relatório da PF seguiu para a
Secretaria Estadual da Segurança
Pública na semana passada.
Punições
Na última sexta-feira, começaram as punições. O delegado Góes
foi afastado da coordenação das
delegacias especializadas da Polícia Civil. A Folha tentou ouvi-lo
ontem. Ele não foi localizado. O
chefe de Polícia Civil, Carlos Alberto D'Oliveira, o defendeu.
"Eu o afastei para preservá-lo.
Não há indícios de que ele tenha
participado (das extorsões). Tudo
está no condicional. Não vamos
fechar os olhos para nenhuma indignidade, mas o temos em alta
conta", disse D'Oliveira.
O governador do Rio, Anthony
Garotinho, entregou à CPI um
dossiê de quatro volumes, com
nomes de policiais civis e militares envolvidos com o tráfico, além
da ramificação do tráfico em todos os Poderes.
Sem querer, o governador revelou o nome do delegado Cláudio
Góes como um dos suspeitos de
envolvimento com Beira-Mar.
Barra da Tijuca
O governador disse que afastou
o delegado após saber pela Polícia
Federal que Góes e policiais de
sua equipe na DRE teriam recebido R$ 340 mil e um apartamento
na Barra da Tijuca -um dos
bairros mais valorizados do Rio,
na orla da zona sul- de Beira-Mar. Garotinho confirmou a existência da fita com a conversa telefônica obtida pela PF.
Minutos depois, o governador
recuou e afirmou que o delegado
não está sendo investigado. À tarde, o governo divulgou nota inocentando Góes, mas acusando os
seis policiais.
Questionado sobre a razão de o
governo não prender os policiais
acusados, já que conhecia os nomes, Anthony Garotinho respondeu que desmontar "o esquema
não é fácil".
Texto Anterior: Covas apóia governador do PA Próximo Texto: Doleiro libanês acusado de lavagem de dinheiro é preso Índice
|