São Paulo, Sexta-feira, 05 de Novembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRIME ORGANIZADO
Outros seis policiais são citados em gravação de conversa entre traficante e a Polícia Federal
Delegado do RJ é afastado por extorsão

ELVIRA LOBATO
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio


Uma conversa telefônica em que o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, relata ao delegado federal Aldeir Bório as extorsões que teria sofrido provocou o afastamento, pelo governo do Rio, de seis policiais e do delegado Cláudio Góes, da cúpula da Polícia Civil.
A Corregedoria de Polícia Civil abriu inquérito para apurar o suposto envolvimento de Góes e da equipe que ele comandava na DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) da Polícia Civil em extorsões contra Beira-Mar. O dossiê entregue ontem à CPI do Narcotráfico pelo governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), transcreve a conversa entre Beira-Mar e o delegado Bório, chefe da DRE da Polícia Federal no Rio.
No telefonema, grampeado com ordem da Justiça Federal, Beira-Mar detalha as extorsões, supostamente praticadas por policiais da DRE da Polícia Civil, comandada por Góes em 98.

Relatório
Baseada na fala de Beira-Mar e em investigações sobre o tráfico no Estado, a Superintendência da Polícia Federal no Rio preparou relatório em que acusa policiais civis de montarem um esquema milionário de extorsão contra traficantes de drogas.
O relatório integra o dossiê entregue por Garotinho aos deputados da CPI do Narcotráfico.
A conversa de cerca de 20 minutos entre Beira-Mar e Bório ocorreu em outubro.
Segundo a Folha apurou, Bório foi procurado por um advogado do traficante. O advogado disse que o traficante Beira-Mar gostaria de relatar o envolvimento de policiais nas extorsões.
O delegado aceitou falar com o traficante, mas, para se prevenir, obteve autorização judicial para gravar a conversa.
Nela, Beira-Mar afirma que era constantemente extorquido por policiais da DRE, citando seis deles. O traficante também admitiu depor na CPI do Narcotráfico, o que foi comunicado pelo delegado ao deputado Wanderlei Martins, sub-relator da comissão e também delegado federal.
O relatório da PF seguiu para a Secretaria Estadual da Segurança Pública na semana passada.

Punições
Na última sexta-feira, começaram as punições. O delegado Góes foi afastado da coordenação das delegacias especializadas da Polícia Civil. A Folha tentou ouvi-lo ontem. Ele não foi localizado. O chefe de Polícia Civil, Carlos Alberto D'Oliveira, o defendeu.
"Eu o afastei para preservá-lo. Não há indícios de que ele tenha participado (das extorsões). Tudo está no condicional. Não vamos fechar os olhos para nenhuma indignidade, mas o temos em alta conta", disse D'Oliveira.
O governador do Rio, Anthony Garotinho, entregou à CPI um dossiê de quatro volumes, com nomes de policiais civis e militares envolvidos com o tráfico, além da ramificação do tráfico em todos os Poderes.
Sem querer, o governador revelou o nome do delegado Cláudio Góes como um dos suspeitos de envolvimento com Beira-Mar.

Barra da Tijuca
O governador disse que afastou o delegado após saber pela Polícia Federal que Góes e policiais de sua equipe na DRE teriam recebido R$ 340 mil e um apartamento na Barra da Tijuca -um dos bairros mais valorizados do Rio, na orla da zona sul- de Beira-Mar. Garotinho confirmou a existência da fita com a conversa telefônica obtida pela PF.
Minutos depois, o governador recuou e afirmou que o delegado não está sendo investigado. À tarde, o governo divulgou nota inocentando Góes, mas acusando os seis policiais.
Questionado sobre a razão de o governo não prender os policiais acusados, já que conhecia os nomes, Anthony Garotinho respondeu que desmontar "o esquema não é fácil".


Texto Anterior: Covas apóia governador do PA
Próximo Texto: Doleiro libanês acusado de lavagem de dinheiro é preso
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.