|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TERCEIRO MUNDO
Em Angola, presidente diz que bandidos estão ficando desaforados
Lula defende Estado duro e vê crime infiltrado até na Justiça
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A ANGOLA E MOÇAMBIQUE
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem que o crime organizado no Brasil está infiltrado
na Justiça, na política, nas empresas e na sociedade civil em geral.
Segundo ele, "os bandidos estão
ficando desaforados" e o Estado
"tem de ser duro".
"Nós sabemos que no Brasil há
uma parte do crime organizado ligada a vários setores da sociedade. O crime organizado é mais difícil de combater porque tem o
seu braço político, o seu braço judiciário, o seu braço empresário,
o seu braço da sociedade civil",
disse Lula, numa entrevista coletiva em Luanda (Angola).
Foi uma reação às últimas ações
dos bandidos, que resultaram na
morte de dois policiais em São
Paulo e foram atribuídas pelo secretário da Segurança Pública do
Estado, Saulo de Castro Abreu, à
organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Para o presidente, essas ações
não são apenas esporádicas, mas,
ao contrário, estão se transformando numa "provocação feita
habitualmente no Brasil".
"Tenho acompanhado pela imprensa e tenho visto que os bandidos têm ficado desaforados. Eles
têm desafiado o Estado e eu acho
que o Estado tem de ser duro",
disse. Em seguida, defendeu que
"o Estado precisa manter prisões
em que proíba que os bandidos
tenham privilégios".
A declaração de Lula sobre a infiltração do crime toca num ponto que já suscitou polêmica -a
Justiça. Lula já defendeu o controle externo do Judiciário, no qual
disse haver uma "caixa-preta", e
apoiou uma inspeção da ONU no
Poder. Os magistrados reagiram.
"A questão da segurança pública no Brasil é um problema muito
delicado", continuou ele, ao lado
do presidente de Angola, José
Eduardo dos Santos, que na véspera o chamara de "porta-voz"
dos pobres de todo o mundo.
Segundo Lula, o Ministério da
Justiça tem atuado corretamente,
construindo "a base sólida" para
uma boa política de segurança
pública no Brasil: "É preciso ter a
polícia mais inteligente, mais preparada, que é isso que estamos fazendo para combater esses crimes
que acontecem no Brasil".
Ele se disse "convencido de que
a política que está sendo levada
adiante pelo Ministério da Justiça
é coerente", pois estão sendo criados grupos de inteligência e grupos especiais. Acrescentou que
foram assinados 27 convênios
com os Estados para uma integração de ação das polícias Federal,
Militar e Civil, para o combate
conjunto do crime organizado.
Segundo o presidente, agora é
preciso mudar também o sistema
prisional brasileiro: "Precisa mudar praticamente todo o sistema
carcerário para que quem esteja
preso não possa, de dentro da cadeia, organizar o que aconteceu
ontem [segunda-feira passada], o
que aconteceu em outros momentos da nossa história".
O discurso do presidente ontem
em Angola foi marcado pela defesa da criação de uma instituição
financeira internacional para promoção do desenvolvimento de
países pobres da América Latina,
da Ásia e da África. O BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) integraria esse órgão, que seria responsável pelo financiamento de
obras de infra-estrutura nesses
países (leia texto nesta página).
Lula viajou ontem mesmo para
Maputo, Moçambique, onde chegou por volta das 18h (14h em
Brasília). No aeroporto, ele e sua
mulher, Marisa, ensaiaram alguns
passos de dança africana com
uma moçambicana. Depois, o
presidente visitou o Centro de Estudos Brasileiros, para o lançamento do livro "Brasil-África, como se o Mar Fosse Mentira".
As jornalistas Eliane Cantanhêde e
Marlene Bergamo fazem a parte interna da viagem à África no avião reserva
da Presidência, por falta de opções de
vôos comerciais compatíveis com o roteiro do presidente Lula
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Futebol de resultados: Angolanos criam "timão" para Lula Índice
|