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São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

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Segundo o Ministério Público Federal, a Polícia Federal já tem indícios suficientes para solicitar até quebra de sigilos de magistrados

Para procurador, há prova para prender juízes

IURI DANTAS
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Procuradores do Ministério Público Federal consideram que a Polícia Federal já teria reunido provas suficientes para pedir a prisão preventiva dos juízes federais Casem e Ali Mazloum, ambos denunciados na Operação Anaconda. O primeiro, por formação de quadrilha, falsidade ideológica e interceptação ilegal de telefone. O segundo, por formação de quadrilha, ameaça e abuso de poder.
O também juiz federal João Carlos da Rocha Mattos já havia tido a sua prisão preventiva requerida pelo Ministério Público. Ele foi denunciado por formação de quadrilha, falsidade ideológica, peculato (apropriação de bens por funcionário público), prevaricação e corrupção passiva.
Na avaliação dos procuradores, segundo apurou a Folha, as provas são suficientes para pedir a quebra de sigilo fiscal e bancário dos três juízes. A intenção é cruzar informações sobre as sentenças -que supostamente favoreceram empresas- e eventuais depósitos nas contas bancárias dos magistrados.
Depois de passar a tarde na Polícia Federal, em Brasília, os procuradores convenceram-se de que a quadrilha, da qual supostamente fariam parte os irmãos Mazloum e Rocha Mattos, negociava a venda das sentenças.
Os três, e mais um outro magistrado cuja identidade ainda está sendo mantida em sigilo, operariam inclusive nas regiões Norte e Nordeste do país.
Na avaliação do Ministério Público, segundo a Folha apurou, a ex-auditora da Receita Federal e ex-mulher de Rocha Mattos, Norma Regina Emílio Cunha, presa na semana passada, atuava como caixa da organização criminosa. Por esse motivo é que havia US$ 550.549 e dois quilos de ouro em barra em sua casa, em São Paulo.

Próximos passos
Duas procuradoras federais de São Paulo, Ana Lúcia Amaral e Janice Ascari, chegaram ontem a Brasília para discutir com o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, os próximos passos da chamada Operação Anaconda. As duas informaram a Lacerda que foram apreendidas fitas com conversas gravadas relativas ao caso de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André (ABC paulista), assassinado em janeiro de 2002.
A reunião concluiu pela necessidade de prosseguir a coleta de provas contra os três juízes.
Na semana passada, a Polícia Federal deu início à fase operacional da Operação Anaconda, cujas investigações tiveram início há um ano e nove meses. Foram presas, em São Paulo e Maceió, oito pessoas e apreendidos 1.300 kg de documentos e 30 computadores.

Crise
A reunião das procuradoras paulistas com Lacerda também teve como objetivo amenizar a crise política deflagrada na polícia depois do início das prisões. O superintendente da PF em São Paulo, Francisco Baltazar, desconhecia a amplitude da operação e afirmou ter se sentido traído. Chegou a chorar numa cerimônia ocorrida anteontem.
Para aliviar o desconforto de Baltazar, que foi segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que tem fortes ligações com o PT, o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) almoçou com ele anteontem. Para o Planalto, o mal-estar já foi resolvido, e o assunto está encerrado.


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