São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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QUESTÃO MILITAR

Na Defesa, Alencar terá de resolver ainda questões ligadas ao setor aéreo, ao soldo dos militares e ao Haiti

Arquivos do regime serão problema para vice

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O vice-presidente José Alencar (PL-MG) vai encontrar pela frente problemas sérios para resolver quando assumir a pasta da Defesa, na próxima segunda-feira. São problemas que o próprio ministro José Viegas considerava complexos. A saber:
1) Arquivos da ditadura: pivô da queda de Viegas, a questão do relacionamento do Exército com seu período ditatorial (1964-1985) será um delicado tema para Alencar. Há pressão no PT, de setores do governo e da sociedade civil para a abertura de arquivos secretos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prefere algo mais comedido e o Congresso está analisando o tema, que deverá ficar em pauta.
2)Setor aéreo: as negociações para a reestruturação do setor aéreo e de sua maior companhia, a Varig, se arrastam desde o começo de 2003. A Defesa, que regula o setor, estava analisando a edição de uma medida provisória para socorrer a Varig. De quebra, a Vasp vem enfrentando problemas quase diários.
3) Haiti: as tropas brasileiras que lideram a força de paz da ONU no país caribenho estão enfrentando dificuldades, especialmente porque os outros países que haviam prometido ajuda e soldados não colaboraram plenamente. Mais: a autorização para permanência tem de ser renovada pelo Congresso em dezembro, e a oposição já avisou que não vai facilitar a vida do governo.
"Nós votaremos contra a renovação assim como votamos contra o envio das tropas. Não se pode partir para uma ação militar em outro país sem ter a idéia de como vai sair. O problema do Haiti é menos militar do que organizacional", afirmou ontem o deputado José Carlos Aleluia (BA), líder do PFL na Câmara.
4) Caças da FAB: Alencar terá que tomar decisões sobre a polêmica compra de caças para a Força Aérea. Novela em curso desde 2001, o negócio de US$ 700 milhões sofre adiamentos sucessivos por pressões de diversos setores -a Embraer, maior empresa aeronáutica do país, faz lobby por seu produto, o francês Mirage-2000. Os russos da Sukhoi, preferidos tecnicamente e associados à brasileira Avibrás, receberam visita de Alencar no mês passado. Suecos também estão na disputa.
Todos os concorrentes se acusam mutuamente de lobby predativo. O problema maior é o tempo: os Mirage atuais serão aposentados em 2005, e soluções alternativas como aluguel de aviões de segunda mão são estudadas.
5) Soldo e falta de equipamento: as Forças Armadas estão obsoletas em quase sua totalidade, e reequipamento é uma prioridade. Viegas conseguiu colocar alguns programas em curso, mas de forma geral o orçamento de R$ 5,2 bilhões em 2005 só dá para o custeio. Houve uma desgastante discussão sobre reajuste, que deverá ser renovada no ano que vem.
6) A questão nuclear: há uma controvérsia entre o governo brasileiro e a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) sobre inspeções nas centrífugas da usina de enriquecimento de urânio em Resende (RJ). O Brasil diz que o objetivo da usina é pacífico e se recusa a permitir "inspeção visual" nas chamadas ultracentrífugas -principal maquinário da fábrica, desenvolvidas com tecnologia brasileira. A AIEA e o governo dos Estados Unidos pressionam por uma inspeção mais completa.
Além dos listados, há várias questões que precisam de análise permanente da pasta, como a Amazônia, principal ponto de atenção geoestratégica do país.
(IGOR GIELOW E RANIER BRAGON)


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