São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2005

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VÔO DA ÁGUIA

Consenso de Washington prejudicou países da América do Sul, afirma ensaio do Instituto de Política Econômica

Neoliberalismo reduz eficiência, diz estudo

France Presse
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, crítico do Consenso


MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O Consenso de Washington mina a consolidação econômica dos países da América do Sul, reduzindo sua média de produtividade, e os líderes políticos que estão reunidos em Mar del Plata, cidade litorânea argentina que sedia a 4ª Cúpula das Américas, devem acordar mudanças nas diretrizes econômicas continentais para dar alento à economia de seus países, de acordo com estudo publicado anteontem pelo Instituto de Política Econômica (Washington).
"As conclusões de meu texto não constituem uma novidade, mas é importante ressaltá-las neste momento porque o tema da cúpula é "Criar Empregos para Combater a Pobreza e para Fortalecer a Governança Democrática". Ora, se têm realmente a veleidade de lutar contra o desemprego, os líderes das Américas devem perceber que uma alteração drástica das diretrizes econômicas é imprescindível", explicou à Folha Josh Bivens, autor do estudo.
"Também é crucial provar que a associação entre a aplicação dos preceitos do Consenso de Wa- shington e um automático crescimento econômico é falaciosa. Afinal, os números mostram que, desde 1985, quando a rigidez fiscal e as privatizações passaram a ser incontornáveis em boa parte da América do Sul, a produtividade simplesmente declinou na região", acrescentou o economista.
Segundo ele, a idéia dos líderes políticos das Américas de pôr o combate ao desemprego no centro de um encontro tão relevante é "bem-vinda, contudo ela se traduzirá num fracasso se não houver um claro consenso de que se precisa de uma quebra da ortodoxia econômica que reina na América Latina nas últimas décadas".
Os parâmetros exatos do Consenso de Washington variam bastante, dependendo de quem comenta o tema. Todavia há certas medidas que compõem sua filosofia central: austeridade e reforma fiscais, privatizações (incluindo a compra de empresas e de recursos nacionais por parte de grupos estrangeiros), diminuição da regulamentação dos mercados financeiro, de trabalho e de produtos e a liberalização do comércio.
"Essas políticas foram, em muitos casos, impostas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional. Não cabe a nós apontar quais medidas devem ser aplicadas pelos países para assegurar um maior crescimento econômico. No entanto devemos defender o direito de cada Estado de definir suas próprias diretrizes. Todos precisam de margem de manobra para poder encontrar a melhor solução", avaliou Bivens.
Um exemplo do fracasso do Consenso de Washington, de acordo com ele, é revelado pelas estatísticas da produtividade (PIB -total de riquezas- por trabalhador) em dez países sul-americanos: Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Paraguai, Uruguai e Venezuela.
A produtividade apresentou, nesses países, crescimento médio de 2,8% de 1951 a 1975. Por outro lado, de 1985 a 2000, período em que "imperou o Consenso de Washington na América do Sul", os níveis de produtividade sofreram declínio e atingiram uma média anual de apenas 0,37%.


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