São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2005

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Maradona chama Bush de lixo humano

ENVIADA ESPECIAL A MAR DEL PLATA

Diego Maradona não fala de geopolítica ou de livre comércio, mas isso não importa. O importante é que o maior ídolo argentino chamou George W. Bush de "lixo humano" antes de subir a bordo do "Expresso da Alba", um trem "de luxo" que partiu na noite de quinta-feira de Buenos Aires com destino aos protestos anti-EUA em Mar del Plata.
Cinco vagões, fretados por partidos e organizações de esquerda, em parte ligados ao governo Néstor Kirchner, foram ocupados pelo ex-jogador, ladeado pelo cineasta sérvio Emir Kusturica, que grava um documentário sobre ele; por Evo Morales, líder cocaleiro boliviano; e a nata da esquerda festiva do país -jornalistas consagrados, atores de TV e cantores.
Todos, exceto Maradona, dispostos a falar de exploração imperialista e elogiar a coragem do venezuelano Hugo Chávez, mentor da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas, anti-Alca).
O que significa a presença do craque, já que ele não discute Alca ou Alba?, perguntou a Folha, que seguiu viagem com as estrelas. "Significa a chegada imediata e direta ao coração do povo", disse Miguel Bonasso, deputado argentino e um dos organizadores do "Expresso da Alba". Não despolitiza? "Vai ser manchete mundial. O diário de Nápoles vai estampar: Maradona chamou Bush de lixo". Foi-se o tempo em que a esquerda criticava a cooptação de corações. Além das palavras de ordem, é preciso espetáculo.
O ex-jogador causou tumulto na coletiva de imprensa, ainda em Buenos Aires, onde o esperavam torcedores do Boca Juniors. Fez piada, disse que "arrancaria a cabeça de Bush". Vestido com uma camiseta com a frase "Stop Bush", trocou de figurino para passear pelos cinco vagões do trem. Parte dos 50 jornalistas a bordo -entre 200 passageiros- se espremiam para acompanhá-lo.
Maradona está em todas: na Cúpula das Américas, no noticiário de TV e até na discussão sobre se assumirá ou não cargo técnico na seleção argentina. Mesmo no noticiário político, a sombra da comparação com Pelé não o larga: "Boa a participação de Maradona. Melhor que Pelé, que se aliou à ditadura brasileira", disse um cubano a uma agência de notícias.
O trem seguiu para chegar às 6h20 da manhã de ontem a Mar del Plata (400 km de Buenos Aires), depois de 22 estações e mais de seis horas viagem. Na estação, mais torcedores do Boca, mais bandeiras governistas. Esperado na marcha contra Bush, Maradona sai de cena, por questões de segurança. Ele não participou das manifestações no local. (FM)


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