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Lula não detalha idéias para temas-chave
Presidente não divulgou programas de governo para áreas como segurança pública, defesa, Previdência e reforma política
Equipe debita silêncio sobre
assuntos a falta de tempo;
entre textos não divulgados
está o sobre emprego, que
foi coordenado por Bargas
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A campanha de Luiz Inácio
Lula da Silva terminou sem a
divulgação de propostas detalhadas para áreas que o presidente prometeu que seriam
prioritárias num segundo mandato, como segurança pública,
geração de empregos, reforma
política e combate à corrupção.
A "agenda perdida" de Lula
tem no total 11 temas, que não
tiveram programas de governo
específicos lançados. Cada um
recebeu apenas uma breve
menção, de poucos parágrafos,
no texto-síntese do programa,
lançado no final de agosto.
A segurança é um exemplo,
merecendo cerca de uma página. Em comparação, a pesca teve caderno próprio com propostas, de 24 páginas. Na esteira dos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) em São
Paulo, no primeiro semestre, a
campanha de Lula prometeu
um documento com propostas
ambiciosas, formatado com a
participação de cerca de 50 especialistas. A coordenação ficou a cargo do sociólogo José
Vicente Tavares, que disse à
Folha, há três semanas, que o
documento estava "pronto para ir para a gráfica". Mas o texto
não saiu.
A reforma política, alardeada
como uma das maiores prioridades de Lula, é outro exemplo.
A primeira idéia era elaborar
um caderno com propostas.
Depois se prometeu um curto
manifesto de intenções. Nem
isso foi divulgado.
O combate à corrupção acabou rebaixado, apesar dos escândalos que o governo enfrentou. Em 2002, o tema mereceu
um caderno específico -coordenado pelo ex-ministro José
Dirceu. Agora as propostas ficaram espremidas em meia página do subitem "reforma do
Estado", no texto-base.
Silêncio opcional
Alguns itens a campanha de
Lula evitou porque não queria
mexer em vespeiros, como a
Previdência, que divide o PT
em uma ala que quer uma nova
reforma e outra que pretende
combater o déficit apenas com
medidas administrativas.
Já no caso do programa sobre
geração de empregos, a não-divulgação poupou o partido de
um constrangimento. O texto
teve a coordenação de Oswaldo
Bargas, um dos envolvidos na
crise do dossiê.
Outras áreas que ficaram no
meio do caminho foram defesa,
desenvolvimento regional, economia, Justiça, política externa
e povos indígenas.
Sem tempo
A campanha de Lula debita o
problema à falta de tempo.
"Não demos conta de concluir a
revisão dos demais programas.
Em qualquer caso, trata-se de
detalhamento do que está no
programa geral", diz Valter Pomar, um dos integrantes da comissão de programa de governo petista. Segundo ele, o programa de segurança pública
ainda será divulgado, mesmo
com a eleição já terminada.
A elaboração do programa de
governo teve vários percalços.
Em junho, foram criadas 32 comissões temáticas, e a promessa de Marco Aurélio Garcia,
coordenador do trabalho, era
que quase todas teriam cadernos com propostas específicas.
Os cadernos complementariam o texto-síntese. A crise do
dossiê, que estourou em 15 de
setembro, paralisou a campanha durante semanas, e o próprio Garcia praticamente abandonou a tarefa no meio do caminho, após ser alçado emergencialmente a presidente do
PT, em substituição a Ricardo
Berzoini, afastado por suspeita
de envolvimento na compra do
dossiê contra tucanos.
Escaldado com números que
prometeu em 2002 e que não
conseguiu cumprir -como fazer o país crescer em média 5%
ao ano, dobrar o salário mínimo
e criar 10 milhões de empregos-, Lula desta vez optou pelo
tom genérico, sem dar detalhes
numéricos de suas propostas.
Enquanto quatro anos atrás
o partido lançou idéias novas,
como a do Fome Zero, desta vez
os documentos de campanha
foram recheados de promessas
de prosseguir, continuar e expandir ações já existentes.
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