São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSIÇÃO

Petista diz que se elegeu "prometendo mudança na política econômica"

Lula volta a rejeitar Armínio; nome do BC segue indefinido

Junior Lago/Futura Press
O presidente eleito, Lula, desembarca no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, após chegar de viagem que fez ao Chile e à Argentina


JULIA DUAILIBI
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), voltou ontem a descartar a possibilidade de manter no cargo o atual titular do Banco Central, Armínio Fraga. A indefinição em torno da nomeação do futuro presidente do Banco Central foi um dos motivos para o nervosismo no mercado financeiro ontem. O dólar fechou a R$ 3,72, com alta de 0,81%.
A indecisão sobre quem será indicado para o Banco Central é um dos principais entraves ao anúncio da nova equipe, uma vez que o desejo de Lula é divulgá-la toda de uma única vez. A exposição do cargo de presidente do BC em um momento de crise é um dos motivos que levam o PT a enfrentar dificuldades de achar um nome para a função.
Nos últimos dias, o preferido era o economista Pedro Bodin de Moraes, que preside o banco Icatu. Segundo a Folha apurou, Palocci achava muito difícil que Bodin aceitasse o cargo. O PT já sondou outros nomes do mercado financeiro, entre eles o presidente do ABN-Amro no Brasil, Fábio Barbosa, que recusou.
Além da dificuldade de encontrar um nome, o PT corre contra o relógio: o final da semana que vem é o limite para que o Senado sabatine o nomeado por Lula.
Se o impasse não for solucionado até lá, o jeito será manter Fraga na presidência do BC, ainda que por um breve período no início do novo governo.
Ontem, em Brasília, o presidente do PT, José Dirceu, afirmou que não há divergências dentro do partido, entre ele e o coordenador da transição, Antônio Palocci Filho, sobre nomes para a diretoria do BC. E disse ainda que não é certo que Lula vá divulgar os nomes hoje ou amanhã.
Ao chegar a São Paulo, no início da tarde, após viagem pela Argentina e pelo Chile, Lula reuniu a imprensa, ainda no aeroporto de Guarulhos, para criticar o que chamou de "especulações": "Não tenho nada contra ninguém. Acho o Armínio [Fraga] uma figura competente, mas nós nos elegemos prometendo mudança na política econômica e um outro rumo para o país".
Ontem, após reunião no FED (banco central dos EUA), em Washington, Fraga não deu declarações à imprensa.
Lula negou que haja dificuldade em encontrar um titular para a presidência do BC. "Não estou com dificuldade nenhuma. Todas as pessoas que procurei até agora eu já encontrei", disse. "Não vou fazer ministério subordinado a pressões."

Executiva
Gilberto Carvalho, assessor de Lula, afirmou ontem que o petista só deve divulgar os nomes do futuro ministério após apresentar a lista à Executiva do partido. "É de praxe", afirmou Carvalho.
A Executiva do partido, formada por 31 integrantes da cúpula do PT, deve se reunir nesta sexta-feira. A tendência é que, a fim de evitar vazamentos, Lula divulgue os nomes de sua equipe logo após essa reunião.
O porta-voz do PT, André Singer, não confirmou a informação dada por Carvalho de que Lula comunicará à Executiva do partido os nomes de seu ministério antes de torná-lo público.
Além da reunião da Executiva, Lula afirmou ontem que pretende, de qualquer maneira, anunciar o nome da sua equipe antes da viagem para os Estados Unidos, que fará na próxima terça-feira. "Isso pode acontecer amanhã ou depois", disse.
O presidente eleito reuniu-se no final da tarde de ontem, no escritório de transição de São Paulo, com o presidente nacional do PT, José Dirceu, e com o coordenador da equipe de transição, Antônio Palocci Filho. Além dos nomes sobre o novo governo, foi realizado um balanço da viagem de Lula nesta semana.

Presidentes
Lula irá encontrar-se hoje, em Brasília, com os presidentes do Uruguai, do Paraguai, da Bolívia e da Venezuela na Granja do Torto.
À noite, haverá um jantar no Palácio da Alvorada, em que estarão o presidente Fernando Henrique Cardoso e os presidentes dos países formadores do Mercosul e do Pacto Andino.
Também foi divulgada ontem a agenda de Lula em Washington, onde estará na próxima semana. O presidente eleito deve se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, George Bush, na manhã da próxima terça-feira. Estão previstos também encontros com parlamentares norte-americanos e com a maior central sindical do país, a AFL-CIO.


Colaborou MÁRCIO AITH, de Washington


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Lula diz não ter pressa em indicar nomes
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.