São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002

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CONGRESSO

Projeto proíbe membros do Ministério Público de divulgar dados sobre processos em andamento e recria foro privilegiado

Comissão do Senado aprova Lei da Mordaça

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O projeto de lei que proíbe membros do Ministério Público, magistrados e autoridades policiais de divulgar informações sobre processos em andamento -chamado de "Lei da Mordaça"- foi aprovado ontem na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, após ter sido incluído na pauta de forma inesperada, por articulação dos líderes governistas.
O projeto torna crime permitir que cheguem aos meios de comunicação fatos ou informações que violem o sigilo legal, a intimidade, a vida privada, a imagem e a honra das pessoas. A autoridade acusada da prática estará sujeita a penas de indenização, detenção de seis meses a dois anos, multa, perda do cargo e proibição de exercer função pública por três anos.
O vice-líder do governo, senador Romero Jucá (PSDB-RR), confirmou a pressa do governo Fernando Henrique Cardoso em aprovar a proposta, que teve tramitação polêmica na Câmara dos Deputados e estava parada na CCJ do Senado desde abril último. "Queremos deixar todos os assuntos possíveis aprovados até o fim do governo", disse.
Apesar da posição contrária de senadores do PT e de outros partidos da oposição, a CCJ aprovou requerimento para que o projeto da "Lei da Mordaça" seja votado no plenário em regime de urgência. A intenção dos governistas é aprová-lo na próxima semana.
O senador Jefferson Péres (PDT-AM) considerou o projeto um "retrocesso e uma violação do Estado democrático de Direito". Para ele, caso seja aprovada, a futura lei vai criar uma situação de privilégio numa sociedade desigual como a do Brasil: "o pé-de-chinelo que estiver sendo investigado vai ter tudo exposto. Os membros da elite, não".
Surpreendidas com a decisão da CCJ, entidades representativas do Ministério Público divulgaram notas protestando contra o projeto e pedindo que o Senado o rejeite no plenário.
"A postura da CCJ do Senado, ao aprovar malsinado projeto, representa o mais duro golpe recebido pela democracia brasileira desde a edição do Ato Institucional nš 5 -o AI 5-, em fins de 68. Ao instituir a "mordaça", pretende calar promotores e procuradores que, ao longo dos últimos anos, se firmaram como os maiores entraves à escalada da corrupção nas esferas do poder", diz nota da Conamp (Associação Nacional de Membros do Ministério Público).

Foro privilegiado
Uma das novidades do projeto é o estabelecimento de foro privilegiado para julgamento de autoridade pública acusada de praticar ato de improbidade administrativa. Atualmente, em caso de ação de improbidade, todos respondem em primeira instância.
Aprovada a "Lei da Mordaça", caberia ao STF (Supremo Tribunal Federal) julgar atos de improbidade de presidente da República e ministros de Estados. Ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) caberia julgar atos de governadores e secretários de Estado e ao Tribunal de Justiça, atos de prefeitos.
Também seriam beneficiados os ex-ocupantes do cargo. Essa pode ser uma explicação para a pressa do governo em aprovar o projeto, segundo o presidente da Conamp, Marfan Martins Vieira.
A ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) divulgou nota manifestando "repúdio e indignação" com a aprovação do projeto. (RAQUEL ULHÔA)


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