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VIAGEM AO ORIENTE
Iraquianos devem escolher seu próprio governo, diz nota
Lula e ditador sírio pedem
fim da ocupação do Iraque
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e o seu colega sírio, Bashar al
Assad, divulgaram ontem em Damasco um comunicado conjunto
no qual pedem o fim da "ocupação" do Iraque. No mesmo documento, falam sobre a necessidade
de o Iraque "escolher seu próprio
governo", numa crítica indireta
aos Estados Unidos, que comandam as ações naquele país.
Eis o trecho do comunicado
conjunto que fala sobre o Iraque:
"Quanto à deterioração da situação do Iraque, os dois presidentes
enfatizaram a necessidade de dar
passos acelerados com vistas à
transferência do poder para o povo iraquiano, pôr fim à ocupação
e conceder às Nações Unidas um
papel fundamental para que o povo iraquiano possa exercer sua soberania, escolher seu próprio governo e garantir a integridade de
seu território".
A Síria vive sob um regime ditatorial e mantém tropas desde o
fim da década de 80 no Líbano,
país sob seu virtual comando político. Hoje, há cerca de 20 mil soldados sírios em território libanês
-embora ambos governos declarem que a permanência das
tropas seja em comum acordo.
O termo ""ocupação", semanticamente correto, tem sido evitado
por instâncias diplomáticas, como a ONU (Organização das Nações Unidas). Em geral, a expressão é usada quando a ONU se refere a territórios ocupados por Israel e reclamados pela Autoridade
Nacional Palestina.
Indagado se a declaração conjunta de Lula e Assad, incluindo a
expressão "ocupação", não ficaria
próxima de uma confrontação
com os Estados Unidos, o ministro das Relações Exteriores do
Brasil, Celso Amorim, disse:
"Quando houve a guerra, não teve
autorização da ONU. Era uma
ocupação".
"É comum o termo "forças de
ocupação" na BBC e na CNN [redes de TV britânica e americana,
respectivamente]. A ocupação é
um fato. Nós não estamos dizendo que é legal ou ilegal", declarou
o ministro.
Em outras ocasiões, o presidente Lula se referiu de maneira mais
amena ao conflito no Iraque. Na
ONU, em Nova York, em setembro deste ano, o petista fez um
discurso com tom menos enfático
do usado em Damasco. "No Iraque, o clima de insegurança e as
tensões crescentes tornam ainda
mais complexo o processo de reconstrução nacional", disse.
"Estamos colocando um pé
aqui para desequilibrar a correlação de forças nesta região. A arte
do possível nunca se aplicou tão
bem a uma situação", diz o deputado João Hermann (PPS-SP),
membro da comitiva.
Israel e Líbano
Anteontem, o presidente havia
dado declarações enfáticas sobre
o conflito entre árabes e Israel,
embora repetindo posições já conhecidas. Por exemplo, Lula disse
que o Brasil votaria a favor da resolução da ONU que pede a devolução das colinas do Golã à Síria
-a votação ocorreu nesse dia.
Essa resolução é de 1967 e tem
de ser votada regularmente para
ser mantida. O Brasil é historicamente a favor. Lula usou sua passagem por Damasco para enfatizar o fato -além da coincidência
entre sua declaração e a votação
do texto serem no mesmo dia.
Também defendeu a criação do
Estado palestino e a limitação de
novos assentamentos judaicos em
áreas árabes.
Ontem, Lula viajou para o Líbano no meio da tarde. Esse é o segundo país de seu giro de nove
dias por nove nações árabes.
No Líbano, o presidente brasileiro foi menos peremptório ao
falar sobre Iraque. Depois de se
encontrar com o presidente Émile
Lahoud, ambos divulgaram um
comunicado conjunto. "Os dois
líderes [Lula e Lahoud] concordaram que a legitimidade internacional poderia garantir soluções
aplicáveis para o Iraque" foi a frase mais arrojada do documento.
Os repórteres FERNANDO RODRIGUES
e ALAN MARQUES viajam no avião do
governo nos deslocamentos do presidente pelos países árabes por falta de
opções de vôos comerciais para esta cobertura jornalística.
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