São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007

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Senador negocia saída e se diz "mais leve"

Renan anunciou renúncia à presidência com uma carta breve às 15h59 e deixou o Congresso afirmando estar "de alma lavada"

A saída definitiva do cargo foi negociada com aliados e emissários do Planalto na noite anterior e esfriou os ânimos de seus adversários

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em um gesto considerado decisivo para ser absolvido com folga no plenário, Renan Calheiros (PMDB) renunciou à presidência do Senado logo no início da sessão. Dizendo-se "mais leve", disse na tribuna que "condenar por simples suposição se reveste do mais enganoso e perverso dos erros".
O anúncio da renúncia, após 55 dias licenciado do cargo, foi feito às 15h59. Renan leu uma carta breve: "Presidir esta Casa é conseqüência das circunstâncias políticas. Quando tais circunstâncias perdem densidade, ameaçando o bom desempenho das atividades legislativas, é aconselhável deixar o cargo. Assim, renuncio ao mandato de presidente do Senado, sem mágoas ou ressentimentos, de cabeça erguida".
Pediu desculpas por não ter renunciado antes. "Não adotei esse gesto antes pois, como disse e repeti várias vezes, isso poderia sugerir, naquele momento, uma aceitação das infâmias e das inverdades." Foi um banho de água fria na sessão, que ameaçava ficar tensa com os discursos dos adversários. Depois, foi abraçado por sete senadores numa fila puxada por José Sarney (PMDB-AP).
A seguir deu entrevistas nos corredores criticando o parecer de Jefferson Péres (PDT-AM), um texto "equivocado, para não chamar de indigno": "O que estava em jogo era a cadeira de presidente, tanto que ato contínuo se discute a sucessão".
A saída do cargo foi negociada na noite anterior com aliados e emissários do Palácio do Planalto. Pesou a opinião de Sarney de que sua permanência poderia reavivar a crise na Casa às vésperas de votar a CPMF e significaria a quebra de um acordo na base do governo.
Os sinais de que renunciaria ao cargo ontem surgiram cedo, quando uma caminhonete fez ao menos seis viagens até a residência oficial do presidente para levar suas roupas e objetos pessoais. Renan deverá ocupar um apartamento funcional.
Desta vez Renan não teve de mobilizar sua tropa de choque para buscar votos de última hora. Segundo aliados, ele apostou em acordo de bastidores com o PT de que, abrindo mão da cadeira, salvaria o mandato. Seus adversários admitem que a renúncia reverteu votos a seu favor. "A renúncia tirou a condição do embate pessoal", disse José Agripino (DEM-RN).
O discurso final de Renan começou às 19h36 e durou 55 minutos, 25 minutos a mais do que o limite fixado no regimento interno. Renan gesticulou muito, bateu contra a tribuna e exibiu a Constituição. Sua mulher, Verônica, estava na tribuna de honra. Ele atacou o autor das denúncias, João Lyra, de que ele usou laranjas para comprar rádios: "O Senado não pode se afastar de suas atribuições para se transformar em palco de disputas paroquiais e receptáculo de armações de inimigos políticos e pessoais".
Exibiu certidão do Ministério das Comunicações de que não seria sócio das rádios. Defendeu o fato de seu filho, Renan Filho, prefeito de Murici (AL), ser cotista de rádio: "É um direito dele". Repetiu que a cassação era um preço alto demais.
"A pena que se propõe é de morte política, cívica, uma violência sem tamanho", disse. "Seria uma brutalidade ser banido injustamente da vida pública e como cidadão perder a condição vital de olhar nos olhos de minha mulher, de meus filhos. Quem perde isso perde o sentido da vida."
Dez minutos após anunciado o placar, deixou o Senado: "Saio de alma lavada". Disse que agora é "só paz e amor". (SILVIO NAVARRO, JOHANNA NUBLAT, ANDREZA MATAIS E ADRIANO CEOLIN)


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