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Senador negocia saída e se diz "mais leve"
Renan anunciou renúncia à presidência com uma carta breve às 15h59 e deixou o Congresso afirmando estar "de alma lavada"
A saída definitiva do cargo foi negociada com aliados
e emissários do Planalto na noite anterior e esfriou os ânimos de seus adversários
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em um gesto considerado
decisivo para ser absolvido com
folga no plenário, Renan Calheiros (PMDB) renunciou à
presidência do Senado logo no
início da sessão. Dizendo-se
"mais leve", disse na tribuna
que "condenar por simples suposição se reveste do mais enganoso e perverso dos erros".
O anúncio da renúncia, após
55 dias licenciado do cargo, foi
feito às 15h59. Renan leu uma
carta breve: "Presidir esta Casa
é conseqüência das circunstâncias políticas. Quando tais circunstâncias perdem densidade, ameaçando o bom desempenho das atividades legislativas, é aconselhável deixar o cargo. Assim, renuncio ao mandato de presidente do Senado,
sem mágoas ou ressentimentos, de cabeça erguida".
Pediu desculpas por não ter
renunciado antes. "Não adotei
esse gesto antes pois, como disse e repeti várias vezes, isso poderia sugerir, naquele momento, uma aceitação das infâmias
e das inverdades." Foi um banho de água fria na sessão, que
ameaçava ficar tensa com os
discursos dos adversários. Depois, foi abraçado por sete senadores numa fila puxada por
José Sarney (PMDB-AP).
A seguir deu entrevistas nos
corredores criticando o parecer
de Jefferson Péres (PDT-AM),
um texto "equivocado, para não
chamar de indigno": "O que estava em jogo era a cadeira de
presidente, tanto que ato contínuo se discute a sucessão".
A saída do cargo foi negociada na noite anterior com aliados e emissários do Palácio do
Planalto. Pesou a opinião de
Sarney de que sua permanência
poderia reavivar a crise na Casa
às vésperas de votar a CPMF e
significaria a quebra de um
acordo na base do governo.
Os sinais de que renunciaria
ao cargo ontem surgiram cedo,
quando uma caminhonete fez
ao menos seis viagens até a residência oficial do presidente
para levar suas roupas e objetos
pessoais. Renan deverá ocupar
um apartamento funcional.
Desta vez Renan não teve de
mobilizar sua tropa de choque
para buscar votos de última hora. Segundo aliados, ele apostou em acordo de bastidores
com o PT de que, abrindo mão
da cadeira, salvaria o mandato.
Seus adversários admitem que
a renúncia reverteu votos a seu
favor. "A renúncia tirou a condição do embate pessoal", disse
José Agripino (DEM-RN).
O discurso final de Renan começou às 19h36 e durou 55 minutos, 25 minutos a mais do
que o limite fixado no regimento interno. Renan gesticulou
muito, bateu contra a tribuna e
exibiu a Constituição. Sua mulher, Verônica, estava na tribuna de honra. Ele atacou o autor
das denúncias, João Lyra, de
que ele usou laranjas para comprar rádios: "O Senado não pode se afastar de suas atribuições
para se transformar em palco
de disputas paroquiais e receptáculo de armações de inimigos
políticos e pessoais".
Exibiu certidão do Ministério das Comunicações de que
não seria sócio das rádios. Defendeu o fato de seu filho, Renan Filho, prefeito de Murici
(AL), ser cotista de rádio: "É um
direito dele". Repetiu que a cassação era um preço alto demais.
"A pena que se propõe é de
morte política, cívica, uma violência sem tamanho", disse.
"Seria uma brutalidade ser banido injustamente da vida pública e como cidadão perder a
condição vital de olhar nos
olhos de minha mulher, de
meus filhos. Quem perde isso
perde o sentido da vida."
Dez minutos após anunciado
o placar, deixou o Senado: "Saio
de alma lavada". Disse que agora é "só paz e amor".
(SILVIO NAVARRO, JOHANNA NUBLAT, ANDREZA
MATAIS E ADRIANO CEOLIN)
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