São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2009 |
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JANIO DE FREITAS A boa companhia
À PARTE CONSIDERAÇÕES religiosas e étnicas, uma razão forte justificou a criação do Estado de Israel e explica a defesa necessária de sua continuidade: a derrota do nazismo encerrou o paroxismo homicida a que chegara o preconceito antijudeu, mas não encerrou o preconceito. Instituído por não-judeus, o Estado de Israel é fruto de uma razão humanitária, grandeza mais rara do século passado. A compreensão desta preliminar essencial é, porém, relegada ou recusada por uma corrente muito ampla dos judeus de fora de Israel. É própria dessa corrente, por isso, a investida contra qualquer observação em desacordo com a política externa dos governos de Israel, um após o outro. Ocorre que tal política é influenciada por fundamentalismos e pelo que há de mais reprovável na classe dos políticos em qualquer parte. O que a leva, nos seus momentos de maior autenticidade, a ferir, muito fundo, o mesmo humanitarismo que proporcionou a criação e considera necessária a continuidade, de fato e de direito, do Estado de Israel. A alternativa que as pressões e os consequentes temores propõem, sobretudo a governantes e jornalistas, é simples: silenciar a crítica ou ver-se equiparado, em algum grau, aos extremistas do preconceito. Mas silenciar é equiparar-se aos hoje condenados, moralmente, porque o fizeram quando os perseguidos e massacrados eram os judeus. A alternativa não é alternativa. Se, aqui e no Ocidente todo, descendentes dos perseguidos e massacrados de ontem querem hoje a aceitação de uma violência desumana, criminosa e covardemente sádica, só cabe ignorar a cobrança dessa conivência tão bem conhecida desde o nazismo. Fica-se em boa companhia. Diz uma das pesquisas de opinião que a sanha militar dos poderosos israelenses é apoiada (ou era até pouco) por 52% da população. Cá da minha inutilidade, tenho pensado muito em uma das metades do país dividido. Penso com muita pena no que essa metade sofre, impotente, com o que é feito por gente do seu povo, em nome do seu país. A metade que se opõe, que protesta, que se recusa a usar as armas: essa é a boa companhia. É a parte da humanidade no Estado de Israel. Texto Anterior: Para PF, houve uma "sucessão de gerações" Próximo Texto: Droga gera mais ações da PF que corrupção Índice |
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