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Vítima de câncer, coronel Erasmo Dias é sepultado em Santos
Em 1977, quando era secretário de Segurança, coronel comandou a invasão da PUC de SP; depois fez carreira como deputado federal, estadual e vereador
Niels Andreas - 20.set.2007/AE
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O coronel em 2007, após sua última tentativa de ser eleito
deputado
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi sepultado ontem em Santos (SP) o ex-deputado e coronel reformado Antonio Erasmo
Dias, 85, morto na noite de anteontem, vítima de câncer no
estômago e no fígado.
O corpo foi velado ontem na
Assembleia Legislativa de São
Paulo por familiares, amigos e
políticos. Desde o dia 2 de janeiro, Erasmo Dias estava internado no Hospital do Câncer,
do Instituto A. C. Camargo.
O enterro ocorreu no cemitério do Paquetá, em Santos, após
um ato multirreligioso. O caixão foi coberto com bandeiras
do Estado de São Paulo e do
Santos Futebol Clube.
Egresso do Exército, Erasmo
Dias foi secretário estadual da
Segurança Pública no final do
governo de Laudo Natel (1971-1975) e na gestão de Paulo Egydio Martins (1975-1979). Foi
nesse período que ele comandou a invasão da PUC de São
Paulo, em 1977, a última grande
operação da ditadura contra o
movimento estudantil.
No ano seguinte, foi eleito
deputado federal pela Arena.
Depois foi deputado estadual
três vezes e, por fim, vereador.
Presente ao velório, o ex-governador Laudo Natel disse
que nomeou Erasmo por indicação de Paulo Egydio, recém-eleito para o cargo: "O coronel
foi um homem enérgico, um
bom secretário estadual, que
me deu tranquilidade na área
da segurança pública".
O também ex-governador e
atual deputado federal Paulo
Maluf (PP-SP), que era amigo
do coronel, enviou ontem um
telegrama à família -segundo a
assessoria, Maluf estava fora da
cidade de São Paulo: "Meus pêsames pelo falecimento do nosso querido Erasmo Dias, que a
todos nos entristece. Homem
de personalidade forte, combativo, político ativo e trabalhador, deixa em todos nós um
sentimento de vazio e perda".
Maria Amélia de Almeida Teles, vítima de torturas durante
a ditadura, lamentou o fato de o
militar não ter sido punido em
vida: "Erasmo Dias tinha de estar na lista dos torturadores
que participaram ativamente
da repressão política no Brasil.
Ele tem de ser lembrado como
membro do aparato repressor".
Exército
Natural de Paraguaçu Paulista (SP), onde nasceu em 1924,
Erasmo Dias ingressou no
Exército em 1940. Em 1962 já
fazia parte da conspiração para
depor João Goulart. Durante o
golpe de 1964, chefiou a ocupação da refinaria Presidente
Bernardes, em Cubatão (SP).
Em 1968, participou do cerco
aos integrantes do 30º Congresso da UNE em Ibiúna (SP),
em outubro. Em 1970, também
participou, em Registro (SP),
do cerco ao guerrilheiro Carlos
Lamarca -que escapou.
Em abril de 1974 foi nomeado secretário da Segurança Pública pelo então governador
Natel e mantido por seu sucessor, Paulo Egydio Martins.
Em outubro de 1975, após a
morte do jornalista Vladimir
Herzog no DOI-Codi de São
Paulo, Erasmo disse que "guerra é guerra": "Vamos almoçar
essa gente antes que ela nos
jante". Pouco depois, defendeu
a cassação dos deputados do
MDB Marcelo Gatto (federal) e
Nelson Fabiano Sobrinho (estadual), que foram punidos
com base no AI-5 em 1976.
Em 22 de setembro de 1977,
Erasmo comandou a invasão da
PUC-SP. Na ocasião, 3.000 policiais investiram contra 2.000
estudantes que participavam
de um ato para discutir a reorganização da UNE; dos cerca de
1.700 estudantes detidos, 854
foram levados a um batalhão da
PM e 42 foram indiciados na
Lei de Segurança Nacional.
Carreira política
Em 1978, concorreu a uma
cadeira na Câmara dos Deputados, e foi eleito com 152.972 votos. Em 1979, criticou o projeto
de anistia e o retorno ao país de
Leonel Brizola e Miguel Arraes.
Em 1982, já no PDS, desistiu
de concorrer à Câmara, mas
voltou a se candidatar em 1986,
desta vez a deputado estadual.
Foi eleito com 51.794 votos.
Reeleito em 1990 com 49.958
votos, em 1991 declarou-se vítima de uma campanha de difamação da esquerda. Reeleito
em 1994, acusou as entidades
de defesa dos direitos humanos
e sobretudo o grupo "Tortura
Nunca Mais" de "revanchistas". Em 1998, com 38.428 votos, não conseguiu se reeleger.
Mas foi eleito vereador paulistano em 2000, com 23.860
votos. Em 2001, presidiu a solenidade de posse da prefeita
Marta Suplicy (PT). Em 2002,
tentou voltar à Assembleia,
sem êxito. Em 2004, com 9.323
votos, não foi reeleito vereador.
Viúvo, Erasmo foi casado
com Maria Ondina Fernandes,
com quem teve quatro filhas.
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