São Paulo, quarta-feira, 06 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vítima de câncer, coronel Erasmo Dias é sepultado em Santos

Em 1977, quando era secretário de Segurança, coronel comandou a invasão da PUC de SP; depois fez carreira como deputado federal, estadual e vereador

Niels Andreas - 20.set.2007/AE
O coronel em 2007, após sua última tentativa de ser eleito deputado

DA REPORTAGEM LOCAL

Foi sepultado ontem em Santos (SP) o ex-deputado e coronel reformado Antonio Erasmo Dias, 85, morto na noite de anteontem, vítima de câncer no estômago e no fígado.
O corpo foi velado ontem na Assembleia Legislativa de São Paulo por familiares, amigos e políticos. Desde o dia 2 de janeiro, Erasmo Dias estava internado no Hospital do Câncer, do Instituto A. C. Camargo.
O enterro ocorreu no cemitério do Paquetá, em Santos, após um ato multirreligioso. O caixão foi coberto com bandeiras do Estado de São Paulo e do Santos Futebol Clube.
Egresso do Exército, Erasmo Dias foi secretário estadual da Segurança Pública no final do governo de Laudo Natel (1971-1975) e na gestão de Paulo Egydio Martins (1975-1979). Foi nesse período que ele comandou a invasão da PUC de São Paulo, em 1977, a última grande operação da ditadura contra o movimento estudantil.
No ano seguinte, foi eleito deputado federal pela Arena. Depois foi deputado estadual três vezes e, por fim, vereador.
Presente ao velório, o ex-governador Laudo Natel disse que nomeou Erasmo por indicação de Paulo Egydio, recém-eleito para o cargo: "O coronel foi um homem enérgico, um bom secretário estadual, que me deu tranquilidade na área da segurança pública".
O também ex-governador e atual deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), que era amigo do coronel, enviou ontem um telegrama à família -segundo a assessoria, Maluf estava fora da cidade de São Paulo: "Meus pêsames pelo falecimento do nosso querido Erasmo Dias, que a todos nos entristece. Homem de personalidade forte, combativo, político ativo e trabalhador, deixa em todos nós um sentimento de vazio e perda".
Maria Amélia de Almeida Teles, vítima de torturas durante a ditadura, lamentou o fato de o militar não ter sido punido em vida: "Erasmo Dias tinha de estar na lista dos torturadores que participaram ativamente da repressão política no Brasil. Ele tem de ser lembrado como membro do aparato repressor".

Exército
Natural de Paraguaçu Paulista (SP), onde nasceu em 1924, Erasmo Dias ingressou no Exército em 1940. Em 1962 já fazia parte da conspiração para depor João Goulart. Durante o golpe de 1964, chefiou a ocupação da refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão (SP).
Em 1968, participou do cerco aos integrantes do 30º Congresso da UNE em Ibiúna (SP), em outubro. Em 1970, também participou, em Registro (SP), do cerco ao guerrilheiro Carlos Lamarca -que escapou.
Em abril de 1974 foi nomeado secretário da Segurança Pública pelo então governador Natel e mantido por seu sucessor, Paulo Egydio Martins.
Em outubro de 1975, após a morte do jornalista Vladimir Herzog no DOI-Codi de São Paulo, Erasmo disse que "guerra é guerra": "Vamos almoçar essa gente antes que ela nos jante". Pouco depois, defendeu a cassação dos deputados do MDB Marcelo Gatto (federal) e Nelson Fabiano Sobrinho (estadual), que foram punidos com base no AI-5 em 1976.
Em 22 de setembro de 1977, Erasmo comandou a invasão da PUC-SP. Na ocasião, 3.000 policiais investiram contra 2.000 estudantes que participavam de um ato para discutir a reorganização da UNE; dos cerca de 1.700 estudantes detidos, 854 foram levados a um batalhão da PM e 42 foram indiciados na Lei de Segurança Nacional.

Carreira política
Em 1978, concorreu a uma cadeira na Câmara dos Deputados, e foi eleito com 152.972 votos. Em 1979, criticou o projeto de anistia e o retorno ao país de Leonel Brizola e Miguel Arraes.
Em 1982, já no PDS, desistiu de concorrer à Câmara, mas voltou a se candidatar em 1986, desta vez a deputado estadual. Foi eleito com 51.794 votos.
Reeleito em 1990 com 49.958 votos, em 1991 declarou-se vítima de uma campanha de difamação da esquerda. Reeleito em 1994, acusou as entidades de defesa dos direitos humanos e sobretudo o grupo "Tortura Nunca Mais" de "revanchistas". Em 1998, com 38.428 votos, não conseguiu se reeleger.
Mas foi eleito vereador paulistano em 2000, com 23.860 votos. Em 2001, presidiu a solenidade de posse da prefeita Marta Suplicy (PT). Em 2002, tentou voltar à Assembleia, sem êxito. Em 2004, com 9.323 votos, não foi reeleito vereador.
Viúvo, Erasmo foi casado com Maria Ondina Fernandes, com quem teve quatro filhas.


Texto Anterior: Governo: Gripada, Dilma prolonga férias até segunda
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.