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SOMBRA NO PLANALTO
Partido faz o apelo em nota sobre o caso Waldomiro, que enfraqueceu José Dirceu
Cúpula do PT cobra mudança na política econômica de Lula
Matuiti Mayezo/Folha Imagem
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Integrantes da Executiva Nacional do PT participam de reunião em São Paulo que originou nota |
JULIA DUAILIBI
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio à crise política deflagrada pelo caso Waldomiro Diniz, o PT lançou ontem um documento no qual defende "mudanças na política econômica".
O texto, intitulado "Em defesa
do patrimônio ético do PT", foi
divulgado ontem após reunião, a
portas fechadas, da Executiva Nacional do partido, em São Paulo.
"Vamos trabalhar com afinco
para que o governo implemente
as medidas necessárias para que
2004 marque o início de um novo
e sustentado ciclo de desenvolvimento econômico e social do
país, através de mudanças na política econômica necessárias à implantação e consolidação de todos
os nossos programas sociais, econômicos e administrativos", diz
trecho da nota do PT.
O encontro foi realizado na esteira do escândalo que envolveu
um assessor de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil).
Waldomiro Diniz, ex-subchefe de
assuntos parlamentares do Planalto, foi flagrado em gravação de
2002 na qual pedia propina a um
empresário do ramo de jogos.
A propina seria parte de uma
verba destinada a financiar campanhas do PT e do PSB. À época,
Waldomiro atuava no governo
Benedita da Silva (PT-RJ). Com a
divulgação da fita, no mês passado, ele foi exonerado "a pedido".
O documento divulgado ontem
pelo PT reflete avaliação de vários
setores do governo, que temem
que o caso contamine as campanhas da legenda neste ano. A solução seria alterar os rumos da economia a fim de promover "boas
notícias", como a redução da taxa
de juros e do desemprego.
Dirceu, que ficou ameaçado de
perder o cargo com o episódio
Waldomiro, tem estimulado petistas a reforçar as cobranças por
uma diminuição do rigor da política econômica. Seu objetivo é enfraquecer o ministro Antonio Palocci (Fazenda), tentando restabelecer a correlação de força entre
ele e o colega no governo.
Mais duro manifesto
Participaram da reunião o presidente do PT, José Genoino, a
prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e o presidente da Câmara,
deputado João Paulo Cunha (PT-SP). O texto foi lido e aprovado
pelos presentes, entre os quais representantes de prefeitos e parlamentares. Cerca de cem pessoas
passaram pelo local.
O texto divulgado é o mais duro
manifesto do partido em relação à
política econômica. No fim de
2003, o Diretório Nacional do PT
aprovou resolução na qual sugeriu, de forma sutil, alterações: "O
PT propõe que o governo faça
uma inflexão maior na política
econômica no sentido de priorizar as tarefas e as medidas voltadas para a retomada do desenvolvimento, com geração de emprego e distribuição de renda".
A tese de flexibilização ganhou
força no PT também com o anúncio de retração de 0,2% do PIB de
2003. Ontem, o governador Jorge
Viana (AC) disse que o caso Waldomiro pode provocar mudanças
no país. "Este é o sentimento do
presidente Lula: agir, lidar com a
crise, seguir trabalhando e, se possível, dobrar à esquerda." Para ele,
é preciso ser firme em relação ao
FMI. "Cabe discussão de como o
PT pode forçar a modernização
desses organismos [FMI] com validade vencida."
Procurado pela Folha, Palocci
não comentou a nota do PT.
Após a divulgação do documento, Genoino disse que o partido não defende uma flexibilização
do ajuste fiscal, mas uma "diversificação da agenda, priorizando o
crescimento econômico". Ele
também defendeu Palocci.
Para Genoino, "é preciso mais
ousadia, mais iniciativa". "Com
relação à macroeconomia, é importante não ter susto nem abalo,
mas é importante também cuidar
da microeconomia, combinando
a política de exportação com a de
mercado interno."
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