São Paulo, sábado, 06 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Partido faz o apelo em nota sobre o caso Waldomiro, que enfraqueceu José Dirceu

Cúpula do PT cobra mudança na política econômica de Lula

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
Integrantes da Executiva Nacional do PT participam de reunião em São Paulo que originou nota


JULIA DUAILIBI
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio à crise política deflagrada pelo caso Waldomiro Diniz, o PT lançou ontem um documento no qual defende "mudanças na política econômica".
O texto, intitulado "Em defesa do patrimônio ético do PT", foi divulgado ontem após reunião, a portas fechadas, da Executiva Nacional do partido, em São Paulo.
"Vamos trabalhar com afinco para que o governo implemente as medidas necessárias para que 2004 marque o início de um novo e sustentado ciclo de desenvolvimento econômico e social do país, através de mudanças na política econômica necessárias à implantação e consolidação de todos os nossos programas sociais, econômicos e administrativos", diz trecho da nota do PT.
O encontro foi realizado na esteira do escândalo que envolveu um assessor de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil). Waldomiro Diniz, ex-subchefe de assuntos parlamentares do Planalto, foi flagrado em gravação de 2002 na qual pedia propina a um empresário do ramo de jogos.
A propina seria parte de uma verba destinada a financiar campanhas do PT e do PSB. À época, Waldomiro atuava no governo Benedita da Silva (PT-RJ). Com a divulgação da fita, no mês passado, ele foi exonerado "a pedido".
O documento divulgado ontem pelo PT reflete avaliação de vários setores do governo, que temem que o caso contamine as campanhas da legenda neste ano. A solução seria alterar os rumos da economia a fim de promover "boas notícias", como a redução da taxa de juros e do desemprego.
Dirceu, que ficou ameaçado de perder o cargo com o episódio Waldomiro, tem estimulado petistas a reforçar as cobranças por uma diminuição do rigor da política econômica. Seu objetivo é enfraquecer o ministro Antonio Palocci (Fazenda), tentando restabelecer a correlação de força entre ele e o colega no governo.

Mais duro manifesto
Participaram da reunião o presidente do PT, José Genoino, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e o presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP). O texto foi lido e aprovado pelos presentes, entre os quais representantes de prefeitos e parlamentares. Cerca de cem pessoas passaram pelo local.
O texto divulgado é o mais duro manifesto do partido em relação à política econômica. No fim de 2003, o Diretório Nacional do PT aprovou resolução na qual sugeriu, de forma sutil, alterações: "O PT propõe que o governo faça uma inflexão maior na política econômica no sentido de priorizar as tarefas e as medidas voltadas para a retomada do desenvolvimento, com geração de emprego e distribuição de renda".
A tese de flexibilização ganhou força no PT também com o anúncio de retração de 0,2% do PIB de 2003. Ontem, o governador Jorge Viana (AC) disse que o caso Waldomiro pode provocar mudanças no país. "Este é o sentimento do presidente Lula: agir, lidar com a crise, seguir trabalhando e, se possível, dobrar à esquerda." Para ele, é preciso ser firme em relação ao FMI. "Cabe discussão de como o PT pode forçar a modernização desses organismos [FMI] com validade vencida."
Procurado pela Folha, Palocci não comentou a nota do PT.
Após a divulgação do documento, Genoino disse que o partido não defende uma flexibilização do ajuste fiscal, mas uma "diversificação da agenda, priorizando o crescimento econômico". Ele também defendeu Palocci.
Para Genoino, "é preciso mais ousadia, mais iniciativa". "Com relação à macroeconomia, é importante não ter susto nem abalo, mas é importante também cuidar da microeconomia, combinando a política de exportação com a de mercado interno."



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