São Paulo, domingo, 06 de março de 2005

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PF investiga ex-presidente da Light por supostas remessas ilegais de US$ 1 bi

PEDRO DANTAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O executivo francês Michel Gaillard, ex-presidente da Light, será indiciado nesta semana pela Polícia Federal por supostas remessas ilegais de divisas. Em inquérito, a PF investiga o suposto envio irregular de US$ 1 bilhão pela Light para duas subsidiárias da empresa sediadas nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal do Caribe.
O objetivo das operações supostamente irregulares era saldar dívidas com bancos europeus para o pagamento de empréstimo tomado pela Light por meio das subsidiárias, segundo reportagem da revista "Época", publicada ontem. Os recursos foram usados para adquirir a Eletropaulo, privatizada em 1998.
A suposta irregularidade estaria no fato de a Light continuar enviando recursos ao exterior mesmo depois de quitados os débitos, de acordo com a PF.
Pelo suposto esquema, as subsidiárias Light Overseas Investments e Lir Energy Ltda. captaram recursos de bancos europeus no valor de US$ 1 bilhão com prazo de pagamento de seis meses a um ano. O dinheiro foi repassado à Light, que, por sua vez, emitiu títulos de até 12 anos para pagar o empréstimo pela compra da Eletropaulo. Esses títulos foram comprados pelas próprias subsidiárias da Light.
Para quitar o débito com os bancos, as subsidiárias aumentaram seu capital em 1999 com dinheiro remetido pela Light.
Mas o que chamou a atenção da PF foi o fato de os títulos emitidos pela Light não terem sido resgatados, fazendo com que a dívida permanecesse no balanço da companhia. De acordo com a PF, isso permitiu à Light enviar mais recursos ao exterior, mesmo depois de a dívida ter sido quitada.
A PF abriu o inquérito em 2002 após denúncia do Ministério Público. O caso corre em segredo de Justiça.
Outros três ex-funcionários da área financeira da Light (Marcus Vinícius Visconti, Edezio Quintal e Ricardo Levy) foram indiciados no segundo semestre de 2004 no mesmo inquérito.
Além de remessa ilegal de divisas, eles foram acusados de falsidade na declaração de operações de câmbio, crime tributário e formação de quadrilha. Gaillard, segundo a PF, também poderá responder por estes crimes.
Ontem, a Light não se pronunciou sobre o assunto. Mas informou que todos os envios foram alvo de análise do Banco Central.
A Light foi privatizada em 1996 por US$ 2,7 bilhão, com ágio zero. O consórcio vencedor era liderado pela estatal francesa EDF (atual controladora da Light) e pela norte-americana AES.
Em 1998, a Light comprou, em leilão de privatização, o controle da Eletropaulo Metropolitana, distribuidora de energia da Grande São Paulo, tomando um empréstimo de US$ 1,2 bilhão do BNDES. O restante foi captado no exterior por meio das subsidiárias. Com o negócio, AES e EDF tornaram-se também sócias na distribuidora paulista.
Em 2001, EDF e AES desfizeram a sociedade. A empresa francesa ficou com o controle da Ligth e as dívidas das duas subsidiárias das Ilhas Cayman. Coube à AES o controle da Eletropaulo e o débito com o BNDES.


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