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PF investiga ex-presidente da Light por supostas remessas ilegais de US$ 1 bi
PEDRO DANTAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O executivo francês Michel Gaillard, ex-presidente da Light, será
indiciado nesta semana pela Polícia Federal por supostas remessas
ilegais de divisas. Em inquérito, a
PF investiga o suposto envio irregular de US$ 1 bilhão pela Light
para duas subsidiárias da empresa sediadas nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal do Caribe.
O objetivo das operações supostamente irregulares era saldar dívidas com bancos europeus para
o pagamento de empréstimo tomado pela Light por meio das
subsidiárias, segundo reportagem
da revista "Época", publicada ontem. Os recursos foram usados
para adquirir a Eletropaulo, privatizada em 1998.
A suposta irregularidade estaria
no fato de a Light continuar enviando recursos ao exterior mesmo depois de quitados os débitos,
de acordo com a PF.
Pelo suposto esquema, as subsidiárias Light Overseas Investments e Lir Energy Ltda. captaram recursos de bancos europeus
no valor de US$ 1 bilhão com prazo de pagamento de seis meses a
um ano. O dinheiro foi repassado
à Light, que, por sua vez, emitiu títulos de até 12 anos para pagar o
empréstimo pela compra da Eletropaulo. Esses títulos foram
comprados pelas próprias subsidiárias da Light.
Para quitar o débito com os
bancos, as subsidiárias aumentaram seu capital em 1999 com dinheiro remetido pela Light.
Mas o que chamou a atenção da
PF foi o fato de os títulos emitidos
pela Light não terem sido resgatados, fazendo com que a dívida
permanecesse no balanço da
companhia. De acordo com a PF,
isso permitiu à Light enviar mais
recursos ao exterior, mesmo depois de a dívida ter sido quitada.
A PF abriu o inquérito em 2002
após denúncia do Ministério Público. O caso corre em segredo de
Justiça.
Outros três ex-funcionários da
área financeira da Light (Marcus
Vinícius Visconti, Edezio Quintal
e Ricardo Levy) foram indiciados
no segundo semestre de 2004 no
mesmo inquérito.
Além de remessa ilegal de divisas, eles foram acusados de falsidade na declaração de operações
de câmbio, crime tributário e formação de quadrilha. Gaillard, segundo a PF, também poderá responder por estes crimes.
Ontem, a Light não se pronunciou sobre o assunto. Mas informou que todos os envios foram
alvo de análise do Banco Central.
A Light foi privatizada em 1996
por US$ 2,7 bilhão, com ágio zero.
O consórcio vencedor era liderado pela estatal francesa EDF
(atual controladora da Light) e
pela norte-americana AES.
Em 1998, a Light comprou, em
leilão de privatização, o controle
da Eletropaulo Metropolitana,
distribuidora de energia da Grande São Paulo, tomando um empréstimo de US$ 1,2 bilhão do
BNDES. O restante foi captado no
exterior por meio das subsidiárias. Com o negócio, AES e EDF
tornaram-se também sócias na
distribuidora paulista.
Em 2001, EDF e AES desfizeram
a sociedade. A empresa francesa
ficou com o controle da Ligth e as
dívidas das duas subsidiárias das
Ilhas Cayman. Coube à AES o
controle da Eletropaulo e o débito
com o BNDES.
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