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ELIO GASPARI
Um olho do MIT na privataria tucana
No final do século passado,
quando os tucanos eram donos da floresta, a privatização das
empresas distribuidoras de energia elétrica era apresentada como
um dos sinais do ingresso do Brasil na maioridade financeira internacional. Vendeu-se o patrimônio da Viúva, arrecadaram-se
US$ 20 bilhões (metade dos quais
pagos com dinheiro subsidiado
pelo BNDES e pela Eletrobrás),
produziu-se um apagão e dois calotes. Somando-se todos os curtos-circuitos, pode-se estimar que o
país perdeu cerca de US$ 15 bilhões.
Deixando de lado a compulsão
denuncista de Lula, a maior vergonha que os tucanos poderiam
passar seria a de se transformarem em trapalhões globais. É isso
que está acontecendo. Basta ler
um trabalho do economista indiano Sunil Tankha, de 34 anos,
do Grupo de Planejamento Regional e Desenvolvimento Internacional do Massachusetts Institute of Technology, o MIT, pelo
qual os tucanos bem pensantes
têm veneração semelhante à dos
baianos por Oxossi.
O trabalho de Tankha resume-se no título: "Uma confusão de
meios e fins: A breve e infeliz época da privatização da energia elétrica no Brasil". Tem 50 páginas.
O economista, que fala fluentemente o português, acredita que a
obsessão privatizante levou o governo a um auto-engano. Pensaram em privatizar para conseguir
dinheiro e acabaram gastando
dinheiro para poder privatizar. O
governo de FFHH acreditou nos
seus palpites e desprezou as opiniões dos eletrotecas. Preferiu satanizá-los.
Segundo Tankha, nos anos 90, o
setor elétrico brasileiro precisava
de uma reforma. Se não produzia
melhores resultados financeiros,
isso se devia ao controle dos preços
imposto pelo governo. A privatização não era o único caminho disponível (ainda que ele seja favorável à idéia, em geral). Era apenas
um caminho de alto risco. Do jeito
que fizeram, teria sido melhor se
não tivessem feito nada.
Cohiba Ruanda
A Turma do Cohiba, formada
pelo "altos companheiros"
que circulam por Brasília exibindo os famosos charutos
Cohiba, trazidos de Havana,
deve trocar de nome.
Poderá ser chamada de Turma do "Hotel Ruanda".
Quem for ver o filme saberá
porquê. Numa das primeiras
cenas os charutos são usados
como moeda de prestígio e
medida de empáfia. Custam
até US$ 20 cada um.
No filme, o gerente do hotel,
Paul Rusesabagina (Don
Cheadle), dá um charuto ao
conhecido que viria a comandar uma milícia hutu, dizendo:
"Quando você presenteia um
Cohiba trazido diretamente de
Havana, hein? Isso é estilo".
Por enquanto, não há data
para a estréia de Hotel Ruanda
em Pindorama.
Cobras petistas
Marta Suplicy precisa se cuidar. Funciona no Planalto a
usina de maledicências contra
sua falecida administração. É
gente tão agressiva que atribui
suas insinuações a iniciativas
do prefeito José Serra.
Quem $ão?
O companheiro Luiz Marinho,
presidente da CUT, reagiu aos
adversários que o chamaram
de "superpelego" por defender o projeto da reorganização
sindical, argumentando que
"essa estrutura sindical que aí
está" cria "grandes patrimônios". Cria para quem? Como?
Referindo-se à fome arrecadadora de alguns companheiros, informou: "Tem sindicato
que cobra absurdos, querem
manter a mamata". Quais?
Quanto cobram? Como mamam?
E o caso de se perguntar se
adianta mexer na estrutura
sindical dando mais poder às
centrais se o presidente da
maior delas, a CUT, diz coisas
desse tipo sem dar nomes aos
bois.
Novo reinado
No melhor estilo petista de
atropelar o próprio governo,
comissário José Dirceu assumiu a coordenação das
relações diplomáticas do
companheiro Lula com os
Estados Unidos e a América
Latina. Falta saber como e
quando aparecerá a versão
internacional de Severino
Cavalcanti.
Tríplice solução
Nas negociações dos governos do Brasil e da Argentina
com os Estados Unidos há
um item ao qual os americanos dão enorme valor: é o
combate às fraudes financeiras na região de Foz do
Iguaçu. Washington está
convencida de que no lodaçal da região funcionam células terroristas. (Quem sabe, escondendo as armas de
destruição de massa que
George Bush garantia que
estavam guardadas com
Saddam Hussein.)
Aos governos do Brasil e
da Argentina custa zero fechar uma aliança com os
americanos para monitorar
ladroeiras e contrabando. A
região de Foz do Iguaçu está
entre os dez paraísos da
bandidagem internacional.
Um em dois
O professor Tarso Genro
precisa "baixar o horizonte
utópico" de seus planos.
Quer ampliar o ensino fundamental para nove anos,
botando a garotada na escola a partir dos seis anos. (O
Censo de 2000 informa que
81,7% dessas crianças estavam nas escola ou em creches.)
A idéia é prepará-las para
a alfabetização. Ainda não se
conhecem as diretrizes pedagógicas desse horizonte
utópico, mas tratando-se de
uma questão que acabará
administrada pelos Estados
e municípios, cabe uma pergunta: por que motivo um
sistema que não consegue
alfabetizar uma criança em
um ano haverá de alfabetizá-la em dois?
A Viúva herdou o vigarista
Uma boa biografia do grande
vigarista ítalo-americano Charles
Ponzi (1882-1949), publicada nos
Estados Unidos, acaba de mostrar que coube à Viúva brasileira
desembolsar um dinheirinho para pagar suas últimas despesas.
Ponzi entrou para a história econômica pela porta dos fundos.
Enquanto economistas como Nikolai Kondratieff ou Corrado Gini deram seus sobrenomes a uma
teoria dos ciclos ou ao indicador
de distribuição da riqueza numa
sociedade, Ponzi tornou-se sinônimo de um golpe no qual se oferecem juros astronômicos para
terminar tudo num calote. Teve
seu nome registrado no dicionário de Oxford e na Enciclopédia
Britânica.
"Ponzi's Scheme", ou "O Golpe
de Ponzi", do jornalista Mitchell
Zuckoff, conta a vida do finório
que eletrizou 30 mil pequenos investidores em 1920. Tomou-lhes
9,6 milhões de dólares, algo como
200 milhões em dinheiro de hoje.
Ele oferecia 50% de juros em 90
dias (boa idéia para o Copom) e
sustentava que podia bancar essa
conta porque jogava na variação
cambial de vales postais. Era
mentira. Ele simplesmente rodava uma bicicleta, tomando dinheiro de novos investidores para
pagar aos antigos. A farra durou
sete meses.
O governo americano foi em cima de Ponzi e tomou-lhe a casa,
os móveis e a roupa do corpo. Deixou-o por 14 anos na cadeia, costurando cuecas.
Greta Garbo não terminou no
Irajá, mas Carlo Ponzi acabou na
rua Engenho Novo, 118, apto 102.
Ele chegou ao Rio de Janeiro em
1939 como funcionário da companhia aérea italiana Latti. Perdeu o emprego, deu aulas de inglês e manteve uma pensão. Tentou tomar uma carona no populismo cambial do governo Dutra
criando uma importadora de canetas, relógios e rádios. Nada deu
certo.
Ponzi morreu em 1949, aposentado pela Viúva brasileira. Recebia US$ 70 mensais do Instituto
de Aposentadoria dos Comerciários, o IAPC. Estava quase cego e
terminou seus dias num hospital
público do Rio, possivelmente o
São Francisco de Assis.
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