São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2007

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Especialistas criticam viés político de medidas

DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

As promessas para a América Latina feitas ontem pelo presidente George W. Bush devem ser analisadas diante de um contexto no qual os EUA tentam minar a influência de países não-alinhados a Washigton, na avaliação de especialistas ouvidos pela Folha.
Para eles, medidas como o envio de um navio-hospital para atender pacientes na região serão inócuas, pois têm como objetivo, em vez de amenizar a miséria, fazer frente a países como Cuba e Venezuela, que realizam projetos similares na área de saúde e educação.
"Ele [Bush] está completamente louco. É uma afronta. Esses países não devem aceitar migalhas. A preocupação são os governos que estão se desalinhando em relação aos EUA. Melhor seria trabalhar pela diminuição da dívida externa", diz Rosa Maria Marques, professora titular da PUC-SP e integrante da Associação Brasileira de Economia da Saúde.
Na avaliação de Márcio Pochmann, professor titular da Unicamp e especialista em políticas sociais e do trabalho, a idéia do navio-hospital "talvez funcionasse nos anos 1940", mas não teria efeito diante da complexidade econômica e social do continente atualmente.
"Medidas como essa mostram o reconhecimento de que as políticas pretendidas pelas agências multilaterais, como Banco Mundial e FMI, pelas quais os EUA têm responsabilidade, produziram um forte desequilíbrio social", diz. Para ele, no entanto, as ações podem render, à frente, um diagnóstico mais aprofundado sobre a situação da região.
Para Paulo Eduardo Elias, professor titular de saúde coletiva da faculdade de medicina da USP, a idéia do navio-hospital "é ridícula". "Poderíamos receber investimentos, mas tem que ser discutido entre os países algo mais permanente."
Em relação ao projeto de formação de agentes de saúde e de educação nesses países, Maria Yeda Linhares, professora da UFRJ e ex-secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, disse que os EUA não possuem conhecimento suficiente da região e que, por esse motivo, a medida será inócua.
"Não precisamos de Bush para resolver nossos problemas educacionais", afirma ela.
Informado sobre a proposta de os EUA investirem na formação de professores, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-ministro da Educação, apenas disse: "A que ponto chegou nossa omissão".
O Ministério da Saúde informou desconhecer medidas para a área anunciadas por Bush, caso do navio-hospital. Cada um dos países visitados têm legislações sanitárias diferentes, que deverão ser respeitadas pelo serviço itinerante, afirmaram especialistas.
No Brasil, não é permitida a atuação de médicos estrangeiros sem a revalidação do diploma. (CAROLINA RANGEL, MATHEUS PICHONELLI E FABIANE LEITE)


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