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Especialistas criticam viés político de medidas
DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
As promessas para a América
Latina feitas ontem pelo presidente George W. Bush devem
ser analisadas diante de um
contexto no qual os EUA tentam minar a influência de países não-alinhados a Washigton,
na avaliação de especialistas
ouvidos pela Folha.
Para eles, medidas como o
envio de um navio-hospital para atender pacientes na região
serão inócuas, pois têm como
objetivo, em vez de amenizar a
miséria, fazer frente a países
como Cuba e Venezuela, que
realizam projetos similares na
área de saúde e educação.
"Ele [Bush] está completamente louco. É uma afronta.
Esses países não devem aceitar
migalhas. A preocupação são os
governos que estão se desalinhando em relação aos EUA.
Melhor seria trabalhar pela diminuição da dívida externa",
diz Rosa Maria Marques, professora titular da PUC-SP e integrante da Associação Brasileira de Economia da Saúde.
Na avaliação de Márcio
Pochmann, professor titular da
Unicamp e especialista em políticas sociais e do trabalho, a
idéia do navio-hospital "talvez
funcionasse nos anos 1940",
mas não teria efeito diante da
complexidade econômica e social do continente atualmente.
"Medidas como essa mostram o reconhecimento de que
as políticas pretendidas pelas
agências multilaterais, como
Banco Mundial e FMI, pelas
quais os EUA têm responsabilidade, produziram um forte desequilíbrio social", diz. Para
ele, no entanto, as ações podem
render, à frente, um diagnóstico mais aprofundado sobre a
situação da região.
Para Paulo Eduardo Elias,
professor titular de saúde coletiva da faculdade de medicina
da USP, a idéia do navio-hospital "é ridícula". "Poderíamos
receber investimentos, mas
tem que ser discutido entre os
países algo mais permanente."
Em relação ao projeto de formação de agentes de saúde e de
educação nesses países, Maria
Yeda Linhares, professora da
UFRJ e ex-secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, disse que os EUA não
possuem conhecimento suficiente da região e que, por esse
motivo, a medida será inócua.
"Não precisamos de Bush para resolver nossos problemas
educacionais", afirma ela.
Informado sobre a proposta
de os EUA investirem na formação de professores, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-ministro da Educação,
apenas disse: "A que ponto chegou nossa omissão".
O Ministério da Saúde informou desconhecer medidas para a área anunciadas por Bush,
caso do navio-hospital. Cada
um dos países visitados têm legislações sanitárias diferentes,
que deverão ser respeitadas pelo serviço itinerante, afirmaram especialistas.
No Brasil, não é permitida a
atuação de médicos estrangeiros sem a revalidação do diploma.
(CAROLINA RANGEL, MATHEUS PICHONELLI E FABIANE LEITE)
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