São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2000


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CONGRESSO
Presidente do Senado e líder peemedebista protagonizam troca de acusações, denúncias e ofensas
ACM e Jader travam duelo no Senado

RAQUEL ULHÔA
DANIEL BRAMATTI
da Sucursal de Brasília

O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e o senador Jader Barbalho (PA), presidente do PMDB, protagonizaram ontem o mais violento embate no plenário da Casa desde que começaram a trocar acusações, há uma semana. Ambos recorreram a dossiês com recortes de jornais trazendo acusações recíprocas. No final, o próprio Jader definiu o episódio como um "striptease moral".
Durante uma hora e 20 minutos, o Congresso parou para assistir ao maior duelo verbal travado entre dois dos principais caciques políticos da base que dá sustentação ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Após troca de acusações e ofensas pessoais, ACM e Jader divulgaram documentos autorizando a quebra de seus sigilos bancários e o exame de suas declarações de bens e rendimentos.
Num dos momentos mais tensos do debate, Jader chegou a dizer para ACM: "Ouça caladinho".
De sua cadeira, o presidente do Senado acusou Jader de estar "mentindo" quando diz que tem 4.000 páginas de denúncias contra ele. "Quem tiver caráter não gosta de Vossa Excelência."
Jader não poupou o adversário do assunto que mais o atinge: a morte do deputado Luís Eduardo, filho de ACM, em abril de 98. Luís Eduardo era apontado como candidato mais forte à sucessão do presidente FHC.
"Às vezes, a gente coloca coisas como objetivo de vida, marca prazo e Deus lá em cima, que assiste a todos nós e é quem tem poder, muda o curso das coisas. A vida tem ensinado e talvez Vossa Excelência possa aprender."
ACM acusou Jader de desapropriar terrenos inexistentes e superfaturar desapropriações de terras, de ter dinheiro do Banco do Pará depositado em suas contas pessoais e de ter cometido irregularidades enquanto era ministro da Previdência e da Reforma Agrária (governo Sarney).
ACM entregou à Mesa do Senado pastas com 11 documentos detalhando as denúncias.
O peemedebista rebateu o ataque lendo na tribuna manchetes de jornais, que envolviam ACM em casos de corrupção. Em algumas, o presidente do Senado é acusado de ter construído sua fortuna com dinheiro público e chamado de "ladrão".
Jader lembrou casos notórios levantados contra o adversário, como o chamado "escândalo da pasta rosa", uma lista de políticos que teriam recebido doações para campanha do Banco Econômico.
O presidente do Senado apresentou previamente à Mesa documentação rebatendo essas e outras denúncias já publicadas contra ele em sua vida pública.
O vice-presidente do Senado, Geraldo Melo (PSDB-RN), que presidia a sessão, convocou reunião da Mesa Diretora para hoje, para decidir como serão examinadas as contas e as denúncias trocadas.
O presidente do Senado havia programado o discurso para formalizar o desafio a Jader para que ambos autorizassem a quebra de seus sigilos bancários e permitissem investigação de seus bens.
O atual confronto entre ACM e Jader começou por causa do salário mínimo. Enquanto Jader defende a posição do governo (mínimo de R$ 151), ACM prega salário mínimo equivalente a US$ 100. Dessa discussão, partiram para acusações mútuas.
Ontem, Jader disse que o senador ACM provocou o confronto para desviar as atenções das denúncias feitas contra ele pela ex-primeira-dama de São Paulo Nicéa Pitta.
Acusou ACM de falta de "equilíbrio" e "decoro" por ter xingado Nicéa, e afirmou que o presidente do Senado quer "arrastá-lo" junto com ele numa representação que sofre no Conselho de Ética por falta de decoro parlamentar.
Nicéa acusou ACM de ter pressionado a Prefeitura de São Paulo a pagar dívidas com a empreiteira OAS, que tem como sócio o ex-genro de ACM, Cesar Mata Pires.
Jader disse que o objetivo de ACM é impedi-lo de assumir a presidência do Senado em 2001.


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