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INVESTIGAÇÃO
Executivos de empresas da família do senador pefelista movimentaram contas utilizando nomes fictícios
Laudo relaciona contas-fantasmas a ACM
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR
Novos laudos confirmam as denúncias de participação de executivos ligados ao senador Antonio
Carlos Magalhães (PFL) na movimentação de contas bancárias
fantasmas na Bahia, durante as
eleições de 1990.
O inquérito da Polícia Federal
que apurava o caso foi encerrado
há seis anos. O relatório do delegado da PF Roberto Chagas Monteiro, que conduziu a maior parte
da investigação, apontou indícios
de que o dinheiro se destinava ao
financiamento da campanha de
ACM, que disputava e venceu o
governo da Bahia. Mas uma perícia encomendada pelo pefelista
inocentou os acusados.
Agora o Instituto de Criminalística da Secretaria de Segurança do
Estado de São Paulo confirmou
que Marco Antônio Leal Carlos
de Souza, ex-diretor de Operações
da TV Bahia e atual diretor executivo do jornal "Correio da Bahia"
(ambos da família de ACM), movimentou conta com o nome fictício de Esmeralda Ferreira da Silva, no Banco Econômico, em 90.
Confirmou também a participação de Renato Ângelo Tourinho
(irmão do diretor-executivo da
TV Bahia, Rodolpho Tourinho, e
primo do ex-ministro de Minas e
Energia, Rodolpho Tourinho) na
abertura, naquele mesmo ano, da
conta-fantasma nos nomes fictícios de Hugo Tavares Freire Filho
e Heloisa Góes Freire, no Citibank, em Salvador.
A conta no Citibank foi aberta
em julho de 90 e desativada em janeiro do ano seguinte. Ela recebeu
depósitos equivalentes a US$ 4
milhões. A maior parte do dinheiro provinha de cheques emitidos
por empreiteiras do Estado.
A Construtora Norberto Odebrecht, segundo o relatório da PF,
foi a principal alimentadora da
conta, com quatro cheques no valor total de US$ 1,8 milhão.
A quebra do sigilo bancário dos
fantasmas Hugo e Heloisa mostrou que a conta abastecia outra,
fantasma, registrada no nome de
Esmeralda. A conta foi aberta
com o endereço da TV Bahia.
Na ocasião, Renato Tourinho
era gerente da agência do Citibank, responsável pelo atendimento a grandes clientes. A perícia constatou que ele preencheu
de próprio punho o contrato de
abertura da conta-fantasma e que
acompanhava sua movimentação
(veja quadro nesta página).
Até agora, existia uma polêmica
sobre a participação dos dois. O
laudo do Instituto de Criminalística da PF, elaborado durante o
inquérito, em 93, apontou Marco
Antônio Leal de Souza como o autor das assinaturas da fantasma
Esmeralda. Constatou ainda a
participação de Tourinho na
abertura da conta no Citibank.
Em janeiro de 94, ACM, já governador da Bahia, entregou à direção da PF um outro laudo, do
Instituto Del Picchia, de São Paulo. O laudo privado refutava qualquer possibilidade de os dois serem autores das assinaturas dos
cheques. O Instituto de Criminalística da Secretaria de Segurança
de São Paulo foi acionado pelo
juiz da 17ª Vara Federal da Bahia,
Antônio Oswaldo Scarpa, para
por fim à polêmica.
O diretor-presidente do Instituto Del Picchia, Celso Del Picchia,
disse à Folha que não se recorda
com exatidão do caso. Ele afirmou ter convicção das coisas que
faz e disse confiar no laudo que
assinou. "O trabalho do perito é
como o do médico. Os profissionais podem valorizar mais um
elemento do que outro e os diagnósticos podem ser diferentes para o mesmo caso, como ocorre em
todas as ciências que não são exatas", declarou Del Picchia.
O laudo
De início, o juiz despachou para
São Paulo seis dos dez volumes do
inquérito. Em agosto, o instituto
concluiu o primeiro laudo confirmando que eram de Renato Tourinho os manuscritos da contrato
de abertura da conta-fantasma no
Citibank e anotações no verso de
cheques depositados na conta.
Não foi identificado quem assinava em nome dos fantasmas Hugo
e Heloisa.
Foi também confirmado, nesse
primeiro laudo, que o empresário
Cláudio Chagas Freitas (na época,
proprietário da InterTV) havia
preenchido de próprio punho as
faturas e as notas fiscais em favor
da TV Bahia, que foram questionadas pela PF.
Antônio Oswaldo Scarpa remeteu os quatro volumes restantes
do processo para São Paulo para
que fossem confrontadas as assinaturas de Marco Antonio Leal
Souza e da fantasma Esmeralda.
O laudo, positivo, ficou pronto
em fevereiro deste ano.
Com isso, a ação judicial, que foi
iniciada em outubro de 94, com a
denúncia de quatro pessoas pelo
Ministério Público Federal, caminha para o desfecho final.
A ação corre em segredo de Justiça por conter informações de sigilo bancário, mas a Folha apurou
que o Ministério Público Federal
apresentará suas alegações finais
até meados de maio e que pedirá a
condenação dos réus.
Colaborou a Reportagem Local
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