|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Concorrentes travam "guerra moral" no Rio
Pré-candidatos à prefeitura afirmam evitar temas como aborto e união civil de gays, mas embate existe nos bastidores
Pesquisa Datafolha indica
que o posicionamento do
candidato frente a esses
assuntos influencia eleitor;
aborto é o de maior atenção
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
O futuro prefeito do Rio pouco poderá fazer em relação a temas como aborto, união civil de
homossexuais e descriminalização da maconha. No entanto,
pesquisa do Datafolha indica
que o posicionamento do candidato frente a esses temas influencia decisão do eleitor.
Os candidatos tentam se distanciar desta discussão. Afirmam que o importante é debater os problemas da cidade.
Mas pesquisadores crêem que
uma "guerra moral" pode ser
travada nos bastidores.
Na semana passada, o senador e bispo licenciado da Igreja
Universal Marcelo Crivella
(PRB), líder com 20% das intenções de voto, atirou a primeira pedra. Atacou o deputado Fernando Gabeira (PV),
com 9%: "Ele defende aborto,
homem com homem e maconha". "Crivella não repetirá isso na TV. Mas o curral dele já
está avisado que essa guerrilha
vai acontecer. Isso será feito
pelos cabos eleitorais nas ruas",
afirma o cientista político Marcus Figueiredo.
Na última eleição, a então
candidata ao Senado Jandira
Feghali (PC do B) -agora com
18% dos votos- foi alvo de uma
campanha contrária da Igreja
Católica e de evangélicos. Panfletos apócrifos e sermões divulgavam sua posição em favor
do aborto. Na semana anterior
à eleição, ela perdeu a liderança
nas pesquisas para o senador
Francisco Dornelles (PP).
O posicionamento frente a
esse tema é um dos mais importantes para os eleitores, indica o Datafolha. Apenas a deputada Solange Amaral (DEM),
que defende a manutenção da
lei, tem seu pior desempenho
entre os eleitores que dividem a
mesma opinião. "É porque eu
tenho tratado com o meu eleitor dos temas que quero realizar como prefeita".
Para o deputado Chico Alencar -católico que defende a
união civil de gays e a ampliação da lei do aborto- os assuntos da cidade vão prevalecer.
"Enquanto a dengue mata
crianças, ela tem muito mais
peso do que uma discussão sobre interrupção de gravidez".
Gabeira reconhece a dificuldade que pode ter na campanha
em razão de suas posições em
favor da união civil de pessoas
do mesmo sexo e da descriminalização da maconha. Mas
acredita que os eleitores vão
avaliar seu posicionamento
junto com suas propostas. "Os
eleitores municipais querem
soluções para o seu bairro."
A socióloga Maria das Dores
Machado acredita ser difícil fugir do debate moral. Os candidatos ligados a alguma denominação religiosa podem não fazer dos preceitos morais uma
bandeira, mas garantem espaços privilegiados, diz Maria das
Dores. "A grande preocupação
em ter o apoio das igrejas é o de
ter a possibilidade de entrar
nas igrejas e falar nos cultos, e
também ter alguns militantes
trabalhando para você."
Para ela, o deputado Alessandro Molon (PT), que defende a
união civil de homossexuais e a
manutenção da lei do aborto,
pode se beneficiar por conseguir "aglutinar setores conservadores e progressistas da Igreja Católica". Ele tem raízes no
movimento conservador da Renovação Carismática Católica.
Para o petista, que terá o
apoio do governador Sérgio Cabral (PMDB) e do presidente
Lula, "cabe aos candidatos darem o exemplo discutindo os
problemas da cidade".
O coordenador da Renovação Carismática do Rio, Ricardo Emílio, afirma que o movimento não fará campanha, mas vai orientar os fiéis a votar em
quem é "a favor da vida". Jandira e Crivella não retornaram às
ligações da reportagem.
Texto Anterior: Janio de Freitas: A dengue dos políticos Próximo Texto: Rio: Crivella ganha apoio do PTB e mais um minuto na TV Índice
|