São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Concorrentes travam "guerra moral" no Rio

Pré-candidatos à prefeitura afirmam evitar temas como aborto e união civil de gays, mas embate existe nos bastidores

Pesquisa Datafolha indica que o posicionamento do candidato frente a esses assuntos influencia eleitor; aborto é o de maior atenção

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

O futuro prefeito do Rio pouco poderá fazer em relação a temas como aborto, união civil de homossexuais e descriminalização da maconha. No entanto, pesquisa do Datafolha indica que o posicionamento do candidato frente a esses temas influencia decisão do eleitor.
Os candidatos tentam se distanciar desta discussão. Afirmam que o importante é debater os problemas da cidade. Mas pesquisadores crêem que uma "guerra moral" pode ser travada nos bastidores.
Na semana passada, o senador e bispo licenciado da Igreja Universal Marcelo Crivella (PRB), líder com 20% das intenções de voto, atirou a primeira pedra. Atacou o deputado Fernando Gabeira (PV), com 9%: "Ele defende aborto, homem com homem e maconha". "Crivella não repetirá isso na TV. Mas o curral dele já está avisado que essa guerrilha vai acontecer. Isso será feito pelos cabos eleitorais nas ruas", afirma o cientista político Marcus Figueiredo.
Na última eleição, a então candidata ao Senado Jandira Feghali (PC do B) -agora com 18% dos votos- foi alvo de uma campanha contrária da Igreja Católica e de evangélicos. Panfletos apócrifos e sermões divulgavam sua posição em favor do aborto. Na semana anterior à eleição, ela perdeu a liderança nas pesquisas para o senador Francisco Dornelles (PP).
O posicionamento frente a esse tema é um dos mais importantes para os eleitores, indica o Datafolha. Apenas a deputada Solange Amaral (DEM), que defende a manutenção da lei, tem seu pior desempenho entre os eleitores que dividem a mesma opinião. "É porque eu tenho tratado com o meu eleitor dos temas que quero realizar como prefeita".
Para o deputado Chico Alencar -católico que defende a união civil de gays e a ampliação da lei do aborto- os assuntos da cidade vão prevalecer. "Enquanto a dengue mata crianças, ela tem muito mais peso do que uma discussão sobre interrupção de gravidez".
Gabeira reconhece a dificuldade que pode ter na campanha em razão de suas posições em favor da união civil de pessoas do mesmo sexo e da descriminalização da maconha. Mas acredita que os eleitores vão avaliar seu posicionamento junto com suas propostas. "Os eleitores municipais querem soluções para o seu bairro."
A socióloga Maria das Dores Machado acredita ser difícil fugir do debate moral. Os candidatos ligados a alguma denominação religiosa podem não fazer dos preceitos morais uma bandeira, mas garantem espaços privilegiados, diz Maria das Dores. "A grande preocupação em ter o apoio das igrejas é o de ter a possibilidade de entrar nas igrejas e falar nos cultos, e também ter alguns militantes trabalhando para você."
Para ela, o deputado Alessandro Molon (PT), que defende a união civil de homossexuais e a manutenção da lei do aborto, pode se beneficiar por conseguir "aglutinar setores conservadores e progressistas da Igreja Católica". Ele tem raízes no movimento conservador da Renovação Carismática Católica.
Para o petista, que terá o apoio do governador Sérgio Cabral (PMDB) e do presidente Lula, "cabe aos candidatos darem o exemplo discutindo os problemas da cidade".
O coordenador da Renovação Carismática do Rio, Ricardo Emílio, afirma que o movimento não fará campanha, mas vai orientar os fiéis a votar em quem é "a favor da vida". Jandira e Crivella não retornaram às ligações da reportagem.


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