São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997.

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NOVO OESTE
O empresário André Maggi mora em casa de madeira, acorda às 4h e é prefeito sem salário de Sapezal
Novo rei da soja é antítese do antecessor

do enviado especial a Sapezal

André Antonio Maggi, 70, o novo rei da soja, é a antítese de Olacyr de Moraes, seu antecessor no trono de maior produtor do grão no Brasil. É avesso a badalações e tem um estilo de vida simples.
Sempre em mangas de camisa, ele passa 2/3 do mês em Sapezal (MT), onde além de empresário é também o prefeito. Mora na Fazenda Tucunaré, numa casa que, até há algumas semanas, era feita apenas de tábuas de madeira.
A residência está passando por uma reforma. Estão sendo erguidas paredes de alvenaria e a sala está sendo ampliada.
Enquanto isso, o dono continua a morar nela -junto com alguns funcionários mais graduados. Não há piscinas nem quadras de tênis. O único ``luxo'' é uma pista de pouso, a alguns metros da sala.
O resto dos dias do mês, Maggi gasta em viagens pelas várias cidades onde seu grupo mantém empreendimentos: Curitiba e São Miguel do Iguaçu, no Paraná, e Rondonópolis, no Mato Grosso.
Maggi costuma acordar na hora que Moraes, um habituê de casas noturnas, costuma ir para a cama. Está de pé às 4h. Às vezes antes, como atestam auxiliares seus que já foram convocados para uma reunião às 3h30 da madrugada.
Nas viagens, nada de jatinhos. Usa um modesto monomotor de fabricação nacional. Um modelo mais sofisticado, com dois motores, caiu com ele a bordo perto do aeroporto de Curitiba, há cerca de dois meses.
Maggi ainda usa alguns curativos nos braços para proteger pequenas feridas de queimadura que sobraram do acidente. ``Eu voltei para apanhar minha maleta. Aí o motor explodiu e o fogo entrou pela cabine'', explica, com naturalidade.
Inquirido sobre o que havia de tão importante dentro da pasta que justificasse o risco, diz que ``apenas documentos e anotações''.
O fato é que, na madrugada seguinte ao acidente, depois de mais uns dois ou três vôos, ele já estava em Sapezal (MT), trabalhando. ``O peru morre na véspera, o homem só morre no dia'', diz.
Ele sabe do que fala. Em 1987, sofreu um acidente de carro que lhe custou dois anos de recuperação. Foram oito operações para a implantação de placas metálicas no lugar dos ossos.
Quando já conseguia andar, voltou a Sapezal para inspecionar as obras de uma estrada que estava abrindo. ``Era chato porque a muleta afundava na terra'', relembra.
A Chapada dos Parecis, que descobriu em 1984, é seu xodó. Após construir Sapezal e emancipá-la, elegeu-se para a prefeitura, pelo PDT, em 1996. Para se candidatar, fez duas exigências: que não houvesse disputa e que o prefeito e os vereadores, por lei, não tivessem salários. Assim foi.
``O município é novo e precisa de dinheiro para investir.'' Ele está conseguindo o que quer: 69% dos cerca de R$ 140 mil da receita mensal da prefeitura são gastos em investimento.
Na política, Maggi é um empresário. Irrita-se com as exigências de fazer licitação para compras da prefeitura. Gostaria de barganhar o preço e pagar à vista -como já fez várias vezes, mas com dinheiro do próprio bolso.
``É mais difícil ser prefeito do que empresário. Há muitas limitações burocráticas'', afirma.
Para o futuro, ele planeja elevar a área plantada de sua fazenda em Sapezal de 36 mil hectares para 60 mil hectares. No município, ele diz que o salto pode ser de 162 mil hectares plantados para 500 mil ha.
``Eu acredito que a Chapada dos Parecis, por sua localização e condições, pode produzir a soja mais barata do mundo'', afirma.
Filho de pai italiano e mãe alemã, Maggi nasceu em Torres, no litoral gaúcho. De lá, mudou-se para São Miguel do Iguaçu (PR), onde, de empilhador de tábuas numa madeireira, passou a sócio e, em seguida, a dono. Nos anos 60, com o fim do ciclo da madeira, começou a plantar soja.
Nos 70, expandiu os negócios para o sul de Mato Grosso, abrindo armazéns e fazendas na região de Rondonópolis. Na década passada, chegou à Chapada dos Parecis.
Tem três filhas e um filho, Blairo, vice-presidente do grupo. ``Ele é formado em agronomia e administração. Eu só tenho o primário, mas dou um banho nele em questões agrícolas'', brinca.
O filho também tem cargos na política. É suplente do senador Jonas Pinheiro e deve assumir a vaga nos dois últimos anos de mandato. ``Ele é provável candidato a governador em 2002'', diz o pai.
Não é preciso perguntar a André Maggi se ele pretende continuar na ativa por muito tempo. Seu pai vai completar 99 anos em breve. (JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO)

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