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NOVO OESTE
O empresário André Maggi mora em casa de madeira, acorda às 4h e é prefeito sem salário de Sapezal
Novo rei da soja é antítese do antecessor
do enviado especial a Sapezal
André Antonio Maggi, 70, o novo rei da soja, é a antítese de Olacyr
de Moraes, seu antecessor no trono de maior produtor do grão no
Brasil. É avesso a badalações e tem
um estilo de vida simples.
Sempre em mangas de camisa,
ele passa 2/3 do mês em Sapezal
(MT), onde além de empresário é
também o prefeito. Mora na Fazenda Tucunaré, numa casa que,
até há algumas semanas, era feita
apenas de tábuas de madeira.
A residência está passando por
uma reforma. Estão sendo erguidas paredes de alvenaria e a sala está sendo ampliada.
Enquanto isso, o dono continua
a morar nela -junto com alguns
funcionários mais graduados. Não
há piscinas nem quadras de tênis.
O único ``luxo'' é uma pista de
pouso, a alguns metros da sala.
O resto dos dias do mês, Maggi
gasta em viagens pelas várias cidades onde seu grupo mantém empreendimentos: Curitiba e São Miguel do Iguaçu, no Paraná, e Rondonópolis, no Mato Grosso.
Maggi costuma acordar na hora
que Moraes, um habituê de casas
noturnas, costuma ir para a cama.
Está de pé às 4h. Às vezes antes,
como atestam auxiliares seus que
já foram convocados para uma
reunião às 3h30 da madrugada.
Nas viagens, nada de jatinhos.
Usa um modesto monomotor de
fabricação nacional. Um modelo
mais sofisticado, com dois motores, caiu com ele a bordo perto do
aeroporto de Curitiba, há cerca de
dois meses.
Maggi ainda usa alguns curativos
nos braços para proteger pequenas
feridas de queimadura que sobraram do acidente. ``Eu voltei para
apanhar minha maleta. Aí o motor
explodiu e o fogo entrou pela cabine'', explica, com naturalidade.
Inquirido sobre o que havia de
tão importante dentro da pasta
que justificasse o risco, diz que
``apenas documentos e anotações''.
O fato é que, na madrugada seguinte ao acidente, depois de mais
uns dois ou três vôos, ele já estava
em Sapezal (MT), trabalhando.
``O peru morre na véspera, o homem só morre no dia'', diz.
Ele sabe do que fala. Em 1987, sofreu um acidente de carro que lhe
custou dois anos de recuperação.
Foram oito operações para a implantação de placas metálicas no
lugar dos ossos.
Quando já conseguia andar, voltou a Sapezal para inspecionar as
obras de uma estrada que estava
abrindo. ``Era chato porque a muleta afundava na terra'', relembra.
A Chapada dos Parecis, que descobriu em 1984, é seu xodó. Após
construir Sapezal e emancipá-la,
elegeu-se para a prefeitura, pelo
PDT, em 1996. Para se candidatar,
fez duas exigências: que não houvesse disputa e que o prefeito e os
vereadores, por lei, não tivessem
salários. Assim foi.
``O município é novo e precisa
de dinheiro para investir.'' Ele está
conseguindo o que quer: 69% dos
cerca de R$ 140 mil da receita mensal da prefeitura são gastos em investimento.
Na política, Maggi é um empresário. Irrita-se com as exigências
de fazer licitação para compras da
prefeitura. Gostaria de barganhar
o preço e pagar à vista -como já
fez várias vezes, mas com dinheiro
do próprio bolso.
``É mais difícil ser prefeito do
que empresário. Há muitas limitações burocráticas'', afirma.
Para o futuro, ele planeja elevar a
área plantada de sua fazenda em
Sapezal de 36 mil hectares para 60
mil hectares. No município, ele diz
que o salto pode ser de 162 mil hectares plantados para 500 mil ha.
``Eu acredito que a Chapada dos
Parecis, por sua localização e condições, pode produzir a soja mais
barata do mundo'', afirma.
Filho de pai italiano e mãe alemã,
Maggi nasceu em Torres, no litoral
gaúcho. De lá, mudou-se para São
Miguel do Iguaçu (PR), onde, de
empilhador de tábuas numa madeireira, passou a sócio e, em seguida, a dono. Nos anos 60, com o
fim do ciclo da madeira, começou
a plantar soja.
Nos 70, expandiu os negócios
para o sul de Mato Grosso, abrindo
armazéns e fazendas na região de
Rondonópolis. Na década passada, chegou à Chapada dos Parecis.
Tem três filhas e um filho, Blairo,
vice-presidente do grupo. ``Ele é
formado em agronomia e administração. Eu só tenho o primário,
mas dou um banho nele em questões agrícolas'', brinca.
O filho também tem cargos na
política. É suplente do senador Jonas Pinheiro e deve assumir a vaga
nos dois últimos anos de mandato.
``Ele é provável candidato a governador em 2002'', diz o pai.
Não é preciso perguntar a André
Maggi se ele pretende continuar na
ativa por muito tempo. Seu pai vai
completar 99 anos em breve.
(JOSÉ
ROBERTO DE TOLEDO)
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