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QUESTÃO AGRÁRIA
Para líder do MST, sem-terra serão "desobedientes'; Gilmar Mauro vê "fujimorização" de FHC
"Voltaremos com mais força", diz Rainha
da Agência Folha, em Salvador
da Reportagem Local
Um dia depois de
recuar de suas invasões de prédios públicos, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra) afirma que vai voltar a
agir contra o governo.
Para o dirigente José Rainha Júnior, os sem-terra vão voltar com
""mais força". "Hoje (ontem) os
sem-terra estão voltando para
suas casas, mas tenha certeza de
que voltaremos em breve com
muito mais força", disse, sem dar
previsão para as novas ações.
"Não vamos declarar nossa tática,
cabe ao governo interpretar do
jeito que ele quiser."
"Vamos ser sempre desobedientes a essa legislação que está
aí, a essa democracia que serve só
para beneficiar a meia dúzia de ricos, para absolver banqueiros e
corruptos", afirmou.
Rainha classificou de "conversa
fiada" o pacote de medidas adotado pelo governo federal para desestimular invasões de terra.
"Esse pacote não serve para nada. O governo não tem o que dizer
para a sociedade e fica com essa
conversa. O que o presidente Fernando Henrique e o ministro
Raul Jungmann devem fazer é desapropriar terras vistoriadas e parar de ficar conversando fiado
com a sociedade brasileira", afirmou o dirigente ontem, em Salvador (BA).
José Rainha volta na próxima
terça-feira para o Pontal do Paranapanema (extremo oeste de SP).
"Espero que o (o governador
paulista Mário) Covas não tome
as mesmas medidas do (Jaime)
Lerner (governador do Paraná) e
não manche a reforma agrária
com sangue. Do jeito que ele está
nos tratando, está querendo isso."
Para o diretor do MST Gilmar
Mauro, o pacote antiinvasão
anunciado pelo governo caracteriza "um processo acelerado de
fujimorização do governo Fernando Henrique Cardoso". A
comparação refere-se ao presidente do Peru, Alberto Fujimori,
que fechou o Parlamento do país
em 1992.
Mauro disse que as medidas elevarão a insatisfação no campo. "É
como uma represa que vai enchendo e uma hora se rompe. Isso
(as medidas do governo) só aumenta nossa vontade de lutar.
Não vamos nos intimidar, e as
ocupações continuarão", disse.
Mauro admitiu que o movimento foi obrigado a recuar após
o endurecimento da posição do
governo, mas evitou usar a palavra "derrota".
"A luta social tem de conciliar a
razão e a emoção. Usando a razão,
decidimos dar um passo atrás, para evitar mais mortes e feridos",
afirmou. O pacote, na opinião dele, é resultado da ""queda de popularidade do governo".
(MARCOS VITA e FABIO ZANINI)
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