São Paulo, sábado, 06 de maio de 2000


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QUESTÃO AGRÁRIA
Para líder do MST, sem-terra serão "desobedientes'; Gilmar Mauro vê "fujimorização" de FHC
"Voltaremos com mais força", diz Rainha

da Agência Folha, em Salvador

da Reportagem Local


Um dia depois de recuar de suas invasões de prédios públicos, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) afirma que vai voltar a agir contra o governo.
Para o dirigente José Rainha Júnior, os sem-terra vão voltar com ""mais força". "Hoje (ontem) os sem-terra estão voltando para suas casas, mas tenha certeza de que voltaremos em breve com muito mais força", disse, sem dar previsão para as novas ações. "Não vamos declarar nossa tática, cabe ao governo interpretar do jeito que ele quiser."
"Vamos ser sempre desobedientes a essa legislação que está aí, a essa democracia que serve só para beneficiar a meia dúzia de ricos, para absolver banqueiros e corruptos", afirmou.
Rainha classificou de "conversa fiada" o pacote de medidas adotado pelo governo federal para desestimular invasões de terra.
"Esse pacote não serve para nada. O governo não tem o que dizer para a sociedade e fica com essa conversa. O que o presidente Fernando Henrique e o ministro Raul Jungmann devem fazer é desapropriar terras vistoriadas e parar de ficar conversando fiado com a sociedade brasileira", afirmou o dirigente ontem, em Salvador (BA).
José Rainha volta na próxima terça-feira para o Pontal do Paranapanema (extremo oeste de SP).
"Espero que o (o governador paulista Mário) Covas não tome as mesmas medidas do (Jaime) Lerner (governador do Paraná) e não manche a reforma agrária com sangue. Do jeito que ele está nos tratando, está querendo isso."
Para o diretor do MST Gilmar Mauro, o pacote antiinvasão anunciado pelo governo caracteriza "um processo acelerado de fujimorização do governo Fernando Henrique Cardoso". A comparação refere-se ao presidente do Peru, Alberto Fujimori, que fechou o Parlamento do país em 1992.
Mauro disse que as medidas elevarão a insatisfação no campo. "É como uma represa que vai enchendo e uma hora se rompe. Isso (as medidas do governo) só aumenta nossa vontade de lutar. Não vamos nos intimidar, e as ocupações continuarão", disse.
Mauro admitiu que o movimento foi obrigado a recuar após o endurecimento da posição do governo, mas evitou usar a palavra "derrota".
"A luta social tem de conciliar a razão e a emoção. Usando a razão, decidimos dar um passo atrás, para evitar mais mortes e feridos", afirmou. O pacote, na opinião dele, é resultado da ""queda de popularidade do governo".
(MARCOS VITA e FABIO ZANINI)


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