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REBELIÃO NA BASE
Medida provisória é rejeitada por 33 votos a 31, e 2 abstenções
MP dos Bingos cai no Senado,
e Lula sofre sua maior derrota
RAQUEL ULHÔA
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sofreu ontem
sua maior derrota no Congresso
Nacional. O Senado derrubou ontem a medida provisória que
proibiu os bingos e as máquinas
"caça-níqueis" no país. A MP foi
editada em resposta ao escândalo
Waldomiro Diniz, na época assessor do Palácio do Planalto, filmado pedindo propina a um empresário. A gravação foi feita em
2002, mas a fita só foi divulgada
em 13 de fevereiro deste ano.
Os jogos podem voltar a funcionar hoje, segundo entidades do
setor. O presidente da Abrabin
(Associação Brasileira dos Bingos), Olavo Sales da Silveira, que
acompanhou a votação no Senado, disse que a orientação é que as
1.100 casas de bingo reabram assim que a decisão for publicada.
O Senado nem chegou a apreciar o mérito da MP. O que os senadores rejeitaram, por 33 votos a
31 (e duas abstenções) foi a "urgência e relevância" da questão,
um dos requisitos para a edição
de uma medida provisória. Eles
avaliaram que o assunto não era
urgente a ponto de justificar a edição de uma MP, e deveria ter sido
tratado em um projeto de lei, com
tramitação mais demorada. O
placar inicial registrou 32 votos a
31, com três abstenções, mas o
peemedebista Sérgio Cabral (RJ),
que se absteve, retificou seu voto e
se posicionou contra a MP. Com
isso, a ata da sessão elevará para
33 o número de votos contrários.
Entre os senadores que votaram
contra o governo, oito são de partidos aliados (6 do PMDB, 1 do PL
e 1 um do PSB). Os dois que se
abstiveram são da ala governista
do PFL: Roseana Sarney (MA) e
João Ribeiro (TO). O processo de
votação durou mais de duas horas, durante as quais houve bate-boca entre senadores governistas
e da oposição. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),
chegou a ameaçar interromper a
sessão, se o tumulto continuasse.
O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), não estava presente. Ele viajou para assistir ao
enterro do pai de sua primeira
mulher, Jane Chiriac.
"Entramos numa situação muito mais grave do que a anterior.
Liberou geral. Foi uma derrota
para o país", afirmou a líder do
PT, Ideli Salvatti (SC). Para ela, a
"jogatina" voltará a funcionar
sem controle, dando margem "à
permissividade e lavagem de dinheiro".
O relator, Maguito Vilela
(PMDB-GO), havia proposto ao
governo e à oposição a aprovação
da MP sem modificação e a criação de uma comissão mista para,
em 30 dias, propor a regulamentação apenas dos bingos. Não
houve acordo. O senador Leomar Quintanilha
(PMDB-TO) apresentou uma
emenda à MP que mantinha os
bingos de cartela. A tendência do
plenário era apoiar essa emenda.
Mas o ministro Aldo Rebelo
(Coordenação Política), em conversa por telefone com a líder do
PT, orientou pela rejeição da proposta. "Ele me disse que seria uma
temeridade aceitar esse acordo",
afirmou a petista.
"Entre fazer um acordo e sofrer
a derrota, o governo ficou com a
segunda alternativa", disse o líder
do PMDB, Renan Calheiros (AL),
que defendeu a posição do governo. "Foi uma derrota calculada. O
governo estaria diante de uma
brutal contradição", afirmou.
Argumento
O principal argumento da oposição contra a admissibilidade da
MP -ou seja, os princípios de relevância e urgência exigidos pela
Constituição- foi a divergência
das posições manifestadas pelo
governo sobre os bingos antes e
depois de o caso Waldomiro Diniz vir a público.
"O governo enviou ao Congresso em fevereiro, durante a instalação dos trabalhos legislativos,
uma mensagem dizendo que iria
regulamentar o funcionamento
dos bingos. Dias depois, com a celeuma criada pelo escândalo Waldomiro Diniz, o governo editou a
medida provisória proibindo os
jogos, para desviar o foco principal da crise", disse o líder do
PSDB, Arthur Virgílio (AM).
O peemedebista Sérgio Cabral
(RJ) -que durante a votação se
absteve, mas depois retificou e
disse que era contra a admissibilidade da MP- afirmou que a medida não tinha urgência nem relevância. "O caso Cachoeira não
significa poder extinguir 200 mil
empregos de supetão", afirmou.
Agora, o Congresso terá de
aprovar um decreto-legislativo
em até 60 dias definindo as consequências jurídicas dos efeitos que
a proibição causou.
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