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Nove índios são feridos em conflito em reserva de RR
Confronto foi contra seguranças de fazenda de arrozeiro na Raposa/Serra do Sol
Três indígenas em estado
mais grave foram levados
para Boa Vista; os dois lados
têm versões distintas para o
início da briga em Roraima
ANDREZZA TRAJANO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM PACARAIMA (RR)
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
Oito índios foram feridos a tiros por seguranças de uma fazenda do arrozeiro e prefeito de
Pacaraima, Paulo César Quartiero (DEM), no interior da terra indígena Raposa/Serra do
Sol, em Roraima. Além deles,
outro indígena ficou ferido com
coronhadas de revólver.
Segundo o delegado da Polícia Federal Everaldo Eguchi, o
conflito ocorreu na região do
Surumu, em Pacaraima, após a
chegada de cerca de cem índios
ligados ao CIR (Conselho Indígena de Roraima) à fazenda Depósito, de Quartiero.
Pela manhã, o delegado recebeu a informação sobre a movimentação dos índios. Foi informado também que "pistoleiros" contratados pelo arrozeiro
estariam chegando à área. Decidiu, então, enviar uma equipe
ao local. Com a chegada dos índios pela manhã, o arrozeiro
mandou que funcionários da
fazenda os expulsassem.
Segundo Quartiero, eles foram recebidos a flechadas pelos
indígenas e reagiram com tiros
e bombas. Já o CIR disse que os
homens chegaram atirando,
munidos, entre outras armas,
de espingardas calibre 12 e de
bombas de fabricação caseira.
O delegado da PF informou
que, dos 9 índios feridos, seis
-5 deles com ferimentos provocados por tiros- foram socorridos em um carro da Funai
e levados ao hospital de Pacaraima. Outros três índios que
receberam tiros, em estado
mais grave, foram de avião para
Boa Vista. Um deles teria levado um tiro no rosto. Segundo o
CIR, eram dez os feridos.
Ontem, o ministro Tarso
Genro (Justiça) disse em Manaus que vai se deslocar hoje
para Roraima para acompanhar os desdobramentos do
conflito. "Orientamos que a PF
aja com a mesma cautela que
agiu quando ocorreu a resistência paramilitar dos fazendeiros.
São resistências inaceitáveis."
"Entrevero"
"Eles [os seguranças] foram
lá exigir a retirada [dos índios].
Era uma ordem. Foram recebidos a flechadas. Deu um entrevero e aí teve como resultado
vários feridos. A ordem que dei
[aos seguranças] é defender as
fazendas. Eles atiraram porque
foram flechados. Do meu pessoal [os seguranças] não sei se
tem feridos", disse Quartiero.
Jacir José de Souza, da coordenação do CIR (Conselho Indígena de Roraima), disse que
funcionários de Quartiero chegaram atirando bombas e disparando tiros contra o grupo.
"Os índios resolveram agora
partir para ocupar sua terra. E
vamos ocupar. A terra é nossa.
Desde a homologação [feita em
2005], a terra é nossa. Os jagunços chegaram, todos armados,
atirando bombas e disparando
contra o grupo." Para Souza, os
não-índios que continuam na
reserva "têm de ser punidos".
Até o início da noite não houve prisões relacionadas ao caso.
Os funcionários de Quartiero
fugiram. Quatro índios que estavam na fazenda foram ouvidos pela PF. Um inquérito foi
instaurado. Segundo o delegado da PF, o conflito no interior
da fazenda do arrozeiro foi registrado por uma filmadora que
estava com um dos indígenas.
Para a PF há risco de novos
confrontos na região com a
chegada de mais índios à fazenda. No local do conflito, indígenas armados com foices diziam
que ficariam no local até a saída
de Quartiero da terra indígena.
No final da tarde, cerca de 20
homens, entre agentes federais
e soldados da Força Nacional
de Segurança, reforçavam o policiamento. Mais índios chegaram à fazenda em caminhões.
Em abril de 2005, o presidente Lula assinou o decreto homologando a reserva. Em abril
deste ano, a PF chegou à região
para a operação de retirada dos
arrozeiros, quando teve início
uma série de protestos. Roraima pediu e, em caráter liminar,
o STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a ação. O Supremo julgará o mérito da ação
neste semestre.
Colaborou KÁTIA BRASIL ,
da Agência Folha, em Manaus
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