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Gabeira pede que exílio conte para aposentar
Comissão julgará se tempo em que ele passou fora do país na ditadura vale para pagamento de pensão
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça vai julgar,
amanhã, um pedido do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ)
para que a União considere o
tempo em que foi exilado, na
época da ditadura militar, para
efeito de aposentadoria.
Gabeira, que participou do
seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick, em
1969, viveu nove anos fora do
país, de 1971 a 1979. Na Suécia,
trabalhou como maquinista de
metrô e como jornalista numa
rádio sueca. Ele alega não poder confirmar o tempo trabalhado na época da ditadura para poder se aposentar.
O pedido já causa polêmica.
Há um mês, o prefeito do Rio,
Cesar Maia (DEM), disse em
seu ex-blog: "Imagine se todos
os exilados, presos, que ficaram
na clandestinidade, pedissem
essa contagem? Quem pagaria,
se não os cofres do Tesouro,
aliás, da Previdência Social?"
Gabeira criticou a Comissão
de Anistia, no mês passado,
quando foram concedidas indenizações de até R$ 1 milhão a
jornalistas como Ziraldo. Disse
considerar que "as indenizações deveriam ser restritas a
casos graves que não foram reparados". Ontem, ele reagiu
com surpresa ao ser informado
pela Folha de que seu pleito será julgado amanhã. "Colocaram isso [em pauta] para me
embaraçar."
FOLHA - O seu pedido à Comissão
de Anistia será julgado na quarta.
FERNANDO GABEIRA - [irônico]
Colocaram isso para me embaraçar, talvez.
FOLHA - Como foi feito o pedido?
GABEIRA - Eu pedi para contarem, para efeito de aposentadoria, os anos que passei no exílio.
Foram nove anos. Não tenho
condições de demonstrar claramente que eu trabalhei.
Os dois jornais em que trabalhei, "O Binômio" e o "Panfleto", foram empastelados. O
"Diário da Noite" e o "Última
Hora" fecharam. Para pedir
aposentadoria, preciso disso.
Mas demoraram tanto que não
preciso mais. Já tenho 67 anos,
50 de trabalho. Estão fazendo
isso para me embaraçar. Estão
tentando.
FOLHA - Quando foi feito o pedido?
GABEIRA - Em 2003. Eu estava
saindo do governo, do PT, e não
sabia o que viria pela frente. Poderia enfrentar dificuldades e,
numa situação de emergência,
pensei que poderia recorrer a
uma aposentadoria. Por isso
entrei com esse pedido.
FOLHA - O senhor criticou a Comissão quando ela concedeu anistia a
outras pessoas.
GABEIRA - Eu critiquei porque...
O meu caso, não acho que tenha sido fora do comum. Eu
não tenho como demonstrar
que trabalhei. Se me disserem
sim, vou ter apenas um tempo
contado para a aposentadoria.
Não vou receber indenização.
Era um pedido tão banal! E só
tenho resposta em 2008?
FOLHA - E agora?
GABEIRA - Para mim, não tem
problema nenhum: desde já digo que não vou usar esse tempo
[de contagem para aposentadoria]. Não vou me aposentar.
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