Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRIME EM CAMPINAS
Roseana Garcia diz que tese da Promotoria é absurda e que morte do prefeito interessava a muita gente
Viúva de Toninho pede apuração federal sobre morte
RICARDO BRANDT
EDITOR DA FOLHA CAMPINAS
Mais de dois anos após o assassinato do prefeito de Campinas
Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, sua viúva, a psicóloga
Roseana Garcia, faz a última investida para tentar provar que o
crime foi encomendado, contrariando as conclusões do Ministério Público Estadual.
A denúncia acatada pela Justiça
considera que Toninho foi morto
pela quadrilha do seqüestrador
Wanderson Nilton de Paula Lima,
o Andinho, durante a fuga de uma
tentativa frustrada de seqüestro.
O carro do prefeito, em baixa velocidade, teria atrapalhado a fuga.
Toninho foi morto em 10 de setembro de 2001. Há cerca de 15
dias, Roseana foi a Brasília para
tentar entregar ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva um abaixo-assinado com 57 mil assinaturas
pedindo a reabertura do caso.
Folha - O Ministério Público e a
Polícia Civil têm convicção de que o
assassinato de Toninho foi casual.
Por que você não aceita essa tese?
Roseana Garcia - Crime casual é
uma coisa quase absurda. Essa tese não se sustenta. Não foi feita
nem a reconstituição do caso fidedignamente. Fizeram só uma simulação. Estava tudo desfigurado
no local. A tese da polícia é de que
2 km antes houve uma tentativa
de seqüestro e na fuga ele foi assassinado. Mas estão todos mortos, menos o Andinho, que diz
que não estava lá. Li uma notícia e
estou preocupada. Dizia que o
Andinho articula seqüestros de
dentro da cadeia. Ele não tem capacidade para isso. Estou com
medo de que ele morra.
Folha - Por quê?
Roseana - Ele é a única pessoa viva nesse caso e que pode contar
por que cometeram o crime.
Amanhã pode ter uma rebelião e
ele aparecer morto.
Folha - O que a faz crer que o crime foi cometido a mando? A quem
interessaria a morte do Toninho?
Roseana - A muita gente.
Folha - Nomes?
Roseana - Primeiro que o Antonio, quando foi vice-prefeito da
outra vez [1986-1987], fez denúncias de cartas marcadas em licitações e de superfaturamento. Ele
denunciou o VLT [Veículo Leve
sobre Trilhos, sistema de trens licitado, mas nunca efetivado], que
não existe. Foi uma ação popular
contra o [Orestes] Quércia, que
era o governador, contra a Prefeitura de Campinas e contra uma
empreiteira. São milhões de dólares. Também moveu uma ação
popular no contrato do lixo na
época do Jacó [Bittar, ex-prefeito]. Um shopping iria ser feito
aqui em Campinas, no campo de
treino do Guarani, e isso foi encaminhado para a CPI do Narcotráfico. O terreno é público. Foi o Toninho que conseguiu impedir a
construção do shopping.
Folha - Mas por que a questão do
shopping foi levada para à CPI?
Roseana - Porque é lavagem de
dinheiro. O Antonio não deu o alvará de funcionamento a um bingo. Negou duas vezes. Foi assassinado em setembro e, em dezembro, o bingo já funcionava. Tem
muita gente feliz nessa cidade.
Folha - A sra. vê relação entre a
morte de Toninho e a do prefeito
de Santo André Celso Daniel?
Roseana - Não sei. Num primeiro momento, até achei que podia
ter. Não conhecia Santo André,
não conhecia Daniel. Mas lá acho
que o caso pode ser mais político,
pode até esbarrar no PT. Aqui em
Campinas não tem essa ligação.
Folha - A sra. vê um interesse político na morte de Toninho?
Roseana - Narcotráfico envolve
empresários e políticos.
Folha - Quais são os pontos falhos
da investigação?
Roseana - O caso teve várias versões. Primeiro foi a dos quatro
meninos em duas motos. Foi uma
versão da polícia de Campinas.
Essa mesma polícia foi a Caraguatatuba [SP] e matou todos os que
possivelmente estariam no carro
de onde saíram os disparos. Que
interesse teriam? Houve outros
problemas. A única coisa que une
a quadrilha do Andinho ao caso é
a suposta ligação entre o tiro dado
na tentativa de seqüestro minutos
antes e o tiro que matou Antonio.
Folha - Por que a senhora quer
uma apuração federal no caso?
Roseana -Porque a polícia de
São Paulo não investigou o crime.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Janio de Freitas: Escola do crime Índice
|