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JANIO DE FREITAS
Os fora-da-lei
A possibilidade, típica desse governo, de que seja um agente secreto seu o autor do desmoralizante grampo no BNDES levou a
Presidência da República a se expor em uma prática muito mais
grave, do ponto de vista legal, que
a do grampeador. As inúmeras referências ao pessoal e às atividades da Abin, Agência Brasileira
de Inteligência, expuseram oficialmente o funcionamento ilegal
de um órgão que só poderia existir com a aprovação, inexistente,
das duas Casas do Congresso.
Esse SNI criado por Fernando
Henrique Cardoso tramita no
Congresso, sob a forma de projeto,
desde meados de 97. Sua inesperada frequência no noticiário
provocou o empenho do governo
para que o Senado o vote depressa, o que a obediência da Casa
dispõe-se a fazer nesta semana.
Mas o chefe do Gabinete Militar
da Presidência, general Alberto
Cardoso, já mencionou o número
de agentes, nomes de arapongas,
o funcionamento de agências nos
Estados, o nome do chefe dos espiões no Rio. Muito mais do que o
necessário para demonstrar, por
ingenuidade ou desinteligência, o
pleno funcionamento da Abin em
total ilegalidade.
O novo SNI tem um custo, por
certo alto, e, seja qual for a rubrica orçamentária que o envolve, é
coberto pelo Tesouro Nacional. Se
a sua existência não atende ao
exigido pela Constituição, também o uso de verbas do Tesouro
para montá-lo e mantê-lo está à
margem da lei. É desvio de dinheiro público.
Se mesmo a partir de agora fosse
razoável esperar algum respeito
às leis, por imposição do Congresso ou do Judiciário, os que receberam pagamento na Abin teriam
que devolvê-lo. Os que autorizaram essas e outras despesas teriam que ressarcir os cofres públicos. E por aí afora, sem prejuízo
das sanções penais.
Tudo o que se pode ver, porém,
são os dois criadores do novo SNI,
Fernando Henrique e seu primo
Alberto Cardoso, pagando (i)moralmente por relegarem, chegados
ao poder, a lição que receberam
com a existência do SNI autêntico.
Pelo saber
Está aí uma atitude da oposição
que merece até ganhar as ruas,
em vez de ficar restrita ao Congresso, onde o servilismo da maioria governista é invencível. Sem
uma reação expressiva, que deveria mesmo partir dos intelectuais
há tempos em recesso cívico, os
tecnocratas do Ministério da Educação acabam com o crédito educativo.
São centenas de milhares de jovens com poucos recursos financeiros que só têm a oportunidade
de chegar às faculdades, a cada
ano, graças ao crédito educativo.
A pretexto de reformar esse programa social, porém, o que o MEC
faz é inviabilizá-lo com a hipocrisia de não o declarar extinto, simplesmente.
Até os tecnocratas da cúpula do
MEC podem compreender que um
jovem de família sem recursos
não obterá um fiador nas condições necessárias. Nem que possa
pagar 30% do custo do seu curso
no primeiro ano de formado. E,
muito menos, que algum carente
arranjará um banco para co-responsabilizar-se pelo pagamento
do curso se, por qualquer motivo,
o devedor não puder liquidar o
crédito.
Os atrasos de pagamento dos
que deixaram as faculdades têm
subido bastante. Isso se deve, porém, sobretudo ao governo, com
sua política econômica de desemprego e obstrução do mercado de
trabalho aos jovens. Fechar também a oportunidade de estudo a
uma grande parte desses jovens é
monstruoso.
Há inúmeras hipóteses de tratamento humano e inteligente do
atraso e das cautelas para o futuro. Caso não haja reação forte à
monstruosidade, vai prevalecer o
genocídio cultural planejado pelos tecnocratas do MEC.
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