São Paulo, Domingo, 06 de Junho de 1999
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Empreiteiras deram R$ 7,38 mi ao PFL-TO

LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Palmas (TO)

Desde que foi criado, há 11 anos, o Estado do Tocantins transformou-se em um canteiro de obras no centro do país. Sua capital, Palmas, é a cidade que mais cresce no Brasil. Da fartura de obras públicas resulta uma parceria entre o poder político local e as empreiteiras.
O melhor exemplo dessa parceria pôde ser visto nas últimas eleições. As empreiteiras foram responsáveis por 99,85% das doações de campanha recebidas pelo PFL, partido que domina o governo estadual e a Assembléia Legislativa e tem maioria nas bancadas do Senado e da Câmara dos Deputados.
Seis empreiteiras (Andrade Gutierrez, Odebrecht, CBPO, CCM, Conterpav e Umuarama Construção, Terraplanagem e Pavimentação) doaram R$ 7,38 milhões ao PFL, cujo lema nas eleições de 98 era "garantia de progresso". Só R$ 10,5 mil vieram de outras fontes.
Do total doado pelas empreiteiras ao PFL, R$ 2,32 milhões foram para a campanha de reeleição do governador Siqueira Campos. Outro R$ 1,21 milhão foi destinado aos gastos eleitorais da bem-sucedida campanha ao Senado do ex-prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira, filho do governador.
O caso mais flagrante da parceria entre empreiteiras e o PFL de Tocantins acontece com a Andrade Gutierrez e a Odebrecht. As duas empresas juntas doaram R$ 5,84 milhões ao partido, o equivalente a 79% das doações ao PFL em 98. As maiores obras do Estados são tocadas justamente pela Andrade Gutierrez e pela Odebrecht.
As duas empreiteiras formam um consórcio para construir a hidrelétrica do Lajeado, há 54 km de Palmas. Receberão cerca de R$ 500 milhões pela obra, cujo volume de concreto daria para construir dez estádios iguais ao Maracanã.
Em tese, a hidrelétrica é privada. Mas o Estado acaba entrando com recursos e com a articulação política para que a obra saia do papel. "É um empreendimento inteiramente privado, mas o Estado participa como parceiro", define o governador Siqueira Campos, no seu terceiro mandato em Tocantins.
A hidrétrica está sendo construída pelo consórcio Investco. Entre os sócios está a Celtins (Centrais Elétricas do Tocantins), cujo capital está nas mãos da iniciativa privada (51%) e do Estado (49%).
"A Celtins participa (do consórcio), portanto o governo do Estado também participa (na obra da hidrelétrica)", diz o governador.
A hidrelétrica -batizada com o nome de Luís Eduardo Magalhães, um dos caciques do PFL, morto no ano passado- teve em Siqueira Campos um dos seus maiores incentivadores em gabinetes de Brasília. "Ele é um facilitador, um construtor de caminhos", define o vice-presidente-executivo da Investco, João Carlos Rela.

Aeroporto e universidade
As duas empreiteiras também ficaram com dois dos melhores filões de obras no Estado.
A construção do Aeroporto Internacional de Tocantins será iniciada ainda neste mês. O governo federal deve investir, em 99, R$ 27 milhões na obra, que é considerada pela administração do PFL "mais uma conquista do governador Siqueira Campos". O custo total é de R$ 60 milhões.
Nos últimos dois meses, Siqueira Campos se reuniu com diretores da Infraero (estatal que administra aeroportos), com o ministro da Aeronáutica, Walter Brauer, e com o presidente Fernando Henrique Cardoso para garantir os recursos.
O governo do Estado ficou com a responsabilidade de fazer a infra-estrutura de acesso ao aeroporto. A empreiteira encarregada é a Odebrecht.
A Unitins (Universidade do Tocantins) está sendo construída pela Andrade Gutierrez com verbas do Ministério da Educação e do governo do Estado.
São 16 prédios de salas de aula e laboratórios, auditório, reitoria, prefeitura, oficinas, horto, área de piscicultura, ginásio, quadras, piscina, campo de futebol com pista de atletismo e arquibancada.
A dívida de Tocantins atinge hoje US$ 300 milhões. As obras chegaram até o local de trabalho do governador, que atende em gabinete provisório enquanto não termina a reforma do Palácio do Governo, prédio maior que o Palácio do Planalto, onde trabalha FHC.


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