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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Presidente critica a "percepção apressada" dos mercados
Brasileiro pode votar sem
medo, diz FHC na Argentina
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem a
"percepção" dos mercados sobre
o quadro eleitoral brasileiro e ficou a apenas três palavras de repetir o slogan eleitoral de Luiz
Inácio Lula da Silva em campanhas presidenciais anteriores.
"Temos instituições fortes o suficiente para que os brasileiros
possam votar sem medo", disse o
presidente, em entrevista coletiva
no fim da manhã de ontem, ao encerrar-se a 22ª reunião de cúpula
do Mercosul, em Buenos Aires.
Quando voltou, à tarde, ao auditório da Quinta de Olivos, residência oficial do governo argentino e local da reunião, foi provocado: "O senhor quis dizer que o
brasileiro pode votar sem medo
de ser feliz?" (o slogan do PT).
"Não, não", respondeu rindo o
presidente.
A afirmação sobre a solidez das
instituições foi em resposta a uma
pergunta de um jornalista uruguaio sobre se a turbulência nos
mercados se devia ao fator "Lula
da Silva".
Fernando Henrique Cardoso
disse primeiro que a turbulência
está "abrangendo o conjunto da
região (a América Latina), em níveis distintos". Depois, acrescentou: "Há fatores endógenos e exógenos (internos e externos). Como presidente do Brasil, não quero culpar alguém ou um só fator".
Percepção apressada
O presidente criticou o fato de
os mercados terem, na sua visão,
"uma percepção apressada sobre
dados eleitorais e também sobre
consequências eleitorais".
O primeiro ponto (dados eleitorais) é uma maneira muito oblíqua de dizer que ainda é cedo para
tratar a liderança de Lula em todas as pesquisas como um elemento definitivo. Nessa tese têm
insistido o senador José Serra
(PSDB-SP), candidato governista,
e o ministro da Fazenda, Pedro
Malan, entre outras autoridades.
O segundo ponto (consequências eleitorais, ou seja, a eventual
vitória do presidenciável petista)
é um ponto que FHC tem reprisado em todas as suas recentes viagens ao exterior.
O raciocínio que o presidente
expõe, uma e outra vez, é este,
usado ontem: "O que nos interessa é a democracia. Ganhe quem
ganhe vai governar com as instituições, e temos instituições fortes
o suficiente para que os brasileiros possam votar sem medo".
Mas Fernando Henrique Cardoso não foge ao discurso padrão
do situacionismo e dos empresários, ao defender a manutenção
de certas condições econômicas.
Ele diz, por exemplo, que "existe na região hoje uma consciência
clara de manter sob controle a inflação, se não quem paga o preço é
o pobre".
Afirma ainda que existe idêntica
convicção sobre a necessidade de
"manter comércio fluido com
nossos parceiros", além de, como
é óbvio, "defender nossos interesses em fóruns internacionais".
É uma alusão ao fato de que
quase todos os candidatos de
oposição têm críticas às negociações para constituir a Alca (Área
de Livre Comércio das Américas,
prevista para englobar os 34 países americanos, excluída apenas
Cuba). São negociações para liberalizar o comércio.
O problema é que, nessa área
externa, também o candidato de
FHC, o senador José Serra, defende posições mais duras do que as
do atual presidente.
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