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Ruralista teme "conflagração" e diz que MST quer o poder
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE
O presidente nacional da UDR
(União Democrática Ruralista),
Luiz Antonio Nabhan Garcia, 45,
afirma temer que o campo brasileiro caminhe "para uma conflagração", pela falta de atitude do
governo Lula. Nabhan Garcia
afirma que o MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) não quer fazer reforma
agrária, "e sim tomar o poder,
com a transformação de um sistema político vigente".
Com segundo grau completo,
filho e neto de fazendeiros, Nabhan Garcia possui 1.066 hectares
em Sorriso (MT), onde produz
soja, milho e tem pecuária de cria,
e outros 366 hectares em Sandovalina, no Pontal do Paranapanema, em São Paulo.
Na última sexta-feira, o presidente da UDR conversou com a
Agência Folha. Defendeu uma reforma agrária nas fronteiras agrícolas, criticou o governo e referendou a opção pelas armas de
muitos proprietários rurais. A seguir, os principais trechos de sua
entrevista:
Agência Folha - Houve, neste primeiro semestre, um acirramento
na questão agrária. A que o sr. atribui essa situação?
Luiz Antonio Nabhan Garcia - Primeiro, devido ao desvio da função
básica na condução da reforma
agrária, que deveria ser administrativa e não ideológica. Depois,
como o próprio presidente Lula
afirma, o Brasil tem muita terra,
então deveria ser implementada
uma reforma agrária nas fronteiras virgens, não no Sul, Sudeste e
Centro-Oeste, onde está dando
tudo certo, com sucessivos avanços na produtividade.
Agência Folha - A UDR apóia o uso
de armas?
Nabhan Garcia - De forma alguma. Isso não quer dizer que vamos contrariar a decisão de alguns proprietários que hoje estão
em situação de desespero, sem
amparo no aparato legal.
Agência Folha - O sr. apareceu
dando entrevistas na TV logo depois que foram mostrados armamentos pesados em poder dos fazendeiros, como armas exclusivas
das Forças Armadas. O sr. defende
essa postura?
Nabhan Garcia - É preciso deixar
bem claro que a UDR não prega o
armamento nem formação de milícias por parte dos fazendeiros.
Muito menos representa todos os
fazendeiros. Agora, o fato de muitos fazendeiros estarem se armando de forma abusiva nada mais é
que resultado de uma situação de
pânico, desespero e descrença
com alguns setores institucionais.
Agência Folha - O campo caminha
para uma situação de convulsão social?
Nabhan Garcia - Eu diria de conflagração. De um lado, o governo
não faz a reforma agrária como
deveria e, ao mesmo tempo, cede
às pressões de grupamentos, como o MST, que na realidade não
querem a reforma agrária e sim a
transformação de um sistema vigente, para chegar ao poder.
Agência Folha - O sr. disse que o
MST quer o poder?
Nabhan Garcia - Existe um anacronismo estampado nas almas
das lideranças do MST, expressados em Lênin, Marx, Guevara, comandante Marcos e Fidel Castro,
entre outros. Eu respeito as ideologias, mas é inaceitável usar a carapuça dessas pretensões e querer
transformar o MST em um movimento social. Só não enxerga
quem não quer.
Agência Folha - Existe um movimento pela criação do PRB (Partido
Ruralista Brasileiro). O sr. apóia?
Nabhan Garcia - Não. Já existem
partidos demais no Brasil. A UDR
defende que todos os setores ruralistas se unam para fortalecer a
bancada ruralista no Congresso e
cobrar um atuação a favor da
agropecuária. Acho democrático
alguém defender a idéia de uma
partido, mas considero isso desnecessário e extemporâneo.
Agência Folha - Caso o sr. fosse a
uma audiência no Palácio do Planalto, levaria um boné da UDR e
exemplares de sua cachaça tipo exportação ao presidente?
Nabhan Garcia - Não, de forma
alguma. Passamos por um momento delicado e sensível. Portanto, não é hora para brincadeiras. Acho que no caso do encontro do presidente com lideranças
do MST houve desgaste para os
dois lados.
Agência Folha - O que o sr. acha
de uma CPI da Reforma Agrária?
Nabhan Garcia - Se for conduzida com seriedade e rigor, vai ser
desmascarado o lema do MST de
que quer reforma agrária. O montante que foi gasto com a reforma
agrária não cumpriu os objetivos
principais, que eram o econômico
e o social. Uma CPI séria vai colocar muita gente em sérios apuros.
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