DA REPORTAGEM LOCAL

"A primeira-dama tem o direito de cuidar de cada detalhe de sua aparência", afirma o psicanalista Jorge Forbes. Para ele, o casal presidencial simboliza uma nova era, a da globalização, e as críticas são a "angústia do inusitado".
"Temos uma tendência a suportar mal aquilo que não compreendemos. Dizemos que a primeira-dama é uma deslumbrada porque usou jóias emprestadas. Isso é uma discussão reducionista", diz Forbes, que é presidente do Instituto da Psicanálise Lacaniana.
Leia trechos da entrevista:

Folha - Como o sr. vê a conduta de Marisa ao aceitar presentes?
Forbes - A primeira-dama precisa passar para o povo uma idéia coerente com o governo de seu marido. Acho que ela faz muito bem em se preocupar com a aparência. Detalhes da aparência estão vinculados à própria identidade. E ela faz muito bem em cuidar desses detalhes em todos os sentidos, dos cabelos, da pele, das roupas. O querer estar bem não é privilégio da classe dominante.

Folha - Sendo ela uma figura pública, o tema não deveria ser tratado de forma mais transparente?
Forbes - Não acho que ela deva se explicar, mas tenho dificuldade em entender o motivo de ela não falar sobre o tema. Se a Marisa disser que a história de seu filho faz parte do universo privado, acho algo respeitável. Agora, se a pessoa recebe jóias em razão de sua visibilidade pública, não entendo isso como de domínio privado. A discussão existe porque ela é a primeira-dama. Mas acho também que a exploração do caso é inconsequente.

Folha - Por quê?
Forbes - Lula e Marisa são líderes de um novo estilo da globalização, e isso nos surpreende. Nós queremos então encarcerá-los em velhos modelos e em velhas metáforas. Pasmo que no Brasil, que é um país que sempre esteve aberto ao novo, imediatamente, ante certas manifestações do casal, diga que o presidente fere princípios pelos quais foi eleito ou que Marisa perdeu suas raízes operárias. São interpretações reducionistas que acalmam os que não suportam o novo.


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