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São Paulo, domingo, 06 de julho de 2003

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Empresários portugueses elogiam Lula

COLUNISTA DA FOLHA

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Portugal, que começa na noite do dia 9, mistura, sem o querer, esperança e medo, dois elementos que o marketing político da campanha do PT usou habilmente na eleição de 2002. Esperança vem do empresariado português, feliz com o desempenho de Lula nos seus seis primeiros meses de gestão.
"A visão que o empresariado português tem do Brasil e do presidente Lula é manifestamente positiva. O presidente tem sabido atuar, dando uma imagem de grande serenidade e competência, afastando populismos demagógicos que nada mais trazem do que retrocesso na evolução dos países e agravamento das distorções sociais", depõe Jorge Rocha de Matos, presidente da AIP (Associação Industrial Portuguesa).
A avaliação se torna ainda mais significativa quando se sabe que a AIP concedeu ao antecessor de Lula, Fernando Henrique Cardoso, o título de "presidente honorário", em novembro passado.
Como Lula era o crítico mais ácido da gestão de FHC, era lógico imaginar que o empresariado português teria reservas a respeito do seu sucessor.
Rocha de Matos desfaz a impressão: "Não nos choca determinado tipo de linguagem, porventura mais forte, usado em período eleitoral, já que isso é comum em todos os países e não é raro assistir-se ao estabelecimento de coligações de governo entre partidos que usaram, durante a campanha, linguagem que muitas vezes raiou o insulto".
A confiança do empresariado português é obviamente importante, na medida que investiu uma pilha de US$ 9,4 bilhões no Brasil, nos anos FHC.
O presidente da AIP jura que o interesse pelo Brasil "não irá diminuir, antes tenderá a aumentar", mesmo com a expansão da União Européia para incorporar novos países que poderiam ser um pólo de atração de investimentos. "O Brasil assume, nesse contexto, uma importância crucial. É a via para atenuar os riscos de agravamento de nossa perifericidade numa União Européia mais recentrada a Leste."
O medo, durante a visita, estará representado pelos brasileiros que migraram em massa para Portugal nos últimos anos. Lula aproveitará a visita para assinar acordo que permite a legalização da situação de 10 mil deles. São pessoas que têm emprego, mas não têm o visto de permanência, com o que ficam na ilegalidade -e, portanto, com medo.
O acordo será, a rigor, o único ponto objetivo da visita. Como se trata do que o jargão diplomático designa como "visita de Estado", a forma acaba sendo mais importante que o conteúdo.
Mas nem tudo serão flores mesmo levando em conta a percepção favorável que o empresariado local tem de Lula. A diplomacia brasileira está preparada para cobranças sobre respeito a contratos. É uma alusão aos temores de mudanças nos contratos em áreas como telefonia e energia, em que empresas de Portugal (e da Espanha, a última etapa da viagem de Lula) passaram a desempenhar papel importante.
O imbróglio a respeito das tarifas telefônicas causou mal-estar em Lisboa e Madri e tende a emergir na visita.


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