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Empresários portugueses elogiam Lula
COLUNISTA DA FOLHA
A visita do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva a Portugal, que começa na noite do
dia 9, mistura, sem o querer,
esperança e medo, dois elementos que o marketing político da campanha do PT
usou habilmente na eleição
de 2002. Esperança vem do
empresariado português, feliz com o desempenho de
Lula nos seus seis primeiros
meses de gestão.
"A visão que o empresariado português tem do Brasil e
do presidente Lula é manifestamente positiva. O presidente tem sabido atuar, dando uma imagem de grande
serenidade e competência,
afastando populismos demagógicos que nada mais
trazem do que retrocesso na
evolução dos países e agravamento das distorções sociais", depõe Jorge Rocha de
Matos, presidente da AIP
(Associação Industrial Portuguesa).
A avaliação se torna ainda
mais significativa quando se
sabe que a AIP concedeu ao
antecessor de Lula, Fernando Henrique Cardoso, o título de "presidente honorário", em novembro passado.
Como Lula era o crítico
mais ácido da gestão de
FHC, era lógico imaginar
que o empresariado português teria reservas a respeito
do seu sucessor.
Rocha de Matos desfaz a
impressão: "Não nos choca
determinado tipo de linguagem, porventura mais forte,
usado em período eleitoral,
já que isso é comum em todos os países e não é raro assistir-se ao estabelecimento
de coligações de governo entre partidos que usaram, durante a campanha, linguagem que muitas vezes raiou
o insulto".
A confiança do empresariado português é obviamente importante, na medida que investiu uma pilha de
US$ 9,4 bilhões no Brasil,
nos anos FHC.
O presidente da AIP jura
que o interesse pelo Brasil
"não irá diminuir, antes tenderá a aumentar", mesmo
com a expansão da União
Européia para incorporar
novos países que poderiam
ser um pólo de atração de investimentos. "O Brasil assume, nesse contexto, uma importância crucial. É a via para atenuar os riscos de agravamento de nossa perifericidade numa União Européia
mais recentrada a Leste."
O medo, durante a visita,
estará representado pelos
brasileiros que migraram
em massa para Portugal nos
últimos anos. Lula aproveitará a visita para assinar
acordo que permite a legalização da situação de 10 mil
deles. São pessoas que têm
emprego, mas não têm o visto de permanência, com o
que ficam na ilegalidade -e,
portanto, com medo.
O acordo será, a rigor, o
único ponto objetivo da visita. Como se trata do que o
jargão diplomático designa
como "visita de Estado", a
forma acaba sendo mais importante que o conteúdo.
Mas nem tudo serão flores
mesmo levando em conta a
percepção favorável que o
empresariado local tem de
Lula. A diplomacia brasileira
está preparada para cobranças sobre respeito a contratos. É uma alusão aos temores de mudanças nos contratos em áreas como telefonia
e energia, em que empresas
de Portugal (e da Espanha, a
última etapa da viagem de
Lula) passaram a desempenhar papel importante.
O imbróglio a respeito das
tarifas telefônicas causou
mal-estar em Lisboa e Madri
e tende a emergir na visita.
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