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QUESTÃO AGRÁRIA
Proprietário diz que prejuízo com invasão já chega a R$ 50 mil
Sem-terra matam rebanho
com tiros e facões no MS
RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Campo Grande
Trabalhadores
rurais sem terra
mataram ontem
a tiros e com
golpes de facão
42 cabeças de
gado da fazenda
Mestiço, em Itaquiraí (350 km ao sul de Campo
Grande).
A área foi invadida no último dia
18 por cerca de mil famílias ligadas
ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Um dos líderes do acampamento
Eduardo Portela da Silva, 30, disse
que os 7.200 kg de carne obtidos
com o abate "vão saciar a fome
das famílias".
Ontem, os sem-terra voltaram a
apreender 450 das 470 cabeças de
gado que haviam sido liberadas na
semana passada.
O proprietário da fazenda,
Orensy Rodrigues da Silva, 62,
ex-deputado federal e ex-prefeito
de Andradina (SP), disse à Agência
Folha que o prejuízo causado pela
invasão chegou a R$ 50 mil.
Silva negou ter intenção de despejar os sem-terra por conta própria, como vem denunciando o
MST. "Já apelei até para as Forças
Armadas, mas ainda acredito que
haja lei neste país."
O superintendente-adjunto do
Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Paulo
Afonso Condé, 41, anunciou ontem, após saber do abate, que estão
suspensas as negociações com o
MST, que reivindicava 2.163 cestas
básicas para dois acampamentos
da região sul do Estado.
Condé condicionou a retomada
do diálogo à saída das famílias da
fazenda, que possui, segundo seu
proprietário, 4.000 cabeças de gado, incluindo bois reprodutores
importados da Índia e da Argentina. A fazenda foi considerada produtiva pelo Incra em 1995.
As cestas básicas pedidas pelo
MST chegaram a ser colocadas em
dois caminhões na última sexta-feira, mas o Incra suspendeu a
viagem ao saber que os sem-terra
permaneceriam na fazenda mesmo após a entrega dos alimentos.
"Foi um acordo de cavalheiros.
Eu acreditei na palavra dos líderes
de que as famílias deixariam a fazenda", disse Condé.
Portela, do MST, negou que os
sem-terra tivessem decidido ficar
na fazenda. "Nós íamos deixar a
área, mas antes queríamos uma
posição mais clara do Incra sobre o
assentamento das famílias."
Condé informou que a meta do
Incra para este ano é assentar 2.500
famílias no Estado. Como os dois
acampamentos em Itaquiraí foram criados neste ano, ele disse
que o órgão não conseguiu recursos financeiros e pessoal para ampliar a meta anual. "Garantimos
assentar 300 famílias de Itaquiraí
até dezembro", disse Condé.
O dono da fazenda Mestiço, que
possui outras duas fazendas em
São Paulo e Goiás, já obteve na Justiça de Naviraí (MS) uma liminar
de reintegração de posse da propriedade, ainda não cumprida pela
Secretaria da Segurança Pública.
Ontem, o secretário da Segurança, Joaquim d'Assunção Filipi de
Sousa, esteve reunido com o coordenador do Fórum da Questão
Agrária e secretário do Meio Ambiente, Celso Martins, mas o teor
da conversa não foi divulgado.
Feridos
Três sem-terra foram internados
ontem no Hospital Municipal de
Naviraí (MS), a 25 km do acampamento da fazenda Mestiço, após se
ferirem durante o abate do gado.
Maria Aparecida Cardoso, 21, foi
ferida com uma facada na barriga e
teve de ser operada às pressas.
Ela declarou à Polícia Militar que
o corte foi acidental e ocorreu
quando seu marido retalhava um
animal abatido. Maria Aparecida
Cardoso foi internada e está em
observação no hospital.
Os outros dois sem-terra foram
feridos a tiros de espingarda na
barriga por um homem não-identificado.
José Fernando Alves, 32, e Moisés Nascimento, 19, disseram que
os tiros foram acidentais e não correm risco de vida, segundo funcionários do hospital.
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