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NO PLANALTO
Lula sonha em ser Pelé
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A eleição presidencial ainda é uma folha distante no
calendário. Porém, se tivéssemos
de preparar uma lista com previsões para 2002, uma aposta segura seria a de que o nome de Luiz
Inácio Lula da Silva estará na cédula eleitoral.
Dito isso, registre-se o seguinte:
Lula é hoje um homem atormentado pela dúvida.
Ele se comporta como candidato, ostenta discurso de candidato,
segue agenda de candidato, mas,
em seus diálogos privados, abre
uma fresta para a incerteza.
Ouça-se o que declarou, meses
atrás, a um integrante da cúpula
do PT: "Não vou jogar na segunda divisão nem vou ficar no banco de reservas. Quero terminar a
carreira como o Pelé, que soube
escolher a hora de parar".
Há duas semanas, em diálogo
com outro líder petista, Lula voltou a tergiversar: "Ainda não decidi se serei ou não candidato. Só
vou bater o martelo em março
(de 2001), depois de analisar os
resultados da eleição municipal".
Jogo de cena? Talvez. Mas o Lula das conversas entre quatro paredes traz os pés surpreendentemente plantados no solo.
Ele festeja a lealdade de um terço do eleitorado brasileiro. Mas
reconhece que talvez tenha batido no teto. Desapontado, lamenta a rejeição que seu nome inspira. Acha-se vítima de preconceito.
De fato, faz mais de dez anos
que dois terços dos eleitores teimam em armar barricadas para
impedir que ele avance.
Lula volta agora à condição de
candidato mais cotado a eleger o
adversário de plantão.
O beneficiário da vez é Ciro Gomes, eis um sentimento que se generaliza entre os líderes petistas,
mesmo que não seja dito. Não seja dito em público, bem entendido.
Nos subterrâneos do petismo, o
questionamento à candidatura
de Lula deixou de ser tabu.
O marco zero da nova fase foi
um jantar realizado há nove meses, em Brasília, na casa de José
Dirceu. Reuniram-se à volta da
mesa, além do anfitrião, o próprio Lula, Tarso Genro, Cristovam Buarque, José Genoino,
Aloizio Mercadante e Eduardo
Suplicy. O diálogo foi franco.
Suplicy foi o mais direto. Disse
que Lula deveria abrir espaço para que outros nomes do partido
florescessem. Colocou-se, veja você, abertamente como postulante
à Presidência.
Lula disse que enxergava em
muitos dos presentes méritos para concorrer à Presidência. Chegou mesmo a mencionar os nomes de Genro, Cristovam, Mercadante, Genoino e até, veja você
novamente, o de Suplicy. Não
houve quem replicasse.
À exceção de Genoino, que disse preferir a disputa pelo governo
de São Paulo.
Lula foi adiante: precisamos
preparar uma candidatura, disse. Aconselhou os presentes a se
mexerem. Responderam-lhe que
era preciso que ele liderasse o
processo. Nenhuma alternativa
ficaria de pé sem o seu apoio. E
Lula: isso pode acontecer mais
adiante.
Não aconteceu até agora. E cada um foi cuidar da própria vida.
Genro meteu-se na campanha
para prefeito de Porto Alegre,
Cristovam virou mascate do seu
bolsa-escola e Genoino, Suplicy e
Mercadante voltaram-se para os
afazeres legislativos.
O PT tornou-se refém da vontade de Lula. Primeiro colocado
nas pesquisas de opinião, ele é
um favorito curioso. O único que
já entra em campo derrotado.
Na primeira eleição presidencial que disputou, num debate de
TV, Lula virou-se para Maluf e
chamou-o de candidato "competente". E emendou: "Compete,
compete e nunca ganha".
Pois Lula transformou-se no
"competente" da esquerda. Ele é
hoje uma quarta derrota esperando para acontecer.
O PT está prestes a se entregar a
uma de suas atividades prediletas: a lamentação depois do fato.
A quem interessar possa: se
Eduardo Jorge vier a ser fisgado,
não será pelo Imposto de Renda.
Do ponto de vista formal, suas
declarações e as de sua mulher foram consideradas perfeitas. Inclusive a que foi entregue em
2000. Palavra de Leão.
Bobagem: Eduardo Jorge disse no
Senado o seguinte: "(...) Faço o
contrário de lobby (...), auxilio
empresas a entender o processo
de trabalho do governo". Não há
local que o empresariado conheça melhor do que a coxia de um
governo cuja eleição financiou. É
ali que oportunidades e negócios
são farejados.
Nesse mercado, mão-de-obra
com acesso à maçaneta presidencial não é mercadoria que encalhe na prateleira.
Comprando problema: a promoção de Tereza Grossi a posto de
diretoria foi uma imprudência. A
decisão de entregar à Procuradoria do BC a defesa dela é maluquice maior.
Há procurador disposto a brigar na Justiça pelo direito de cruzar os braços nesse caso, sob o argumento de que recebe salário do
contribuinte para defender o interesse público, não as pessoas
acusadas de violá-lo. Armínio
Fraga sujeita-se, de resto, a uma
ação popular.
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