São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2000


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NO PLANALTO

Lula sonha em ser Pelé

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A eleição presidencial ainda é uma folha distante no calendário. Porém, se tivéssemos de preparar uma lista com previsões para 2002, uma aposta segura seria a de que o nome de Luiz Inácio Lula da Silva estará na cédula eleitoral.
Dito isso, registre-se o seguinte: Lula é hoje um homem atormentado pela dúvida.
Ele se comporta como candidato, ostenta discurso de candidato, segue agenda de candidato, mas, em seus diálogos privados, abre uma fresta para a incerteza.
Ouça-se o que declarou, meses atrás, a um integrante da cúpula do PT: "Não vou jogar na segunda divisão nem vou ficar no banco de reservas. Quero terminar a carreira como o Pelé, que soube escolher a hora de parar".
Há duas semanas, em diálogo com outro líder petista, Lula voltou a tergiversar: "Ainda não decidi se serei ou não candidato. Só vou bater o martelo em março (de 2001), depois de analisar os resultados da eleição municipal".
Jogo de cena? Talvez. Mas o Lula das conversas entre quatro paredes traz os pés surpreendentemente plantados no solo.
Ele festeja a lealdade de um terço do eleitorado brasileiro. Mas reconhece que talvez tenha batido no teto. Desapontado, lamenta a rejeição que seu nome inspira. Acha-se vítima de preconceito.
De fato, faz mais de dez anos que dois terços dos eleitores teimam em armar barricadas para impedir que ele avance.
Lula volta agora à condição de candidato mais cotado a eleger o adversário de plantão.
O beneficiário da vez é Ciro Gomes, eis um sentimento que se generaliza entre os líderes petistas, mesmo que não seja dito. Não seja dito em público, bem entendido.
Nos subterrâneos do petismo, o questionamento à candidatura de Lula deixou de ser tabu.
O marco zero da nova fase foi um jantar realizado há nove meses, em Brasília, na casa de José Dirceu. Reuniram-se à volta da mesa, além do anfitrião, o próprio Lula, Tarso Genro, Cristovam Buarque, José Genoino, Aloizio Mercadante e Eduardo Suplicy. O diálogo foi franco.
Suplicy foi o mais direto. Disse que Lula deveria abrir espaço para que outros nomes do partido florescessem. Colocou-se, veja você, abertamente como postulante à Presidência.
Lula disse que enxergava em muitos dos presentes méritos para concorrer à Presidência. Chegou mesmo a mencionar os nomes de Genro, Cristovam, Mercadante, Genoino e até, veja você novamente, o de Suplicy. Não houve quem replicasse.
À exceção de Genoino, que disse preferir a disputa pelo governo de São Paulo.
Lula foi adiante: precisamos preparar uma candidatura, disse. Aconselhou os presentes a se mexerem. Responderam-lhe que era preciso que ele liderasse o processo. Nenhuma alternativa ficaria de pé sem o seu apoio. E Lula: isso pode acontecer mais adiante.
Não aconteceu até agora. E cada um foi cuidar da própria vida. Genro meteu-se na campanha para prefeito de Porto Alegre, Cristovam virou mascate do seu bolsa-escola e Genoino, Suplicy e Mercadante voltaram-se para os afazeres legislativos.
O PT tornou-se refém da vontade de Lula. Primeiro colocado nas pesquisas de opinião, ele é um favorito curioso. O único que já entra em campo derrotado.
Na primeira eleição presidencial que disputou, num debate de TV, Lula virou-se para Maluf e chamou-o de candidato "competente". E emendou: "Compete, compete e nunca ganha".
Pois Lula transformou-se no "competente" da esquerda. Ele é hoje uma quarta derrota esperando para acontecer.
O PT está prestes a se entregar a uma de suas atividades prediletas: a lamentação depois do fato.
  A quem interessar possa: se Eduardo Jorge vier a ser fisgado, não será pelo Imposto de Renda. Do ponto de vista formal, suas declarações e as de sua mulher foram consideradas perfeitas. Inclusive a que foi entregue em 2000. Palavra de Leão.
  Bobagem: Eduardo Jorge disse no Senado o seguinte: "(...) Faço o contrário de lobby (...), auxilio empresas a entender o processo de trabalho do governo". Não há local que o empresariado conheça melhor do que a coxia de um governo cuja eleição financiou. É ali que oportunidades e negócios são farejados.
Nesse mercado, mão-de-obra com acesso à maçaneta presidencial não é mercadoria que encalhe na prateleira.
  Comprando problema: a promoção de Tereza Grossi a posto de diretoria foi uma imprudência. A decisão de entregar à Procuradoria do BC a defesa dela é maluquice maior.
Há procurador disposto a brigar na Justiça pelo direito de cruzar os braços nesse caso, sob o argumento de que recebe salário do contribuinte para defender o interesse público, não as pessoas acusadas de violá-lo. Armínio Fraga sujeita-se, de resto, a uma ação popular.



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