São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2001

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Afiliada da Globo, TV Bahia, de ACM, é acusada de boicotar adversários

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Desde o início da década de 90, quando passou a ser controlada definitivamente por familiares do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), 73, até maio deste ano, o departamento de jornalismo da TV Bahia (afiliada da Globo) sempre foi associado a políticos e administradores carlistas.
A queixa é da oposição no Estado. Entre 93 e 96, quando Salvador era administrada pela hoje deputada estadual Lídice da Mata (PSB), por exemplo, a prefeitura teve que recorrer à Justiça para veicular publicidade na TV Bahia.
"Os diretores do departamento comercial da televisão não veiculavam nada da prefeitura, mesmo a gente pagando o preço da tabela normal", disse o advogado Fernando Schimidt, que na época era secretário de Governo de Lídice.
De acordo com Schimidt, a ex-prefeita nunca foi convidada para participar de programa político ou jornalístico na TV Bahia.
"Para complicar a situação, no começo da administração de Lídice da Mata, o governador da Bahia era Antonio Carlos Magalhães. Todos os dias as obras realizadas pelo Estado eram mostradas em todos os telejornais da emissora. Para a prefeitura, só sobravam as mazelas", afirma.
Duas vezes candidato à Prefeitura de Salvador, o deputado federal Nélson Pellegrino (PT) também reclama do boicote.
"Por oito anos, fui deputado estadual e só apareci uma vez no noticiário da TV Bahia. Mesmo assim, em uma situação em que o favorecido foi ACM", disse.
De acordo com Pellegrino, a sua única entrevista à TV Bahia aconteceu quando o ex-governador Nilo Coelho (PSDB) atropelou um repórter-fotográfico do "Correio da Bahia", jornal administrado por parentes do ex-senador.
"Como presidente da Comissão Estadual de Direitos Humanos, critiquei a ação do ex-governador [que é adversário de ACM". Com isso, a TV Bahia veiculou minha entrevista", disse Pellegrino.
Há dois meses, no entanto, a direção da televisão promoveu mudanças estruturais no departamento de jornalismo. O pivô da mudança foi uma manifestação promovida por estudantes e sindicalistas que defendiam a cassação do ex-senador.
Realizada no Campo Grande (centro), a manifestação terminou com estudantes e policiais feridos. A TV Bahia não tinha as imagens do conflito e o departamento de jornalismo da Globo encaminhou uma carta à filial cobrando profissionalismo.
Ameaçada de perder a concessão, a TV Bahia mudou. Atualmente, os seus três programas jornalísticos já registraram, inclusive, manifestações contra ACM.

Outro lado
A Agência Folha entrou em contato com o departamento de jornalismo da TV Bahia na sexta-feira e ontem.
De acordo com funcionários, o diretor Carlos Libório estava reunido com o senador Antonio Carlos Magalhães Júnior (PFL) e não podia ser interrompido.



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