São Paulo, terça-feira, 06 de agosto de 2002

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CAMPANHA

Criticado por rivais, tucano diz querer bônus por ser identificado a SP

Na Fiesp, Serra se assume como 'o' nome da indústria

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidenciável José Serra (PSDB), em visita ontem à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), fez questão de se apresentar como o candidato da indústria e do desenvolvimento e aproveitou a platéia de empresários para criticar proposta do adversário do PPS, Ciro Gomes, na área tributária.
Para os industriais, Serra definiu como "biográfica" e "do fundo da alma" sua relação com a indústria. Citou o fato de ter nascido em um bairro operário, a Mooca, na zona leste de São Paulo, e de ter trabalhado como deputado pelo setor. "Sempre estive ligado às causas do desenvolvimento."
"É isso que eu defendo. O que representa São Paulo e o que representa a indústria paulista", disse o tucano, explicando que defender o setor seria criar empregos e aumentar a arrecadação, o que beneficiaria o resto do país.
"Os meus adversários falam lá fora que eu sou o candidato da Fiesp. Eu quero o bônus disso", brincou o tucano, com uma platéia formada por 460 industriais. De acordo com a entidade, foi o quórum mais alto entre as visitas dos presidenciáveis, seguido pela exposição de Lula, que contou com 420 empresários.
Ao defender a necessidade de uma reforma tributária que desonere as exportações e acabe com a cumulatividade de impostos, Serra fez uma crítica dura à proposta do candidato do PPS, chamando-a de "fantasia", "coisa do arco-da-velha" e "hilariante". "São digressões, devaneios em matéria tributária", afirmou o candidato.
A proposta de Ciro prevê, entre outros pontos, a taxação do consumo supérfluo, como cigarros, e a diminuição da cobrança de impostos sobre salários.
"Não podemos pegar um pacote embrulhado com papel dourado, sem saber o que tem dentro", disse, referindo-se a Ciro. Na disputa por uma vaga no segundo turno, Serra tem focado suas críticas no candidato do PPS.

Crítica
Apesar da posição crítica de empresários da Fiesp em relação à condução da política econômica, que seria extremamente ortodoxa durante a gestão de Pedro Malan na Fazenda, prejudicando a indústria, alguns industriais declaram apoio a Serra.
O tucano foi crítico das altas taxas de juros no período e a sobrevalorização do câmbio no primeiro mandato de FHC, entrando em conflito com Malan.
"Não é novidade que Serra foi contra a política econômica atual", afirmou o presidente da Invicta, Emmanuel Nóbrega Sobral, que classificou como um "show" a exposição do tucano.
"Vou apoiá-lo", disse o empresário Antônio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, que não foi à palestra dos outros três candidatos. "Ele foi muito bem", disse Mário Amato, ex-presidente da Fiesp, que em 1989 disse que, se Lula vencesse as eleições, 800 mil empresários deixariam o país.
Amato colocou "a bola na linha do pênalti" para Serra chutar, conforme definiu o tucano. Após responder a perguntas sobre estabilidade versus crescimento, o debate acabou com uma indagação por escrito de Amato sobre esporte, voluntariado e cultura.
Luiz Fernando Furlan, presidente da Sadia, foi discreto e disse não ter definido ainda o seu voto.
O tucano arrancou risadas da platéia ao responder a uma pergunta sobre no que diferiria dos adversários, já que as propostas eram parecidas: "A diferença é que eu sei o que estou falando".
Serra recebeu aplausos ao terminar sua exposição parafraseando Tancredo Neves: "Se você não decidiu em quem votar, olhe quem o candidato tem do lado". Era outra crítica indireta a Ciro, que recebeu o apoio de setores do PFL, como o do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (BA).
No final, Serra disse que não estava na Fiesp como o "anti-Lula", mas como o "anti-desemprego".



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