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JANIO DE FREITAS
Vida ou morte
Nenhuma sondagem da repercussão provocada pelo
debate entre os candidatos, na
TV Bandeirantes, fugiu à ordem
das colocações em que têm aparecido nas pesquisas todas. E esse passa a ser o principal tema de análise nas assessorias de José Serra e Ciro Gomes, que no
debate iniciaram, por iniciativa
do primeiro, uma confrontação
pessoal que cabe bem na velha
metáfora da luta de vida ou
morte.
A luta não se trava, porém, em
igualdade de condições, embora
cada um conte com uma vantagem importante sobre o adversário. Na média das pesquisas,
pode-se dizer que Ciro Gomes
tem dez pontos acima de José
Serra. Mesmo que perdesse a
parte mais substancial dessa
vantagem, ou até toda, a transferência da perda não se fará
plenamente para Serra. Lula da
Silva por certo colheria, no mínimo, alguma coisa. Ciro e Serra voltariam a estar embolados,
ambos capazes de chegar ao segundo turno, se houver.
Se houver, sim, porque apoio
eleitoral que migrasse de Ciro
Gomes em quantidade expressiva para Lula da Silva, mais do
que para José Serra, poderia liquidar a eleição no primeiro
turno. A José Serra não basta,
portanto, enfraquecer gravemente Ciro Gomes, mas ainda
apropriar-se dos votos que
abandonem seu adversário imediato.
José Serra, por sua vez, tem
um aliado poderoso, que nas
eleições passadas eliminou
qualquer dúvida teimosa sobre
sua capacidade de manipular o
eleitorado. José Serra tem a mídia. É um jogo muito hipócrita,
claro, no qual a TV e jornal que
mais se aliaram a Collor, até onde foi possível, hoje fazem escândalo com a presença de outros
aliados de Collor, e portanto
seus, na campanha. E ainda há
os aliados de Collor, participantes mesmo do seu governo, que
estão no governo atual e são,
por isso, apoiados pela mesma
mídia.
O jogo é hipócrita, mas funciona. Com facilidades oferecidas
pelo próprio Ciro Gomes, como
a escolha do Paulinho da Força
Sindical para vice, mas não só: a
artilharia global e outras já entraram na fase de inventar telefonema seu para Fernando
Henrique, frases que teria dito
mas não disse em entrevista à
papisa do neoliberalismo na mídia, e mais e mais a cada dia.
As pesquisas feitas até a semana passada mostraram, no entanto, efeitos opostos aos pretendidos pelos obuses. Daí a importância que o debate e sua repercussão têm para Serra e Ciro.
Para o primeiro, importa saber
se o confronto pessoal funcionou
ou não. E, se o seu terceiro lugar
sugerir que não, importa saber
por que foi assim e como tornar
o assédio afinal resultante.
Para Ciro, o problema que se
põe é o que fazer para neutralizar os ataques futuros: manter a
atitude de segurar o jogo, já que
teve repercussão mais favorável
que a de Serra no debate, ou sua
postura pode se tornar insustentável?
O debate na Bandeirantes
abriu fase nova na disputa. É o
início da reta final. Reta longa
demais, no estilo brasileiro de
eleições.
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