São Paulo, terça-feira, 06 de agosto de 2002

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JANIO DE FREITAS

Vida ou morte

Nenhuma sondagem da repercussão provocada pelo debate entre os candidatos, na TV Bandeirantes, fugiu à ordem das colocações em que têm aparecido nas pesquisas todas. E esse passa a ser o principal tema de análise nas assessorias de José Serra e Ciro Gomes, que no debate iniciaram, por iniciativa do primeiro, uma confrontação pessoal que cabe bem na velha metáfora da luta de vida ou morte.
A luta não se trava, porém, em igualdade de condições, embora cada um conte com uma vantagem importante sobre o adversário. Na média das pesquisas, pode-se dizer que Ciro Gomes tem dez pontos acima de José Serra. Mesmo que perdesse a parte mais substancial dessa vantagem, ou até toda, a transferência da perda não se fará plenamente para Serra. Lula da Silva por certo colheria, no mínimo, alguma coisa. Ciro e Serra voltariam a estar embolados, ambos capazes de chegar ao segundo turno, se houver.
Se houver, sim, porque apoio eleitoral que migrasse de Ciro Gomes em quantidade expressiva para Lula da Silva, mais do que para José Serra, poderia liquidar a eleição no primeiro turno. A José Serra não basta, portanto, enfraquecer gravemente Ciro Gomes, mas ainda apropriar-se dos votos que abandonem seu adversário imediato.
José Serra, por sua vez, tem um aliado poderoso, que nas eleições passadas eliminou qualquer dúvida teimosa sobre sua capacidade de manipular o eleitorado. José Serra tem a mídia. É um jogo muito hipócrita, claro, no qual a TV e jornal que mais se aliaram a Collor, até onde foi possível, hoje fazem escândalo com a presença de outros aliados de Collor, e portanto seus, na campanha. E ainda há os aliados de Collor, participantes mesmo do seu governo, que estão no governo atual e são, por isso, apoiados pela mesma mídia.
O jogo é hipócrita, mas funciona. Com facilidades oferecidas pelo próprio Ciro Gomes, como a escolha do Paulinho da Força Sindical para vice, mas não só: a artilharia global e outras já entraram na fase de inventar telefonema seu para Fernando Henrique, frases que teria dito mas não disse em entrevista à papisa do neoliberalismo na mídia, e mais e mais a cada dia.
As pesquisas feitas até a semana passada mostraram, no entanto, efeitos opostos aos pretendidos pelos obuses. Daí a importância que o debate e sua repercussão têm para Serra e Ciro. Para o primeiro, importa saber se o confronto pessoal funcionou ou não. E, se o seu terceiro lugar sugerir que não, importa saber por que foi assim e como tornar o assédio afinal resultante.
Para Ciro, o problema que se põe é o que fazer para neutralizar os ataques futuros: manter a atitude de segurar o jogo, já que teve repercussão mais favorável que a de Serra no debate, ou sua postura pode se tornar insustentável?
O debate na Bandeirantes abriu fase nova na disputa. É o início da reta final. Reta longa demais, no estilo brasileiro de eleições.



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