|
Texto Anterior | Índice
ELIO GASPARI
Paul Blustein, um remédio para o dólar a R$ 3
Alguém podia fazer um favor a Lula: deixar sobre
sua mesa uma cópia do artigo
publicado pelo jornalista Paul
Blustein no "The Washington
Post" de domingo. Chama-se "A
Argentina não caiu sozinha.
Wall Street empurrou-lhe a dívida até o último instante". É
uma visita ao serviço de uma
ekipekonômica que dissolveu
um governo, arruinou um país
de 38 milhões de habitantes,
produziu um calote de US$ 141
bilhões e desempregou um em
cinco argentinos ativos. A desgraça argentina é irmã de fraudes como a da Enron ou da
WorldCom.
Blustein é um craque. Ele escreveu "Vexame", livro publicado no Brasil no ano passado.
Tratou das malfeitorias do FMI
nas crises de 1998 e 1999 no Brasil, Coréia e Indonésia. Um livraço. Antecipou em dois anos,
com riqueza de detalhes, o relatório de pesquisadores independentes que o FMI divulgou há
duas semanas.
A extensa reportagem de Blustein sustenta que a Argentina
foi levada ao colapso por banqueiros interessados em ganhar
dinheiro, disfarçando-se de profetas da ciência da globalização.
Tudo se resumia a uma fantasia: um peso valia um dólar. A
economia dolarizada produziu
progresso e dívidas. A corretora
Goldman Sachs (inventora do
Lulômetro para medir o impacto de Lula sobre o dólar, queridinha da ekipekonômica tucana) chamava a experiência de
"um bravo mundo novo". Depois da crise asiática de 1998, o
banco Dresdner Kleinwort Benson (quindim da privataria)
disse que a Argentina passara
pela tempestade "com grande
garbo, pois seus fundamentos
estão mais fortes do que há três
anos".
Enquanto esses oráculos eram
festejados, a economista Tereza
Ter-Minassian, do FMI, avisava, em público, que a Argentina
estava em cima de uma bomba.
A banca e as ekipekonômicas,
sempre respeitosas com o Fundo
quando ele fala em matar os feridos, não lhe deram ouvidos.
Pior: patrulharam o economista Desmond Lachman, estrategista-chefe da área de mercados emergentes da Salomon
Smith Barney. Ele dizia que o
peso e a Argentina iriam à breca. Como a empresa onde ele
trabalhava pertencia ao Citigroup, o governo deu uma prensa no banco. Os artigos de Lachman nunca foram publicados
nos relatórios analíticos da corretora.
(Alô, alô, Brasil. Em maio passado, Lachman disse o seguinte
a respeito de Pindorama: "O
Banco Central deveria reduzir
os juros mesmo que isso levasse
a um real mais fraco. O ponto
vital, que vai recolocar o Brasil
de volta nos trilhos, é o crescimento".)
Gente como Lachman tende a
não ser ouvida. Christian Stracke, que analisava a economia
latino-americana para o Deutsche Bank, explica porque: "As
pessoas estão nesse negócio por
dinheiro. Se eles estivessem a
fim de sabedoria, seriam professores". O nome desse dinheiro é
bônus. Esses estrategistas ganhavam entre US$ 350 mil e
US$ 900 mil por ano. Seus chefes
não custavam menos de US$ 1
bilhão.
Blustein estima que entre 1991
e 2001 a banca faturou US$ 1 bilhão à custa da Argentina em
comissões e penduricalhos do
gênero. Quando o país estava às
portas do calote, o banqueiro
David Mulford, do Credit Suisse
First Boston, concebeu um plano de alongamento da dívida.
Nesse lance, a banca faturou algo como US$ 100 milhões em pagamento de serviços. Nos anos
70, Mulford estava na Merril
Lynch corretando petrodólares
sauditas para o Terceiro Mundo. Saiu do deserto com o apelido de "Lawrence do dinheiro".
No final dos anos 80,como subsecretário do Tesouro americano, foi o arquiteto do Plano
Brady. Negociou a reestruturação da dívida que ajudou a
construir. Nos 90, esteve na privataria, armando a compra da
estatal petrolífera argentina.
Blustein ensina: esse pessoal
arruína um país com a calma de
quem joga fora um jornal lido.
Aos 66 anos, com seus ternos
cortados em Londres, Mulford
já participou de três crises financeiras do Terceiro Mundo.
O artigo de Blustein, desafortunadamente em inglês, está no
seguinte endereço:
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/
articles/A15438-2003Aug2.html
Texto Anterior: Caso CC-5: Promotor pede convocação de Lerner Índice
|