|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BC SOB PRESSÃO
Transação financeira nos EUA é questionada; presidente alega "dívida de gratidão" e diz que chefe do
banco fica
Lula mantém Meirelles apesar de denúncia
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem em conversas
reservadas que não demitirá Henrique Meirelles, apesar de nova
reportagem questionar uma transação financeira do presidente do
Banco Central. Por ora, Lula não
vê motivo legal ou ético para tirá-lo. E avalia ainda ter "dívida de
gratidão" com Meirelles, que aceitou presidir o BC no final de 2002,
após o PT ter enfrentado uma série de recusas.
Segundo a Folha apurou, Lula
acha que transmitiria a imagem
de um governo administrado por
"fracos" se demitisse Meirelles
por conta da reação negativa ontem do mercado (queda da Bolsa)
à reportagem veiculada ontem
pelo site da revista "Veja".
O texto se referiu a uma transação financeira nos EUA em 2002
no valor de US$ 50.677,12. Para
Lula, o pequeno valor -na comparação com o patrimônio de
Meirelles, homem muito rico- é
argumento para mantê-lo.
Por intermédio do ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho,
Lula pediu a Meirelles que desse
novas explicações públicas. O
Banco Central divulgou nota no
início da noite rebatendo a reportagem. Palocci e Lula conversariam à noite em Belo Horizonte
(MG), para onde viajaram.
Por enquanto, Lula considera
satisfatórias as explicações de
Meirelles sobre reportagens recentes que questionaram a lisura
de suas operações patrimoniais.
A estratégia do governo para
minimizar o desgaste de um depoimento no Senado é marcar a
audiência de Meirelles na Casa
para daqui a pelo menos 20 dias.
A depender do clima político, ele
poderia até se recusar a responder
a perguntas sobre seu patrimônio, alegando que foi chamado a
falar da vulnerabilidade externa
do Brasil -pretexto do convite
dos senadores.
Gratidão presidencial
"Dívida de gratidão" é a expressão usada por interlocutores do
presidente para mostrar o que ele
sente por Meirelles, que renunciou a um mandato de deputado
federal, saiu do PSDB e ouviu críticas duras de radicais do PT.
Ex-presidente mundial do
BankBoston, Meirelles foi a sexta
opção de Lula no início de dezembro de 2002, quando o então presidente eleito chegou a ficar tenso
pelas seguidas recusas.
Na época, o presidente do banco ABN-Amro, Fábio Barbosa, e
Pedro Bodin, presidente do Banco Icatu e preferido de Palocci,
disseram não a convites. Barbosa,
aliás, é lembrado como eventual
opção na hipótese extrema e hoje
improvável de saída de Meirelles.
Outros três sondados afastaram
a possibilidade de dizer sim a um
eventual convite: Murilo Portugal, representante do Brasil no
FMI (Fundo Monetário Internacional), Jair Ribeiro, ex-JP Morgan, e José Júlio Senna, sócio-diretor da MCM Consultoria.
Dificuldades
As dificuldades do PT para encontrar um presidente do Banco
Central começaram na campanha
de 2002, na virada do primeiro
para o segundo turno. Àquela altura, quando havia chance de Lula vencer na primeira rodada,
cresceu a cotação de Fábio Barbosa. Barbosa, porém, alegou que
preferia ajudar de fora.
Nas recusas em 2002, ficou evidente o temor de profissionais
bem remunerados da iniciativa
privada em assumir uma tarefa
espinhosa: baixo salário em comparação com seus empregos, temor de responder a processos judiciais caros após a saída do cargo
e medo do chamado "fogo amigo" (críticas e obstáculos criados
dentro do próprio PT).
Havia ainda desconfiança do
mercado em relação à convicção
econômica de Lula para bancar
um rigoroso ajuste fiscal e uma
dura política monetária. Hoje,
quando o governo petista é uma
espécie de queridinho dos mercados, não seria difícil substituir
Meirelles, mas agora o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva não quer.
O presidente avalia que seria
dar o braço à torcer à oposição no
momento em que a economia dá
sinais de crescimento e no qual
candidatos do PT nas eleições
municipais melhoram seu desempenho.
Em reunião com seus principais
ministros, na terça-feira, Lula disse que a oposição tenta criar "nova agenda negativa" ao pedir a demissão de Meirelles e do presidente do Brasil, Cássio Casseb,
que também tem sido alvo de reportagens negativas.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Acusação fala em uso de conta de doleiros Índice
|