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Hospedagem de ex-sócio de Valério coincide com saques
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GILMAR PENTEADO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A agenda de hospedagens do
empresário Ricardo Machado no
hotel Gran Bittar em Brasília, ao
longo de 2003 e 2004, coincide em
sete ocasiões com as datas de saques de dinheiro em espécie feitos
no Banco Rural por Simone Vasconcelos, gerente administrativa
da agência SMPB.
Machado, que até outubro de
2004 foi sócio de Marcos Valério
Fernandes de Souza na empresa
MultiAction, era hóspede regular
do hotel e, em pelo menos duas
ocasiões, reservou em seu nome
um conjunto de 32 suítes que teria
disponibilizado para convidados.
A MultiAction é responsável por
promover eventos para as agências DNA e SMPB.
Também coincidem com a estada de Machado no Gran Bittar os
dias em que houve retirada de dinheiro do Rural em Brasília por
carros fortes. Os saques das contas de empresas de Valério no Rural em Brasília que seguem essas
coincidências de datas somam R$
3,35 milhões.
Em depoimento na Polícia Federal, o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas, um dos responsáveis
pelos saques de dinheiro das contas de empresas de Valério, disse
que pegava as quantias no Rural,
na sede da SMPB e em hotéis de
Brasília, sem citar nomes.
Outro integrante da lista dos sacadores, João Cláudio Genu, assessor do deputado José Janene
(PP-PR), disse à PF que recebeu
dinheiro no hall de um hotel.
Simone afirmou em depoimento ter levado dinheiro para Valério no hall do hotel Blue Tree.
Em pelo menos duas ocasiões,
conforme a Folha apurou, Ricardo Machado reservou em seu
próprio nome diversas suítes no
Gran Bittar: oito em 9 de setembro de 2003 e 24 no dia 5 de novembro daquele ano.
Nessas datas, o rol de reservas
incluiu a suíte presidencial do hotel. É o apartamento número
1.507, cujas instalações, em tapete
persa, hoje por R$ 3 mil a diária,
incluem três varandas, salas de
jantar, estar e de banho (com sauna e hidromassagem), um quarto
principal e outro conjugado.
Em depoimento à CPI dos Correios, Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Valério, fez
referência a duas festas realizadas
em hotéis em Brasília, uma das
quais destinada a comemorar o
contrato da agência DNA com o
Banco do Brasil.
O resultado que incluiu a DNA
entre as três vencedoras da licitação, cujo contrato previa um total
de R$ 142 milhões para gastos em
publicidade, saiu no dia 4 de setembro de 2003. Cinco dias depois, Machado reservou oito suítes no hotel Gran Bittar.
O contrato foi rescindido pelo
BB quando Valério passou a ser
investigado como o principal
operador do suposto "mensalão".
A Folha apurou que as reservas
foram feitas pela BBTur, uma empresa do conglomerado Banco do
Brasil que tem como clientes a
DNA e a MultiAction.
Machado chegou ao hotel em 8
de setembro e encerrou sua reserva dois dias depois. A conta somou cerca de R$ 12 mil.
Na noite de 9 de setembro, Geane Mary Corner recebeu duas ligações de Machado. O nome dela
surgiu na seção de anteontem da
CPI dos Correios, no depoimento
de Simone Vasconcelos.
O senador Demóstenes Torres
(PFL-GO) perguntou a Simone se
ela conhecia a "cafetina Geane",
que faria festas para políticos que
seriam promovidas por Valério.
Simone rechaçou as insinuações: "Não tenho noção do que o
senhor está falando".
Segunda festa
Em 5 de novembro daquele ano,
novamente em nome de Machado, foram reservadas 23 suítes,
além da presidencial. Não há registro da agência de turismo responsável pelas hospedagens.
A conta das suítes, paga em dinheiro, ultrapassou os R$ 15 mil e,
entre outros itens, incluiu: acesso
a canal de tevê fechada (pay per
view), champanhe Chandon, uísque Black Label 12 anos.
A agenda de Fernanda Karina
registra, em 30 de outubro, uma
referência à "suíte VIP - 15º andar
no Gran Bittar".
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