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TRIBUTO
Quem ganha até R$ 1.000 não pagará o imposto; medida visa barrar reajuste maior
Governo propõe isenção do IR menor que a do Congresso
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O valor de isenção de pagamento de Imposto de Renda para pessoas físicas deve ser alterado dos
atuais R$ 900 para R$ 1.000, com
validade a partir do ano que vem,
segundo a Folha apurou junto ao
governo. Seria um reajuste de
11,11%. Quem ganhar até R$ 1.000
por mês não precisaria pagar IR.
A tabela está congelada desde
1996. A inflação acumulada no
período até 2000 foi de 36,2%. A
decisão é política e visa a agradar
ao eleitorado de classe média. Deve também servir de anteparo
contra um possível reajuste maior
pretendido pela ampla maioria
dos congressistas. Tramita na Câmara um projeto que aumenta de
R$ 900 para R$ 1.217,62 a faixa salarial que é isenta de Imposto de
Renda. Seria um reajuste de
35,2%, muito maior do que o considerado aceitável pelo governo.
Pelo projeto em tramitação, as
deduções também serão reajustadas: os gastos com educação passariam de R$ 1.700 para até R$
2.299,96 por dependente ao ano.
Com dependentes, iria de
R$ 1.080 para até R$ 1.461,15 por
dependente ao ano.
Com esse projeto haveria uma
redução de receita da União de
cerca de R$ 4 bilhões ao ano, o que
acarretaria também perda de
aproximadamente metade desse
valor aos fundos que repassam
verbas para Estados e municípios,
nos cálculos da Receita Federal.
Como o projeto está em estágio
avançado de tramitação, o governo teme perder o controle do processo. Um levantamento informal
entre os deputados feito por líderes governistas demonstrou que o
ânimo no plenário da Câmara é
pela aprovação. O presidente Fernando Henrique Cardoso ficaria
então com ônus de ter de vetar.
Como 2002 é um ano eleitoral,
um eventual veto de FHC teria
inevitáveis efeitos negativos para
os governistas nas urnas. Daí a intenção de interferir no processo e
trabalhar para aprovar um reajuste menor da tabela, apenas para
R$ 1.000, o que seria feito por
meio de uma mudança no projeto
que está no Congresso.
O valor é considerado bom porque estaria rompida a barreira
dos três dígitos. O custo ficaria em
cerca de R$ 1,5 bilhão a menos na
arrecadação. Seria necessário fazer um corte correspondente no
Orçamento ou aumentar impostos, como disse o secretário da Receita, Everardo Maciel.
Ninguém do governo ainda
aceita falar abertamente a respeito
do tema. O líder do governo na
Câmara, deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), desconversa:
"Temos até o fim do ano para discutir esse tema". Mas o ministro
da Secretaria Geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, faz
um comentário enigmático: "Eu
já ouvi falar desse número [R$
1.000" mágico. É razoável se for
possível fazer os cortes correspondentes".
A equipe econômica é contra
qualquer reajuste na tabela do IR.
Everardo Maciel é a principal voz
contrária. O ministro da Fazenda,
Pedro Malan, também não enxerga espaço para o reajuste.
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