São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"

Empresário nega autoria de texto que afirma que Severino teria recebido 13 pacotes de dinheiro em 2003, totalizando R$ 84 mil

Documento apócrifo detalha pagamento

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Folha teve acesso à cópia do documento intitulado "A História de um Mensalinho", cuja autoria é negada pelo empresário Sebastião Augusto Buani. O documento tem duas páginas e diz que Severino Cavalcanti teria recebido 13 pacotes de dinheiro em 2003, o que totalizaria R$ 84 mil, e que ligava de "seis a dez vezes ao dia" para cobrar do empresário a propina de R$ 10 mil mensais.
O texto está escrito na primeira pessoa e seria um suposto desabafo de Buani. O empresário disse ontem desconhecer a existência do relato, que atribui ao seu ex-gerente-executivo Izeilton Carvalho. A Folha não localizou Carvalho para confirmar se foi ele quem produziu o documento. Segundo a revista "Época", Carvalho tentou vender o dossiê com as informações contra Severino, mas a revista não aceitou.
Segundo o dossiê, outro suposto documento, o que teria sido assinado por Severino concedendo uma prorrogação ilegal do contrato dos restaurantes e lanchonetes de Buani na Câmara, teria sido redigido pelo deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE), aliado de Severino. "Tudo começou no ano de 2002 quando solicitei à Primeira Secretaria [então comandada por Severino] a nossa programação de contrato de concessão", diz o texto. A intenção seria continuar explorando por mais três anos os três restaurantes, inclusive o do 10º andar, o Fiorela, e seis lanchonetes que Buani administrava.
"Não conseguimos, foi então que ao comentar [com] o Gonzaga Patriota, ouvimos dele a promessa em [sic] nos ajudar", continua o texto. O relato diz que, dias depois, Buani foi chamado ao gabinete de Severino, que o recebeu ao lado de Patriota. "Gonzaga Patriota falou: "Temos uma saída". E foi para o computador e digitou um termo que dizia, de acordo com ao [sic] pagamento tal, artigo tal, autorizo tal prorrogação até janeiro de 2005". Segundo o texto, Severino "prontamente assinou" o papel redigido por Patriota.
Uma eventual renovação até 2005 da concessão de todos os restaurantes da Câmara comprovaria o beneficiamento de Severino a Buani. Os órgãos técnicos da Câmara orientavam por uma renovação anual. Buani não negou nem confirmou a existência do documento no depoimento que prestou ontem.
Severino admite que pode ter assinado sem saber do conteúdo. Patriota nega ter patrocinado os encontros e diz ser "fantasiosa" a versão: "Fiquei atônito. Nunca aconteceu isso. Sou um homem sério, tenho cinco mandatos".
Ainda no suposto encontro teria havido o primeiro pedido de propina. "Estamos em ano de campanha, estamos no maior sufoco e precisamos de ajuda", teriam dito os dois deputados, segundo o texto. "Acabei cedendo, pois não via outra alternativa. Com muita luta consegui reduzir o valor pedido, acertando em R$ 40 mil." O dinheiro teria sido entregue aos dois numa agência do Bradesco.
Já em 2003, quando solicitava reajuste nos preços de suas lanchonetes, Buani teria sido achacado em R$ 10 mil mensais: "Era cobrado quase que diariamente pelo próprio Severino". A propina seria entregue a duas funcionárias de Severino, "Gabriela" e "Rucélia". Severino teria pego o dinheiro pessoalmente em duas ocasiões. Um cheque de Buani teria sido descontado por um motorista de Severino para pagar uma fatura de seu cartão de crédito.
A história tem dois pontos nebulosos: 1) na maior parte de 2003 Severino foi segundo secretário da Câmara, posto que não tem ingerência sobre os contratos administrativos; 2) 2003 foi o ano da edição do Ato da Mesa 18, que determinou o fim do monopólio na exploração dos restaurantes e lanchonetes da Câmara. Não há registro de oposição de Severino.


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