|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"
Empresário nega autoria de texto que afirma que Severino teria recebido 13 pacotes de dinheiro em 2003, totalizando R$ 84 mil
Documento apócrifo detalha pagamento
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Folha teve acesso à cópia do
documento intitulado "A História
de um Mensalinho", cuja autoria
é negada pelo empresário Sebastião Augusto Buani. O documento tem duas páginas e diz que Severino Cavalcanti teria recebido
13 pacotes de dinheiro em 2003, o
que totalizaria R$ 84 mil, e que ligava de "seis a dez vezes ao dia"
para cobrar do empresário a propina de R$ 10 mil mensais.
O texto está escrito na primeira
pessoa e seria um suposto desabafo de Buani. O empresário disse
ontem desconhecer a existência
do relato, que atribui ao seu ex-gerente-executivo Izeilton Carvalho. A Folha não localizou Carvalho para confirmar se foi ele quem
produziu o documento. Segundo
a revista "Época", Carvalho tentou vender o dossiê com as informações contra Severino, mas a revista não aceitou.
Segundo o dossiê, outro suposto documento, o que teria sido assinado por Severino concedendo
uma prorrogação ilegal do contrato dos restaurantes e lanchonetes de Buani na Câmara, teria sido
redigido pelo deputado Gonzaga
Patriota (PSB-PE), aliado de Severino. "Tudo começou no ano de
2002 quando solicitei à Primeira
Secretaria [então comandada por
Severino] a nossa programação
de contrato de concessão", diz o
texto. A intenção seria continuar
explorando por mais três anos os
três restaurantes, inclusive o do
10º andar, o Fiorela, e seis lanchonetes que Buani administrava.
"Não conseguimos, foi então
que ao comentar [com] o Gonzaga Patriota, ouvimos dele a promessa em [sic] nos ajudar", continua o texto. O relato diz que, dias
depois, Buani foi chamado ao gabinete de Severino, que o recebeu
ao lado de Patriota. "Gonzaga Patriota falou: "Temos uma saída". E
foi para o computador e digitou
um termo que dizia, de acordo
com ao [sic] pagamento tal, artigo
tal, autorizo tal prorrogação até
janeiro de 2005". Segundo o texto,
Severino "prontamente assinou"
o papel redigido por Patriota.
Uma eventual renovação até
2005 da concessão de todos os
restaurantes da Câmara comprovaria o beneficiamento de Severino a Buani. Os órgãos técnicos da
Câmara orientavam por uma renovação anual. Buani não negou
nem confirmou a existência do
documento no depoimento que
prestou ontem.
Severino admite que pode ter
assinado sem saber do conteúdo.
Patriota nega ter patrocinado os
encontros e diz ser "fantasiosa" a
versão: "Fiquei atônito. Nunca
aconteceu isso. Sou um homem
sério, tenho cinco mandatos".
Ainda no suposto encontro teria havido o primeiro pedido de
propina. "Estamos em ano de
campanha, estamos no maior sufoco e precisamos de ajuda", teriam dito os dois deputados, segundo o texto. "Acabei cedendo,
pois não via outra alternativa.
Com muita luta consegui reduzir
o valor pedido, acertando em R$
40 mil." O dinheiro teria sido entregue aos dois numa agência do
Bradesco.
Já em 2003, quando solicitava
reajuste nos preços de suas lanchonetes, Buani teria sido achacado em R$ 10 mil mensais: "Era cobrado quase que diariamente pelo
próprio Severino". A propina seria entregue a duas funcionárias
de Severino, "Gabriela" e "Rucélia". Severino teria pego o dinheiro pessoalmente em duas ocasiões. Um cheque de Buani teria
sido descontado por um motorista de Severino para pagar uma fatura de seu cartão de crédito.
A história tem dois pontos nebulosos: 1) na maior parte de 2003
Severino foi segundo secretário
da Câmara, posto que não tem ingerência sobre os contratos administrativos; 2) 2003 foi o ano da
edição do Ato da Mesa 18, que determinou o fim do monopólio na
exploração dos restaurantes e lanchonetes da Câmara. Não há registro de oposição de Severino.
Texto Anterior: Janio de Freitas: Sempre Severino Próximo Texto: "Veja" diz não ter pago para obter relato de propina Índice
|