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PRIVATIZAÇÃO
VBC e fundos de pensão pagam ágio de 70% pela estatal paulista
Consórcio nacional compra CPFL por R$ 3,015 bilhões
CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local
O governo do Estado de São Pau
lo vendeu ontem o controle acio
nário da CPFL (Companhia Pau
lista de Força e Luz) por R$ 3,015
bilhões -ágio de 70,15% sobre o
preço mínimo de R$ 1,772 bilhão.
Oito fundos de pensão federais e
estaduais compraram 55% das
ações colocadas à venda. Os outros
45% foram adquiridos pela VBC
Energia, empresa pertence aos
grupos Votorantim, Bradesco e
Camargo Corrêa.
A VBC liderou o consórcio que
formou com os fundos. A Previ,
dos funcionários do Banco do Bra
sil, entrou sozinha no consórcio e
ficou com 38% das ações.
O último integrante do grupo
vencedor foi a Bonaire Participa
ções, que reúne sete fundos de
pensão e comprou 17% das ações.
Vale do Rio Doce
Ao todo, o Estado vai arrecadar
R$ 3,537 bilhões com a privatiza
ção da CPFL, pois ainda haverá a
fase de oferta de ações aos empre
gados (leia texto à pág. 1-6).
Esse valor é superior ao que o go
verno federal obteve na primeira
fase de privatização da Companhia
Vale do Rio Doce, realizada este
ano: R$ 3,517 bilhões.
A CPFL foi vendida pelo sistema
de envelope fechado, pelo qual ca
da um dos participantes entrega
sua proposta por escrito. A oferta
só pode ser modificada se houver
empate no maior preço.
Suspense
O leilão começou às 9h30 na Bol
sa de Valores de São Paulo (Boves
pa). Assim que abriu os trabalhos,
o leiloeiro Antonio Roberto da
Costa avisou: "Dentro de três mi
nutos será encerrada a fase de re
cebimento dos envelopes". Nin
guém se manifestou.
Um minuto depois, Costa falou a
mesma frase. Nenhum movimen
to. O leiloeiro repetiu o mesmo
aviso mais três vezes: com um mi
nuto, com 30 segundos e com 15
segundos. Só nos 15 segundos fi
nais os envelopes foram entregues.
O público que lotava o pregão da
Bolsa foi se inquietando à medida
que o tempo se esgotava. O gover
nador Mário Covas, que acompa
nhava o leilão, chegou a brincar:
"Alguém me dá um envelope!".
O leilão durou 9 minutos. Costa
abriu os envelopes, leu as propos
tas e proclamou o vencedor às
9h39, sob aplausos.
A venda da CPFL foi o primeiro
teste do programa de privatização
depois da crise que abalou as Bol
sas de Valores de todo o mundo a
partir do dia 23 de novembro.
O ágio surpreendeu o governo e
analistas do mercado. Até a véspe
ra do leilão, muitos apostavam
num sobrepreço de até 40%. O go
verno acreditava em ágio de 20%.
O secretário de Energia, David
Zylbersztajn, classificou o ágio de
"excepcional" e o considerou um
indício de confiança do mercado.
"É muito dinheiro. Foi além do
que a gente esperava, o que reflete
confiança do mercado no processo
de privatizações e em sua conti
nuidade", afirmou Zylbersztajn.
Covas ficou eufórico com o re
sultado. O presidente Fernando
Henrique Cardoso afirmou que a
manhã de ontem havia sido "glo
riosa" em razão da venda.
A CPFL é a primeira das quatro
estatais de energia de São Paulo
que deverão ser privatizadas até
meados do próximo ano. As outras
são Eletropaulo, Comgás e Cesp
(Companhia Energética de São
Paulo), que detinha o controle
acionário da CPFL.
O governo não vendeu toda a
empresa nem deu à iniciativa pri
vada poder absoluto sobre a distri
buição de energia. A atividade da
CPFL continuará a ser fiscalizada
pelo poder público, que fará um
contrato de concessão por 30 anos
com os novos controladores.
Todos os reajustes de tarifas te
rão, por exemplo, de ser homolo
gados pelo DNAEE (Departamen
to Nacional de Águas e Energia).
No leilão de ontem o Estado ven
deu 57,6% das ações ordinárias da
CPFL (que têm direito a voto e de
finem o controle da empresa).
Outros 10% das ações ordinárias
serão oferecidas, com desconto,
aos empregados da companhia,
que poderão também comprar
10% das ações preferenciais.
Pagamento
Os novos controladores da CPFL
terão de pagar os R$ 3,015 bilhões
que ofereceram no leilão no dia 11
de novembro. O pagamento terá
de ser feito em cheque administra
tivo -não serão aceitos títulos pú
blicos ou qualquer outro papel.
Até o dia 11, os vencedores terão
de acomodar a participação de ca
da um na empresa. A Previ vai se
limitar a 33% dos 38% que tinha
ontem. Os 5% restantes devem ser
divididos entre a Bonaire Partici
pações (pretende ficar com 20%) e
a VBC Energia (47%).
Pelo edital, os funcionários têm
direito a comprar ações com des
conto, e o consórcio vencedor de
ve pagar a diferença entre esse pre
ço e o que ofertou no leilão.
Assim, os vencedores terão de
pagar pelo menos mais R$ 434 mi
lhões no dia 24 de novembro, disse
Ricardo Lima, coordenador do Es
critório Energia São Paulo, que
cuida das privatizações do setor.
Segundo ele, os empregados gas
tarão no máximo R$ 88 milhões
em ações. A soma chega a R$ 522
milhões, o que eleva o preço da
CPFL para R$ 3,537 bilhões.
Colaborou Patricia Zorzan, da Reportagem Local
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