São Paulo, quinta, 6 de novembro de 1997.




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PRIVATIZAÇÃO
VBC e fundos de pensão pagam ágio de 70% pela estatal paulista
Consórcio nacional compra CPFL por R$ 3,015 bilhões

CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local

O governo do Estado de São Pau lo vendeu ontem o controle acio nário da CPFL (Companhia Pau lista de Força e Luz) por R$ 3,015 bilhões -ágio de 70,15% sobre o preço mínimo de R$ 1,772 bilhão.
Oito fundos de pensão federais e estaduais compraram 55% das ações colocadas à venda. Os outros 45% foram adquiridos pela VBC Energia, empresa pertence aos grupos Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa.
A VBC liderou o consórcio que formou com os fundos. A Previ, dos funcionários do Banco do Bra sil, entrou sozinha no consórcio e ficou com 38% das ações.
O último integrante do grupo vencedor foi a Bonaire Participa ções, que reúne sete fundos de pensão e comprou 17% das ações.
Vale do Rio Doce
Ao todo, o Estado vai arrecadar R$ 3,537 bilhões com a privatiza ção da CPFL, pois ainda haverá a fase de oferta de ações aos empre gados (leia texto à pág. 1-6).
Esse valor é superior ao que o go verno federal obteve na primeira fase de privatização da Companhia Vale do Rio Doce, realizada este ano: R$ 3,517 bilhões.
A CPFL foi vendida pelo sistema de envelope fechado, pelo qual ca da um dos participantes entrega sua proposta por escrito. A oferta só pode ser modificada se houver empate no maior preço.
Suspense
O leilão começou às 9h30 na Bol sa de Valores de São Paulo (Boves pa). Assim que abriu os trabalhos, o leiloeiro Antonio Roberto da Costa avisou: "Dentro de três mi nutos será encerrada a fase de re cebimento dos envelopes". Nin guém se manifestou.
Um minuto depois, Costa falou a mesma frase. Nenhum movimen to. O leiloeiro repetiu o mesmo aviso mais três vezes: com um mi nuto, com 30 segundos e com 15 segundos. Só nos 15 segundos fi nais os envelopes foram entregues.
O público que lotava o pregão da Bolsa foi se inquietando à medida que o tempo se esgotava. O gover nador Mário Covas, que acompa nhava o leilão, chegou a brincar: "Alguém me dá um envelope!".
O leilão durou 9 minutos. Costa abriu os envelopes, leu as propos tas e proclamou o vencedor às 9h39, sob aplausos.
A venda da CPFL foi o primeiro teste do programa de privatização depois da crise que abalou as Bol sas de Valores de todo o mundo a partir do dia 23 de novembro.
O ágio surpreendeu o governo e analistas do mercado. Até a véspe ra do leilão, muitos apostavam num sobrepreço de até 40%. O go verno acreditava em ágio de 20%.
O secretário de Energia, David Zylbersztajn, classificou o ágio de "excepcional" e o considerou um indício de confiança do mercado.
"É muito dinheiro. Foi além do que a gente esperava, o que reflete confiança do mercado no processo de privatizações e em sua conti nuidade", afirmou Zylbersztajn.
Covas ficou eufórico com o re sultado. O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a manhã de ontem havia sido "glo riosa" em razão da venda.
A CPFL é a primeira das quatro estatais de energia de São Paulo que deverão ser privatizadas até meados do próximo ano. As outras são Eletropaulo, Comgás e Cesp (Companhia Energética de São Paulo), que detinha o controle acionário da CPFL.
O governo não vendeu toda a empresa nem deu à iniciativa pri vada poder absoluto sobre a distri buição de energia. A atividade da CPFL continuará a ser fiscalizada pelo poder público, que fará um contrato de concessão por 30 anos com os novos controladores.
Todos os reajustes de tarifas te rão, por exemplo, de ser homolo gados pelo DNAEE (Departamen to Nacional de Águas e Energia).
No leilão de ontem o Estado ven deu 57,6% das ações ordinárias da CPFL (que têm direito a voto e de finem o controle da empresa).
Outros 10% das ações ordinárias serão oferecidas, com desconto, aos empregados da companhia, que poderão também comprar 10% das ações preferenciais.
Pagamento
Os novos controladores da CPFL terão de pagar os R$ 3,015 bilhões que ofereceram no leilão no dia 11 de novembro. O pagamento terá de ser feito em cheque administra tivo -não serão aceitos títulos pú blicos ou qualquer outro papel.
Até o dia 11, os vencedores terão de acomodar a participação de ca da um na empresa. A Previ vai se limitar a 33% dos 38% que tinha ontem. Os 5% restantes devem ser divididos entre a Bonaire Partici pações (pretende ficar com 20%) e a VBC Energia (47%).
Pelo edital, os funcionários têm direito a comprar ações com des conto, e o consórcio vencedor de ve pagar a diferença entre esse pre ço e o que ofertou no leilão.
Assim, os vencedores terão de pagar pelo menos mais R$ 434 mi lhões no dia 24 de novembro, disse Ricardo Lima, coordenador do Es critório Energia São Paulo, que cuida das privatizações do setor.
Segundo ele, os empregados gas tarão no máximo R$ 88 milhões em ações. A soma chega a R$ 522 milhões, o que eleva o preço da CPFL para R$ 3,537 bilhões.


Colaborou Patricia Zorzan, da Reportagem Local




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