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OPERAÇÃO ANACONDA
Gravações da PF mostram que Casem Mazloum pretendia ajudar "um amigo de um amigo"; delegado fala sobre acerto com magistrado
Juiz solicitou grampo ilegal de telefone
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O juiz federal Casem Mazloum
pediu "um grampo" ilegal ao
agente da Polícia Federal César
Herman Rodriguez, em telefonema monitorado durante as investigações da Operação Anaconda.
O interessado na escuta seria o
"amigo de um amigo" do juiz
-um "prefeito aí", segundo o
diálogo gravado pela PF.
"Tem um amigo meu, uma pessoa de confiança, né? E aí o amigo
dele, que é uma pessoa, um prefeito aí, pediu para grampear...",
diz Casem, antes de ser interrompido por Rodriguez.
Ciente dos riscos de tratar o tema por telefone, o agente alerta
que os dois precisam "se falar pessoalmente". O encontro, sugere
Casem, poderia acontecer no dia
seguinte. No gabinete do juiz, em
outro lugar ou "no aeroporto".
A Folha obteve 12 diálogos gravados pela PF, com autorização
judicial. É parte do material que
serviu de base para a denúncia do
Ministério Público Federal à Justiça. No documento, os procuradores identificam uma quadrilha especializada na venda de decisões
judiciais e no retardamento de investigações da própria PF.
Num dos diálogos, cuja data
não é especificada pelos policiais,
Casem menciona o interesse do
"prefeito" no grampo. O alvo da
escuta seria um telefone celular,
"mais problemático", segundo o
agente. "Se for [telefone] fixo,
100%. Dá para fazer de imediato.
Agora, o outro não", explica.
Em nova conversa após o pedido do grampo, Rodriguez diz ao
juiz que pode conseguir até o fim
do dia "um cara que falou que
faz" a escuta ilegal. De forma cifrada, o agente se refere à escuta
como "prova auditiva".
"Hoje estou tentando, agora no
final, pegar um cara que falou que
faz para mim a prova auditiva",
diz. E completa: "Se ele [o cara] falar para mim que é 100%, aí dou o
"start" [a partida]", afirma.
Em outra gravação feita pela PF,
o delegado federal José Augusto
Bellini conversa com o agente da
PF César Rodriguez. Ele relata ao
delegado, ambos presos na semana passada, que conseguiu oito
bilhetes aéreas para Casem, ao
custo unitário de US$ 2.000.
"Consegui oito passagens executivas para o Casem, viu?", diz.
De acordo com o diálogo, o destino da viagem do magistrado seria o Líbano. Teria viajado com a
família, no fim do ano passado,
comemorar o Réveillon.
A denúncia do Ministério Público anota: "dado o valor dos bilhetes, e a "performance" do grupo,
tudo indica que também aqueles
bilhetes podem ser fruto da prática de algum delito ou alguma espécie de vantagem indevida".
Em outro diálogo, o delegado
Bellini fala dos irmãos Casem e
Ali Mazloum. Bellini revela preferência pelo juiz Ali. Na interpretação da PF, o delegado insinua que,
com esse magistrado, o acerto financeiro seria mais vantajoso.
Diz Bellini em determinado trecho da gravação: "Eu poderia pegar o careca, mas com o careca, no
final, não sobra". Careca, indicam
as investigações da PF, é uma referência a Casem, que é calvo.
A frase de Bellini foi dita durante suposta negociação de um habeas corpus. O delegado da PF
conversa com Márcia, uma intermediária no esquema. A PF ainda
não a identificou.
Também sob suspeita do Ministério Público e da Polícia Federal,
o juiz João Carlos da Rocha Mattos teve a voz captada por um outro grampo obtido pela Folha.
Conversou também com o agente
da PF César Herman Rodriguez.
Disse o juiz: "Me liga daqui a
pouquinho que, se der, eu vou te
passar o número, tá?". Sem entender, Rodriguez perguntou: "Número de quê?" E Rocha Mattos:
"de uma conta para depositar, em
vez de você vir aqui, eu vou te dar
aquele valor, tá?"
Rodriguez estava ao volante.
Não podia tomar nota. O agente
da PF combina um novo contato
para o dia seguinte. Rocha Mattos
se antecipou: "Só para te dizer, é o
Banco Sudameris, aí pertinho
da...". O agente o interrompe e
reitera que telefonaria no dia seguinte para coletar os dados.
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