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São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

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Ali Mazloum teria sido informado sobre grampo de seu telefone durante investigação

Diretor da Polícia Rodoviária avisou juiz, diz corregedor

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O corregedor da Polícia Rodoviária Federal no Espírito Santo, Wendel Benevides Matos, disse à CPI da Pirataria que o diretor-geral da instituição, Hélio Derenne, teria avisado ao juiz Ali Mazloum que o telefone do magistrado havia sido grampeado em apuração realizada por sua equipe.
Ali Mazloum é um dos juízes federais em São Paulo investigados pela Operação Anaconda sob suspeita de envolvimento em venda de sentenças. Os outros dois são Casem Mazloum, que é irmão dele, e João Carlos da Rocha Mattos.
Segundo o corregedor da PRF, Ali Mazloum lhe telefonara pelo menos três vezes. Em uma das ligações, teria dito que Derenne o informara sobre a existência de escuta em seu telefone e teria pedido que Matos confirmasse o fato ou verificasse a veracidade.

Combustível e contrabando
Matos era responsável por acompanhar as gravações telefônicas de uma investigação conduzida pelo Ministério Público Federal sobre o homem considerado o maior contrabandista de cigarros do país, Roberto Eleutério da Silva, o Lobão.
As gravações teriam esbarrado em outra investigação, sobre a organização criminosa que seria liderada pelo empresário do setor de combustíveis Ari Natalino, e consequentemente à Operação Anaconda.
Nas gravações, haveria um diálogo entre Natalino e o policial federal César Herman Rodriguez articulando um encontro no Hotel Hilton, em São Paulo, em meados de abril, entre eles e um magistrado que seria supostamente Ali. Várias conversas citariam esse juiz como "M.M." (abreviatura de magistrado), "árabe" ou "uma pessoa influente que seria decisiva para o processo".
Juiz da 7ª Vara da Justiça Federal em São Paulo, caberia a Mazloum decidir sobre a abertura de processo contra Natalino, com base em denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal.
Entretanto, Matos disse que o telefone do juiz não chegou a ser interceptado e que as gravações deixaram de ser feitas em abril e maio, por falta de ordem judicial renovando a autorização da escuta telefônica, o que teria impedido a confirmação sobre a realização ou não do encontro.
No depoimento à CPI, ontem à tarde, o corregedor também deu detalhes sobre os diálogos em que o juiz teria feito ameaças a ele. Matos relatou três ligações que Ali teria feito para o seu celular e nas quais teria dito frases ameaçadoras como "a corda sempre arrebenta do lado mais fraco".
Após receber o material das gravações supostamente incompleto, teria dito em um encontro em seu gabinete que estava com a ordem de prisão dele pronta por sonegação de provas. Por fim, teria convocado Matos para trabalhar como perito no processo que envolveria Natalino.
Os objetivos dele seriam obter acesso à totalidade das gravações telefônicas, esclarecer se o seu telefone e o de Rodriguez constavam na lista de aparelhos interceptados na apuração e saber se o suposto encontro no Hotel Hilton havia sido monitorado.


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