São Paulo, sexta-feira, 06 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Toffoli questiona prova e adia julgamento de tucano

Ministro diz que recibo é único indício que liga senador ao mensalão mineiro

Pedido de vista irrita relator, para quem denúncia contra tucano é grave e deve ser tratada com celeridade e o mesmo rigor do caso federal


FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O julgamento do mensalão mineiro foi interrompido ontem depois que o ministro José Antonio Dias Toffoli pediu vista alegando que precisa analisar melhor um documento que a defesa do senador Eduardo Azeredo (PSDB) diz ser falso. Antes disso, o relator do caso, Joaquim Barbosa, acolheu toda a denúncia contra o tucano.
Azeredo é acusado pelo Ministério Público Federal de ter utilizado o cargo público em benefício próprio (peculato) e de lavagem de dinheiro. Com o pedido de vista, não há prazo para a volta do julgamento.
Este é o primeiro caso de grande repercussão política que Toffoli, recém-empossado depois de trabalhar como advogado-geral da União, participa. O ministro trabalhou na Casa Civil no época de José Dirceu, réu no mensalão federal.
Toffoli argumentou que o documento citado como prova por Barbosa seria o único indício de participação do tucano no esquema, dando a entender que poderá abrir a divergência e recusar a denúncia. "Esse é o único documento que leva a uma vinculação material do acusado. Me sinto na necessidade de aclarar o tema."
Trata-se de recibo, com assinatura de Azeredo, de R$ 4,5 milhões à empresa SMPB, do publicitário Marcos Valério, apontado como o operador do esquema de desvio de verbas públicas, caixa-dois e lavagem de dinheiro que teria alimentado, em 1998, a campanha à reeleição do tucano ao governo. O advogado José Gerardo Grossi diz que o recibo é falso.
Barbosa, visivelmente incomodado, rebateu que o documento não era tão importante e que existem diversos outros indícios. Afirmou que o momento de provar a veracidade ou falsidade dos documentos é outro e que o caso precisa ser julgado com o mesmo "rigor" do mensalão federal, por ser esquema idêntico. "Esse processo cuida de esquema de corrupção política da mais alta gravidade, que tem que ser conduzido com seriedade e celeridade. Acho que os dois processos devem ser julgados conjuntamente para não haver diferença de tratamento", afirmou Barbosa.
O mensalão federal foi um esquema organizado pelo PT de pagamento de propina em troca de apoio na aprovação de projetos de interesse do governo no Congresso Nacional.
Ontem, o relator acatou a segunda parte da denúncia, sobre lavagem de dinheiro. Segundo ele, "dezenas de empréstimos fictícios" tomados no Banco Rural pela SMPB esquentavam a origem de verbas públicas e do caixa-dois. "A manobra caracterizadora, em tese, do crime de lavagem de dinheiro está narrada de modo claro e direto na denúncia", diz o relator.


Texto Anterior: Posse de senador põe fim a crise
Próximo Texto: Laudo da defesa contesta assinatura em documento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.