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Toffoli questiona prova e adia julgamento de tucano
Ministro diz que recibo é único indício que liga senador ao mensalão mineiro
Pedido de vista irrita relator, para quem denúncia contra tucano é grave e deve ser tratada com celeridade e o
mesmo rigor do caso federal
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O julgamento do mensalão
mineiro foi interrompido ontem depois que o ministro José
Antonio Dias Toffoli pediu vista alegando que precisa analisar melhor um documento que
a defesa do senador Eduardo
Azeredo (PSDB) diz ser falso.
Antes disso, o relator do caso,
Joaquim Barbosa, acolheu toda
a denúncia contra o tucano.
Azeredo é acusado pelo Ministério Público Federal de ter
utilizado o cargo público em
benefício próprio (peculato) e
de lavagem de dinheiro. Com o
pedido de vista, não há prazo
para a volta do julgamento.
Este é o primeiro caso de
grande repercussão política
que Toffoli, recém-empossado
depois de trabalhar como advogado-geral da União, participa.
O ministro trabalhou na Casa
Civil no época de José Dirceu,
réu no mensalão federal.
Toffoli argumentou que o documento citado como prova
por Barbosa seria o único indício de participação do tucano
no esquema, dando a entender
que poderá abrir a divergência
e recusar a denúncia. "Esse é o
único documento que leva a
uma vinculação material do
acusado. Me sinto na necessidade de aclarar o tema."
Trata-se de recibo, com assinatura de Azeredo, de R$ 4,5
milhões à empresa SMPB, do
publicitário Marcos Valério,
apontado como o operador do
esquema de desvio de verbas
públicas, caixa-dois e lavagem
de dinheiro que teria alimentado, em 1998, a campanha à reeleição do tucano ao governo. O
advogado José Gerardo Grossi
diz que o recibo é falso.
Barbosa, visivelmente incomodado, rebateu que o documento não era tão importante e
que existem diversos outros indícios. Afirmou que o momento
de provar a veracidade ou falsidade dos documentos é outro e
que o caso precisa ser julgado
com o mesmo "rigor" do mensalão federal, por ser esquema
idêntico. "Esse processo cuida
de esquema de corrupção política da mais alta gravidade, que
tem que ser conduzido com seriedade e celeridade. Acho que
os dois processos devem ser
julgados conjuntamente para
não haver diferença de tratamento", afirmou Barbosa.
O mensalão federal foi um
esquema organizado pelo PT
de pagamento de propina em
troca de apoio na aprovação de
projetos de interesse do governo no Congresso Nacional.
Ontem, o relator acatou a segunda parte da denúncia, sobre
lavagem de dinheiro. Segundo
ele, "dezenas de empréstimos
fictícios" tomados no Banco
Rural pela SMPB esquentavam
a origem de verbas públicas e
do caixa-dois. "A manobra caracterizadora, em tese, do crime de lavagem de dinheiro está
narrada de modo claro e direto
na denúncia", diz o relator.
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