São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Lula se encontra com Armínio após rejeitar sua permanência no cargo

Com BC indefinido, PT sofre desgaste e insiste em Bodin

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A tensão no mercado e a alta do dólar geradas pela indefinição a respeito do presidente do Banco Central de Lula levaram o PT a fazer uma mea culpa de sua atuação na área e a tentar reorganizar sua estratégia para evitar uma disparada da moeda norte-americana.
O PT teme que uma nova alta do dólar reforce as pressões inflacionárias e complique o início de mandato do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
O primeiro passo dessa tentativa de reorganização foi a reunião de uma hora e 20 minutos ontem entre Lula e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Os dois se encontraram em uma sala no aeroporto de Brasília, quando chegavam à capital.
O segundo passo é uma nova tentativa de convencer o presidente do Banco Icatu, o economista Pedro Bodin, a aceitar a presidência do BC. Bodin resiste a aceitar o convite para o cargo.
Coincidentemente, Bodin é amigo de Armínio. Os dois trabalharam juntos no BC na época do governo Collor. Armínio tem incentivado Bodin a aceitar, mas este recusa por temer responder a uma avalanche de caros processos judiciais quando deixar o posto, a exemplo do que ocorre com ex-presidentes da instituição.

Ponte
Segundo a Folha apurou, Antônio Palocci Filho, virtual ministro da Fazenda e chefe da equipe de transição, fez a ponte com Armínio Fraga, cuja permanência na presidência do Banco Central foi descartada publicamente por Lula em duas oportunidades. Palocci se reuniu com Bodin em São Paulo na segunda-feira.
O PT e Palocci avaliam que isso foi um erro, apesar das razões alegadas por Lula de que a permanência de Armínio transmitiria à opinião pública imagem ruim, a de que sua eleição não traria mudanças na economia.
Com dificuldade para encontrar um nome alternativo ao de Bodin, o PT avalia que precisa insistir com o economista e, no limite, arrumar alguma argumentação para manter Armínio.
No governo FHC, porém, era tida como difícil essa possibilidade. Para um interlocutor do presidente, depois de Lula rejeitá-lo publicamente, Armínio arranharia a sua imagem se permanecesse no posto. Os defensores dessa solução no atual governo, porém, argumentam o contrário: seria uma rendição de Lula à política monetária de FHC e Armínio.

Palavras oficiais
Oficialmente, segundo a assessoria do presidente eleito, foram discutidos "assuntos relativos à situação do país", sem maiores detalhes, no encontro entre Lula e Armínio. O assessor de imprensa de Lula, Ricardo Kotscho, afirmou que não se tratou no encontro da presidência do BC. "O presidente já reiterou que Armínio Fraga não permanecerá no cargo", declarou Kotscho.
Acompanhado do presidente do PT, José Dirceu, de Palocci e do secretário de Cultura de São Paulo, Marco Aurélio Garcia, Lula chegou a Brasília, vindo de São Paulo, por volta das 11h30. Armínio, que chegara de Nova York cerca de uma hora antes, já o aguardava no hangar de uma empresa de táxi aéreo.
De acordo com Kotscho, o encontro não foi casual, mas uma solicitação de Palocci. "O coordenador da transição pediu a Armínio uma reunião com Lula, para que se tratasse da situação econômica do país", disse.
Armínio também evitou fazer comentários sobre sua eventual permanência no comando do BC nos primeiros meses de 2003. Ao sair do encontro, Armínio disse que conversou com o presidente eleito sobre a economia do país. (GUSTAVO PATÚ, KENNEDY ALENCAR e FÁBIO ZANINI)


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