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TRANSIÇÃO
Lula se encontra com Armínio após rejeitar sua permanência no cargo
Com BC indefinido, PT sofre desgaste e insiste em Bodin
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A tensão no mercado e a alta do
dólar geradas pela indefinição a
respeito do presidente do Banco
Central de Lula levaram o PT a fazer uma mea culpa de sua atuação
na área e a tentar reorganizar sua
estratégia para evitar uma disparada da moeda norte-americana.
O PT teme que uma nova alta do
dólar reforce as pressões inflacionárias e complique o início de
mandato do presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva.
O primeiro passo dessa tentativa de reorganização foi a reunião
de uma hora e 20 minutos ontem
entre Lula e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Os
dois se encontraram em uma sala
no aeroporto de Brasília, quando
chegavam à capital.
O segundo passo é uma nova
tentativa de convencer o presidente do Banco Icatu, o economista Pedro Bodin, a aceitar a
presidência do BC. Bodin resiste a
aceitar o convite para o cargo.
Coincidentemente, Bodin é
amigo de Armínio. Os dois trabalharam juntos no BC na época do
governo Collor. Armínio tem incentivado Bodin a aceitar, mas este recusa por temer responder a
uma avalanche de caros processos judiciais quando deixar o posto, a exemplo do que ocorre com
ex-presidentes da instituição.
Ponte
Segundo a Folha apurou, Antônio Palocci Filho, virtual ministro
da Fazenda e chefe da equipe de
transição, fez a ponte com Armínio Fraga, cuja permanência na
presidência do Banco Central foi
descartada publicamente por Lula em duas oportunidades. Palocci se reuniu com Bodin em São
Paulo na segunda-feira.
O PT e Palocci avaliam que isso
foi um erro, apesar das razões alegadas por Lula de que a permanência de Armínio transmitiria à
opinião pública imagem ruim, a
de que sua eleição não traria mudanças na economia.
Com dificuldade para encontrar
um nome alternativo ao de Bodin,
o PT avalia que precisa insistir
com o economista e, no limite, arrumar alguma argumentação para manter Armínio.
No governo FHC, porém, era tida como difícil essa possibilidade.
Para um interlocutor do presidente, depois de Lula rejeitá-lo
publicamente, Armínio arranharia a sua imagem se permanecesse
no posto. Os defensores dessa solução no atual governo, porém,
argumentam o contrário: seria
uma rendição de Lula à política
monetária de FHC e Armínio.
Palavras oficiais
Oficialmente, segundo a assessoria do presidente eleito, foram
discutidos "assuntos relativos à
situação do país", sem maiores
detalhes, no encontro entre Lula e
Armínio. O assessor de imprensa
de Lula, Ricardo Kotscho, afirmou que não se tratou no encontro da presidência do BC. "O presidente já reiterou que Armínio
Fraga não permanecerá no cargo", declarou Kotscho.
Acompanhado do presidente
do PT, José Dirceu, de Palocci e do
secretário de Cultura de São Paulo, Marco Aurélio Garcia, Lula
chegou a Brasília, vindo de São
Paulo, por volta das 11h30. Armínio, que chegara de Nova York
cerca de uma hora antes, já o
aguardava no hangar de uma empresa de táxi aéreo.
De acordo com Kotscho, o encontro não foi casual, mas uma
solicitação de Palocci. "O coordenador da transição pediu a Armínio uma reunião com Lula, para
que se tratasse da situação econômica do país", disse.
Armínio também evitou fazer
comentários sobre sua eventual
permanência no comando do BC
nos primeiros meses de 2003. Ao
sair do encontro, Armínio disse
que conversou com o presidente
eleito sobre a economia do
país.
(GUSTAVO PATÚ, KENNEDY ALENCAR e FÁBIO ZANINI)
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