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VIAGEM AO ORIENTE
Chanceler defende termo usado em declaração conjunta Brasil-Síria sobre a ação dos EUA no Iraque
Amorim diz que Lula não muda discurso
DO ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, apresentou
ontem uma cópia da resolução
número 1.483, de 22 de maio passado, da ONU (Organização das
Nações Unidas), na qual aparece a
expressão "potências de ocupação", com referência a Estados
Unidos e outros países que atuam
no Iraque sob a coordenação norte-americana.
Para o ministro, não há um milímetro de mudança na posição
brasileira em relação às questões
árabes. "A própria resolução da
ONU fala em potências ocupantes. É natural que ao visitar uma
determinada região o presidente
fale sobre assuntos relativos ao local", declarou Amorim.
No dia anterior, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e o ditador da Síria, Bashar al Assad, haviam divulgado um comunicado
conjunto no qual pediam o fim da
ocupação do Iraque. No mesmo
documento, falavam que o Iraque
deveria "escolher seu próprio governo", numa crítica indireta aos
Estados Unidos.
Eis o trecho do comunicado
conjunto que fala sobre o Iraque:
"Quanto à deterioração da situação do Iraque, os dois presidentes
enfatizaram a necessidade de dar
passos acelerados com vistas à
transferência do poder para o povo iraquiano, pôr fim à ocupação
e conceder às Nações Unidas um
papel fundamental para que o povo iraquiano possa exercer sua soberania, escolher seu próprio governo e garantir a integridade de
seu território".
Israel
Além disso, Lula fez uma defesa
aberta da devolução das colinas
do Golã para a Síria. Essa região é
ocupada por Israel desde 1967. O
Brasil historicamente vem defendendo a saída dos israelenses,
mas nunca um presidente esteve
na Síria dizendo isso de viva voz.
O rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, disse anteontem que Lula, por ser um líder estrangeiro, não poderia dar
uma opinião bem fundamentada
sobre a ocupação das colinas do
Golã por Israel. O rabino classificou a questão como "delicada".
"Não havia juízo de valor em relação à expressão ocupação para o
Iraque. A gente tem de falar o que
é do nosso interesse, e alguns assuntos aparecem aqui com maior
relevo", disse Amorim. "Numa
visita à Argentina certamente não
vai aparecer o assunto sobre território ocupados."
Amorim acha que o "principal
foco" da viagem de Lula ao mundo árabe é o comércio. "Não é a
política", declarou o ministro.
Na realidade, o presidente Lula
havia sido recomendado por várias pessoas a dar mais ênfase no
discurso político a favor das causas árabes na sua viagem. De
acordo com a estratégia, a idéia
era fazer Lula dizer pessoalmente
quais são as posições oficiais brasileiras para essa parte do planeta.
O objetivo seria aproximar o
país do mundo árabe com duas
possíveis consequências principais. Primeiro, conseguir apoio
para o Brasil obter uma vaga no
Conselho de Segurança da ONU.
O segundo item de interesse é a
intensificação do comércio.
Dirceu
O ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu, também saiu em defesa da declaração conjunta Brasil-Síria em relação ao Iraque.
"Acredito que o mundo todo,
até o governo dos Estados Unidos, sabe: nós precisamos transitar no Iraque para uma situação
de Constituição, com eleições, a
eleição de um governo iraquiano.
Não acredito nem que os EUA
queiram permanecer no Iraque .
Até porque já está provado pela
experiência dos meses anteriores
que é insustentável a ocupação de
um país pelo outro", afirmou o
ministro em Campinas (SP).
"A consciência da humanidade
não aceita. O direito internacional
não permite e o povo iraquiano já
mostrou que não quer [a ocupação do Iraque pelos EUA]. Acredito que a declaração conjunta expressa o sentimento que existe em
todo o mundo. Não vejo nada de
extraordinário", disse Dirceu.
(FERNANDO RODRIGUES)
Colaborou JULIA DUAILIBI, da
Reportagem Local
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