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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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VIAGEM AO ORIENTE

Chanceler defende termo usado em declaração conjunta Brasil-Síria sobre a ação dos EUA no Iraque

Amorim diz que Lula não muda discurso

DO ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, apresentou ontem uma cópia da resolução número 1.483, de 22 de maio passado, da ONU (Organização das Nações Unidas), na qual aparece a expressão "potências de ocupação", com referência a Estados Unidos e outros países que atuam no Iraque sob a coordenação norte-americana.
Para o ministro, não há um milímetro de mudança na posição brasileira em relação às questões árabes. "A própria resolução da ONU fala em potências ocupantes. É natural que ao visitar uma determinada região o presidente fale sobre assuntos relativos ao local", declarou Amorim.
No dia anterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ditador da Síria, Bashar al Assad, haviam divulgado um comunicado conjunto no qual pediam o fim da ocupação do Iraque. No mesmo documento, falavam que o Iraque deveria "escolher seu próprio governo", numa crítica indireta aos Estados Unidos.
Eis o trecho do comunicado conjunto que fala sobre o Iraque: "Quanto à deterioração da situação do Iraque, os dois presidentes enfatizaram a necessidade de dar passos acelerados com vistas à transferência do poder para o povo iraquiano, pôr fim à ocupação e conceder às Nações Unidas um papel fundamental para que o povo iraquiano possa exercer sua soberania, escolher seu próprio governo e garantir a integridade de seu território".

Israel
Além disso, Lula fez uma defesa aberta da devolução das colinas do Golã para a Síria. Essa região é ocupada por Israel desde 1967. O Brasil historicamente vem defendendo a saída dos israelenses, mas nunca um presidente esteve na Síria dizendo isso de viva voz.
O rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, disse anteontem que Lula, por ser um líder estrangeiro, não poderia dar uma opinião bem fundamentada sobre a ocupação das colinas do Golã por Israel. O rabino classificou a questão como "delicada".
"Não havia juízo de valor em relação à expressão ocupação para o Iraque. A gente tem de falar o que é do nosso interesse, e alguns assuntos aparecem aqui com maior relevo", disse Amorim. "Numa visita à Argentina certamente não vai aparecer o assunto sobre território ocupados."
Amorim acha que o "principal foco" da viagem de Lula ao mundo árabe é o comércio. "Não é a política", declarou o ministro.
Na realidade, o presidente Lula havia sido recomendado por várias pessoas a dar mais ênfase no discurso político a favor das causas árabes na sua viagem. De acordo com a estratégia, a idéia era fazer Lula dizer pessoalmente quais são as posições oficiais brasileiras para essa parte do planeta.
O objetivo seria aproximar o país do mundo árabe com duas possíveis consequências principais. Primeiro, conseguir apoio para o Brasil obter uma vaga no Conselho de Segurança da ONU. O segundo item de interesse é a intensificação do comércio.

Dirceu
O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, também saiu em defesa da declaração conjunta Brasil-Síria em relação ao Iraque.
"Acredito que o mundo todo, até o governo dos Estados Unidos, sabe: nós precisamos transitar no Iraque para uma situação de Constituição, com eleições, a eleição de um governo iraquiano. Não acredito nem que os EUA queiram permanecer no Iraque . Até porque já está provado pela experiência dos meses anteriores que é insustentável a ocupação de um país pelo outro", afirmou o ministro em Campinas (SP).
"A consciência da humanidade não aceita. O direito internacional não permite e o povo iraquiano já mostrou que não quer [a ocupação do Iraque pelos EUA]. Acredito que a declaração conjunta expressa o sentimento que existe em todo o mundo. Não vejo nada de extraordinário", disse Dirceu.
(FERNANDO RODRIGUES)


Colaborou JULIA DUAILIBI, da Reportagem Local


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