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Sequestro foi simulado, diz denúncia
DA REPORTAGEM LOCAL
Na denúncia oferecida ontem, a
Promotoria criminal de Santo
André acusou Sérgio Gomes da
Silva de "simular" e de "encenar"
o sequestro de Celso Daniel. Num
dos pontos mais misteriosos do
caso, sobre como a Pajero blindada em que estava o prefeito parou
e as portas foram destravadas, os
promotores culparam o empresário de propositalmente facilitar a
ação do grupo criminoso.
Após o assassinato, Gomes da
Silva, que apresentou pelo menos
três versões diferentes para explicar a cena do sequestro, disse que
não tinha condições de se lembrar
porque estava muito nervoso.
"Sérgio Gomes da Silva deliberadamente estancou marcha e
abriu a trava da porta do automóvel para que Celso, como previamente acertado com os demais
autores do crime, pudesse ser retirado e levado para a morte", sustenta a denúncia dos promotores.
O corpo do prefeito foi encontrado em uma estrada em Juquitiba (a 78 km de SP), no dia 20 de janeiro. Ele estava de bruços, atingido por sete tiros, com um hematoma na cabeça e com marcas de
queimadura nas costas. Segundo
laudo da necropsia, Daniel foi torturado antes de morrer.
Gomes da Silva foi denunciado
por homicídio qualificado, crime
considerado hediondo, com três
agravantes de pena. Segundo a
Promotoria, o empresário financiou o crime, tornou impossível
qualquer defesa da vítima e tentou ocultar a prática de outros crimes (suposta coleta de propina).
A Folha apurou que a Promotoria deverá pedir a prisão de Gomes da Silva. Os promotores não
confirmam a informação.
Foi denunciado também José
Erivan Aleixo da Silva, que teria
atuado como motorista no dia do
sequestro. Outros seis homens,
todos moradores da Favela Pantanal, permanecem presos em razão de suposto envolvimento na
morte de Daniel.
Preparação
Segundo a apuração do Ministério Público, Gomes da Silva elaborou um "engenhoso" plano de
ataque para planejar a morte de
Daniel e recorreu à colaboração
de um "amigo experiente", Dionízio de Aquino Severo que, na véspera do sequestro, fugiu da cadeia
de Guarulhos em um helicóptero.
A missão dele seria coordenar os
homens da favela Pantanal.
Em depoimento à polícia, Severo afirmou conhecer o empresário e já ter namorado a ex-mulher
dele, Adriana Pugliese.
A participação de Severo, que
morreu em julho deste ano no
Centro de Detenção Provisória, é
resgatada por Ailton Alves Feitosa, companheiro da fuga no helicóptero. Entre os dias 18 e 20 de
janeiro do ano passado, quando o
corpo de Daniel foi encontrado,
os dois estavam foragidos no
mesmo apartamento.
O preso afirmou ter ouvido, por
meio de Severo, que tudo estava
pronto para levar o "peixe grande". Afirmou ainda ter ouvido
que, no local do sequestro, haveria um empresário para facilitar a
ação. Uma bolsa da cor "entre
marrom a vinho" seria deixada
no banco de trás da Pajero supostamente para pagar parte do dinheiro dos sequestradores -o
valor total cogitado nas investigação é de cerca de R$ 500 mil.
"Severo falou sobre o sequestro
e a morte de Celso Daniel e a colaboração que o empresário iria
prestar na ação", afirmou Feitosa
em depoimento. Segundo ele, a
morte de Celso Daniel seria "queima de arquivo".
Com Severo, Gomes da Silva teria discutido o trajeto a ser percorrido e as armas que seriam utilizadas para não romper a blindagem do carro.
Dinâmica
Três carros, de acordo com a denúncia, participaram do sequestro do prefeito. O objetivo era impressionar pela violência da abordagem, para dar realidade à suposta simulação do crime. Para o
Ministério Público, o próprio empresário conversou com dos demais acusados sobre o local, o horário e a dinâmica do sequestro.
A Promotoria diz que o grupo
estabeleceu um ponto de encontro para avisar o início da operação. O ponto seria um cruzamento da avenida Abraão de Moraes
com a rua Palermo, na zona sul de
São Paulo. Isso "estava exata e estrategicamente acertado com Sérgio Gomes, que ali passaria, no
momento oportuno, para lhes dar
o sinal combinado".
Após passar por esse ponto, dizem os promotores, a Pajero de
Daniel passou a ser seguida pelos
três carros, que simularam uma
perseguição.
Para a Promotoria, o fato de Gomes da Silva, apontado como um
dos mandantes (outros são investigados), estar ao lado de Daniel
no momento do sequestro foi
uma estratégia. "O prefeito andava com segurança permanentemente. Só quando estava ao lado
de Sérgio, os seguranças eram dispensados, por isso seria mais fácil", afirmou o promotor criminal
Roberto Wider Filho.
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