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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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Sequestro foi simulado, diz denúncia

DA REPORTAGEM LOCAL

Na denúncia oferecida ontem, a Promotoria criminal de Santo André acusou Sérgio Gomes da Silva de "simular" e de "encenar" o sequestro de Celso Daniel. Num dos pontos mais misteriosos do caso, sobre como a Pajero blindada em que estava o prefeito parou e as portas foram destravadas, os promotores culparam o empresário de propositalmente facilitar a ação do grupo criminoso.
Após o assassinato, Gomes da Silva, que apresentou pelo menos três versões diferentes para explicar a cena do sequestro, disse que não tinha condições de se lembrar porque estava muito nervoso.
"Sérgio Gomes da Silva deliberadamente estancou marcha e abriu a trava da porta do automóvel para que Celso, como previamente acertado com os demais autores do crime, pudesse ser retirado e levado para a morte", sustenta a denúncia dos promotores.
O corpo do prefeito foi encontrado em uma estrada em Juquitiba (a 78 km de SP), no dia 20 de janeiro. Ele estava de bruços, atingido por sete tiros, com um hematoma na cabeça e com marcas de queimadura nas costas. Segundo laudo da necropsia, Daniel foi torturado antes de morrer.
Gomes da Silva foi denunciado por homicídio qualificado, crime considerado hediondo, com três agravantes de pena. Segundo a Promotoria, o empresário financiou o crime, tornou impossível qualquer defesa da vítima e tentou ocultar a prática de outros crimes (suposta coleta de propina).
A Folha apurou que a Promotoria deverá pedir a prisão de Gomes da Silva. Os promotores não confirmam a informação.
Foi denunciado também José Erivan Aleixo da Silva, que teria atuado como motorista no dia do sequestro. Outros seis homens, todos moradores da Favela Pantanal, permanecem presos em razão de suposto envolvimento na morte de Daniel.

Preparação
Segundo a apuração do Ministério Público, Gomes da Silva elaborou um "engenhoso" plano de ataque para planejar a morte de Daniel e recorreu à colaboração de um "amigo experiente", Dionízio de Aquino Severo que, na véspera do sequestro, fugiu da cadeia de Guarulhos em um helicóptero. A missão dele seria coordenar os homens da favela Pantanal.
Em depoimento à polícia, Severo afirmou conhecer o empresário e já ter namorado a ex-mulher dele, Adriana Pugliese.
A participação de Severo, que morreu em julho deste ano no Centro de Detenção Provisória, é resgatada por Ailton Alves Feitosa, companheiro da fuga no helicóptero. Entre os dias 18 e 20 de janeiro do ano passado, quando o corpo de Daniel foi encontrado, os dois estavam foragidos no mesmo apartamento.
O preso afirmou ter ouvido, por meio de Severo, que tudo estava pronto para levar o "peixe grande". Afirmou ainda ter ouvido que, no local do sequestro, haveria um empresário para facilitar a ação. Uma bolsa da cor "entre marrom a vinho" seria deixada no banco de trás da Pajero supostamente para pagar parte do dinheiro dos sequestradores -o valor total cogitado nas investigação é de cerca de R$ 500 mil.
"Severo falou sobre o sequestro e a morte de Celso Daniel e a colaboração que o empresário iria prestar na ação", afirmou Feitosa em depoimento. Segundo ele, a morte de Celso Daniel seria "queima de arquivo".
Com Severo, Gomes da Silva teria discutido o trajeto a ser percorrido e as armas que seriam utilizadas para não romper a blindagem do carro.

Dinâmica
Três carros, de acordo com a denúncia, participaram do sequestro do prefeito. O objetivo era impressionar pela violência da abordagem, para dar realidade à suposta simulação do crime. Para o Ministério Público, o próprio empresário conversou com dos demais acusados sobre o local, o horário e a dinâmica do sequestro.
A Promotoria diz que o grupo estabeleceu um ponto de encontro para avisar o início da operação. O ponto seria um cruzamento da avenida Abraão de Moraes com a rua Palermo, na zona sul de São Paulo. Isso "estava exata e estrategicamente acertado com Sérgio Gomes, que ali passaria, no momento oportuno, para lhes dar o sinal combinado".
Após passar por esse ponto, dizem os promotores, a Pajero de Daniel passou a ser seguida pelos três carros, que simularam uma perseguição.
Para a Promotoria, o fato de Gomes da Silva, apontado como um dos mandantes (outros são investigados), estar ao lado de Daniel no momento do sequestro foi uma estratégia. "O prefeito andava com segurança permanentemente. Só quando estava ao lado de Sérgio, os seguranças eram dispensados, por isso seria mais fácil", afirmou o promotor criminal Roberto Wider Filho.


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