São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2006

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PT lança Chinaglia, e Lula alerta aliados

Sob risco de desagregar base parlamentar do Planalto, partido faz do líder do governo seu candidato à presidência da Câmara

"Se do nosso lado nos dividirmos, o lado de lá pode se unificar", afirma presidente, que teve sua posição contrariada


Sérgio Lima/Folha Imagem
Os presidentes da Câmara, Aldo Rebelo, e do Senado, Renan Calheiros, participam no Congresso da assinatura de acordo para qualificação de funcionários públicos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A exemplo do que ocorreu em 2005, o PT decidiu correr o risco de desagregar a base parlamentar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e lançou ontem candidato próprio a presidente da Câmara, o líder do governo, Arlindo Chinaglia.
A decisão bate de frente com desejo expresso por Lula, que lamentou ontem, em conversas reservadas, a atitude da bancada. Em público, ele cobrou unidade dos governistas.
O PT fez um lançamento sem contornos de confronto, apresentando o nome de Chinaglia para a construção de uma candidatura única da base. Em tese, o partido pode recuar mais à frente. A eleição será em 1º de fevereiro. O gesto deve estimular outras legendas, como o PMDB, a lançar seus próprios candidatos. O PR e o PP, dois partidos com grande influência na Casa, sonham repetir a façanha de Severino Cavalcanti (PP-PE), em 2005, e também podem lançar candidatos.
"Neste momento, não posso ser pessimista. Vamos trabalhar para termos uma única candidatura", disse Chinaglia.
Em conversas reservadas, Lula voltou ontem a citar a eleição de 2005, quando o PT lançou dois candidatos, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG), e teve de assistir à vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE).
Na avaliação do presidente, que tem defendido a manutenção de Aldo Rebelo (PC do B-SP) no cargo, a base aliada deveria ter discutido um nome de consenso antes de lançá-los um a um. Ele disse a interlocutores que vê com ceticismo a possibilidade de um acordo em torno de um único nome.
Lula falou sobre o assunto à noite: "Eu acho que [a disputa] terá vários candidatos até determinado momento. Depois será possível perceber que, se do nosso lado nos dividirmos, o lado de lá pode se unificar."

Terceira vez
Chinaglia se reuniu pela manhã com a direção do PT. O líder do governo argumentou que tinha apoio maciço entre os deputados atuais e os eleitos, e o compromisso verbal dos líderes do PTB, PR e PP. À direção do PT, Chinaglia disse que não queria o confronto com Aldo e que aceitava a tese de que seu nome precisa ser "construído".
É a terceira vez que Chinaglia lança sua candidatura. Em 2005, ele era visto como franco favorito, mas acabou perdendo a indicação do PT para Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), que viria a perder para Severino. Sete meses depois, após a renúncia de Severino, ele novamente apresentou sua candidatura, mas teve de abrir mão para Aldo por pressão do Planalto. Ontem, em reunião da bancada do PT, ele foi aclamado.
Segundo o presidente interino do partido, Marco Aurélio Garcia, o PT "não é intransigente": "É óbvio que estaremos abertos a outras alternativas. Mas o nome [de Chinaglia] não é para cumprimentar a platéia. É um nome para valer", disse.
Em uma referência indireta à eleição de Severino, Garcia, que inicialmente combateu a idéia e depois teve de ceder, disse que o fiasco de dois anos atrás não se repetirá. Em entrevista após o lançamento de seu nome, Chinaglia disse que é favorável ao aumento do salário dos deputados, mas "dentro de um limite e levando em conta a realidade nacional". Ele deu a entender que aprova a reposição da inflação dos últimos quatro anos, de cerca de 30%.
O petista negou ainda que esteja sendo patrocinado pelo ex-ministro José Dirceu em sua candidatura, mas admitiu que colocaria em votação um eventual projeto de iniciativa popular pedindo sua anistia -Dirceu foi cassado no ano passado, após a crise do mensalão: "Qual é o presidente da Câmara que não colocaria em votação?", perguntou. (FÁBIO ZANINI, LETÍCIA SANDER, EDUARDO SCOLESE E PEDRO DIAS LEITE)


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